A sentença que torna Donald Trump o primeiro presidente condenado criminalmente a reassumir a Casa Branca é mais um símbolo do colapso moral do sistema político e jurídico dos Estados Unidos.
Nesta sexta (10), a dez dias de tomar posse para um segundo mandato, o republicano foi sentenciado no caso envolvendo o pagamento de US$130 mil (cerca de R$ 415 mil na cotação da época) para silenciar a ex-atriz pornô Stormy Daniels, durante a campanha presidencial de 2016.
Apesar da condenação em 34 acusações de fraude contábil, Trump não enfrentará prisão, multa ou qualquer outro tipo de punição.
O juiz Juan Merchan, do tribunal estadual de Nova York, determinou uma “dispensa incondicional” para Trump, preservando o veredito do júri que o considerou culpado, mas evitando que a sentença interfira nas suas funções presidenciais. Essa decisão ressalta como o sistema norte-americano está estruturado para proteger as elites políticas e econômicas, mesmo diante de crimes evidentes.
A decisão de Merchan se baseou na interpretação da Suprema Corte, que concede imunidade presidencial para garantir que um presidente possa exercer suas funções sem “intromissões”.
“Este tribunal determinou que a única sentença viável seria a dispensa incondicional, para evitar uma invação no mais alto cargo do país”, afirmou o juiz durante a audiência. Ainda assim, ele destacou que a proteção do cargo não diminui a gravidade dos crimes.
Trump utilizou a decisão para reiterar sua narrativa de perseguição política, caracterizando o julgamento como uma “caça às bruxas” promovida por seus adversários democratas. Em sua rede social Truth Social, declarou: “Os radicais democratas somaram mais uma derrota patética. Não há caso, nunca houve caso, e essa farsa merece ser totalmente anulada.”
O que a condenação representa
Embora simbólica, a condenação marca um momento histórico: Donald Trump se torna o primeiro presidente dos Estados Unidos a assumir o cargo como um criminoso condenado. As ações do republicano, no entanto, estão longe de ser um desvio isolado. O caso reflete o aprofundamento da crise moral do capitalismo norte-americano, onde a elite utiliza o sistema judicial para preservar seus interesses e neutralizar a responsabilidade por seus crimes.
As fraudes contábeis que levaram à condenação de Trump foram realizadas para ocultar pagamentos destinados a proteger sua imagem pública durante a campanha de 2016. Apesar de ser um crime passível de até quatro anos de prisão, a posição privilegiada de Trump e o fato de ter reassumido a presidência evitaram qualquer pena mais severa.
Críticas internacionais e parálelo com outros governos autoritários
O caso Trump expõe não apenas as falhas do sistema político dos EUA, mas também serve de alerta para a ascensão de líderes populistas e autoritários em todo o mundo. A permanência de Trump no poder, mesmo após múltiplas acusações de condutas ilegais, evidencia como a extrema direita manipula a estrutura democrática para consolidar sua posição.
Em um contexto de crise internacional, o retorno de Trump à Casa Branca é também um sinal de alerta para os movimentos democráticos e populares que enfrentam o conservadorismo e a extrema direita. A sentença branda é um exemplo de como o sistema capitalista protege aqueles que representam seus interesses, enquanto endurece contra a classe trabalhadora e movimentos progressistas.