Vacinas contra covid-19 — Foto: GETTY IMAGES via BBC

A decisão do governo de Donald Trump de encerrar o financiamento a pesquisas com vacinas de RNA mensageiro (mRNA) gerou reação imediata de especialistas em saúde pública e pesquisadores de várias áreas. A medida, anunciada como parte de uma mudança de foco para vacinas de vírus inativado, é vista como um retrocesso científico que pode atrasar avanços no combate a doenças como câncer, HIV, Zika e no preparo para futuras pandemias. Com informações do g1.

O método de vírus inativado, usado em imunizantes como os da febre amarela e poliomielite, é mais barato e fácil de armazenar, mas apresenta resposta imunológica mais fraca e exige reforços frequentes. Além disso, não é indicado para imunodeprimidos, idosos e gestantes, segundo o infectologista Jean Gorinchteyn. As vacinas mRNA, por outro lado, não contêm o vírus e usam uma sequência de RNA para instruir o organismo a produzir proteínas que estimulam o sistema imunológico de forma segura.

A infectologista Luana Araújo destacou que a tecnologia mRNA permite personalização de tratamentos, inclusive contra o câncer, e é mais segura para grupos vulneráveis. O oncologista Fernando de Moura acrescenta que essas vacinas possibilitam respostas rápidas a emergências sanitárias, como ocorreu durante a pandemia de covid-19, quando imunizantes da Pfizer e Moderna ajudaram a reduzir hospitalizações e mortes em tempo recorde.

Mais de 120 estudos clínicos com vacinas mRNA contra câncer estão em andamento, segundo Stephen Stefani, da Oncoclínicas. Essas pesquisas buscam tratar tumores como melanoma, câncer de pulmão e de pâncreas por meio de imunização personalizada após o diagnóstico. Interrupções por falta de financiamento, alertam especialistas, podem afetar diretamente pacientes que já não respondem a terapias convencionais.

Donald Trump, presidente dos EUA. Foto: reprodução

Além do impacto direto nas pesquisas, cientistas temem que a medida fortaleça o movimento antivacina nos EUA. Luana Araújo classificou a decisão como “criminosa” do ponto de vista sanitário, enquanto Stefani afirmou que hesitação vacinal vinda de um líder de Estado tem potencial de ampliar a desinformação e afastar investidores.

Agências reguladoras como a FDA e organismos internacionais como a OMS já confirmaram a segurança das vacinas mRNA, e estudos revisados por pares não encontraram evidências de riscos graves associados à tecnologia. Moura reforça que as alegações de instabilidade ou insegurança são infundadas.

O corte também abre espaço para que países como China, Índia e Brasil avancem em suas próprias plataformas de mRNA, embora especialistas alertem que esse processo exija tempo e infraestrutura. Para Gorinchteyn, trata-se de um momento de risco para a ciência global, mas também de oportunidade para novas lideranças tecnológicas.

Ainda não está claro se a medida suspenderá apenas novos projetos ou se interromperá estudos em andamento. Pesquisadores alertam que, se financiamentos forem cortados de forma imediata, pacientes em tratamento poderão ter terapias interrompidas, comprometendo resultados e aumentando o sofrimento.

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Last Update: 10/08/2025