O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta terça-feira (2) que ataques contra alvos “dentro da Venezuela” começarão “em breve”, segundo a emissora norte-americana CNN. A afirmação foi feita durante reunião de gabinete, no momento em que Washington amplia sua presença militar no Caribe e intensifica ações armadas sob o pretexto do combate ao narcotráfico.
“Vamos começar a fazer esses ataques também em terra”, disse Trump, acrescentando: “sabemos onde eles moram. Sabemos onde os maus moram, e vamos começar isso muito em breve”. Paralelamente, afirmou que qualquer país supostamente ligado à venda de drogas aos EUA poderá ser atacado.
As declarações marcam nova etapa na escalada da pressão norte-americana contra a Venezuela, que já registra mais de 20 ataques a embarcações classificados por Washington como parte da Operação Lança do Sul. De acordo com relatos oficiais, ao menos 83 pessoas foram assassinadas nessas ações.
Ultimato a Maduro
Segundo a imprensa imperialista, Trump teria dado um ultimato ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, durante telefonema na semana passada. O New York Times informou que o norte-americano exigiu que o chefe de Estado deixasse o país “imediatamente”. Trump confirmou a ligação, mas se limitou a dizer: “não diria que correu bem nem mal”.
Segundo o Miami Herald, o recado transmitido por assessores teria sido direto: Maduro e sua família poderiam sair do país se o fizessem de forma imediata. A proposta visava impor um governo pró-imperialista em Caracas.
O ultimato teria expirado na sexta-feira (28). No dia seguinte, Trump declarou em sua rede Truth Social que o espaço aéreo venezuelano deveria ser tratado como “completamente fechado”, repetindo orientação da Administração Federal de Aviação (FAA) para que companhias aéreas evitassem sobrevoar o país devido ao “agravamento da situação de segurança”.
Mobilização militar
A tensão no Caribe aumentou no final de outubro, quando Trump revelou ter autorizado a CIA a realizar operações secretas dentro da Venezuela. O Pentágono, segundo a CBS News, apresentou ao presidente opções de ataques, incluindo ofensivas contra pistas de pouso e outras instalações militares sob a justificativa de supostos vínculos de setores das Forças Armadas com o narcotráfico.
Os EUA afirmam que Maduro lideraria o “Cartel de los Soles” e oferecem US$50 milhões por informações que levem à sua captura. Trump chegou a acusar o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de ser “líder do tráfico de drogas” e “bandido”. Ao mesmo tempo, prosseguem os ataques a barcos classificados pelo governo norte-americano como pertencentes a organizações designadas como “terroristas”.
Atualmente, a região conta com porta-aviões, destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6.500 soldados norte-americanos. A ONU já classificou operações semelhantes como “execuções extrajudiciais”.
ONU contradiz justificativa dos EUA
O pretexto norte-americano de “combate às drogas” é fragilizado pelo Relatório Mundial sobre Drogas de 2025, da Organização das Nações Unidas (ONU). O documento aponta que:
- o fentanil consumido nos EUA tem origem majoritária no México;
- a Venezuela não participa de maneira significativa da produção ou do contrabando do opioide;
- as drogas mais consumidas no país, como a cocaína, usada por cerca de 2% da população, vêm principalmente de Colômbia, Bolívia e Peru.
Casa Branca justifica assassinatos
Nesta segunda-feira (1º), a Casa Branca defendeu um almirante que comandou uma série de ataques em setembro contra barco vindo da Venezuela. A porta-voz Karoline Leavitt afirmou que o secretário de Guerra, Pete Hegseth, autorizou os ataques “cinéticos” e que a operação ocorreu em “legítima defesa” em águas internacionais.
A justificativa foi dada após o Washington Post revelar que Hegseth teria ordenado uma segunda ofensiva para matar dois sobreviventes do primeiro bombardeio. Trump disse que não solicitou essa ação e que o secretário negou ter dado a ordem.
Na rede X, Hegseth chamou o almirante Bradley de “herói norte-americano” e declarou manter apoio total. Desde setembro, ao menos 19 ataques desse tipo deixaram 76 assassinados, segundo a Reuters.