A União Europeia recebeu com espanto e indignação o anúncio unilateral do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas drásticas de 30% sobre todos os produtos europeus. A medida, anunciada neste sábado (12), representa uma das mais severas escaladas protecionistas contra o bloco desde o início do mandato republicano.
A representante da União Europeia, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, não tardou em responder às ameaças americanas com firmeza. “Tomaremos todas as medidas necessárias para salvaguardar os interesses da União Europeia, incluindo a adoção de contramedidas proporcionais, se necessário”, declarou Von der Leyen em comunicado oficial.
Produtos europeus na mira
As tarifas de 30% atingirão diretamente os principais produtos que a Europa exporta para os Estados Unidos, representando um volume comercial de 584 bilhões de euros em 2024. Entre os setores mais afetados estão:
Produtos medicinais e farmacêuticos – o principal item de exportação europeu para os EUA, responsável por 22,5% do total exportado. Automóveis e veículos a motor – setor que representa 9,6% das exportações europeias. Vinhos e bebidas espirituosas – produtos tradicionais europeus que enfrentarão forte concorrência de preços no mercado americano. Cerveja, chocolate, queijos e azeite – itens que compõem a cesta de produtos alimentares europeus. Preparações de frutos e produtos hortícolas – setor agroindustrial que pode perder competitividade.
A Alemanha, maior exportador europeu para os EUA com 157 bilhões de euros em 2023, será o país mais impactado, seguida pela Itália (67 bilhões de euros) e Irlanda (51 bilhões de euros).
Promessa de retaliação
Von der Leyen alertou que a União Europeia não aceitará passivamente as medidas protecionistas americanas e prometeu retaliar caso as tarifas entrem em vigor. A líder europeia ressaltou que uma taxa de 30% sobre produtos europeus interromperia as cadeias de suprimentos transatlânticas essenciais, construídas ao longo de décadas de cooperação comercial.
O bloco europeu tem histórico de resposta a medidas similares. Durante o primeiro mandato de Trump, quando foram impostas tarifas de 25% sobre aço e 10% sobre alumínio, a UE respondeu com tarifas de 2,8 bilhões de euros sobre produtos americanos.
Fluxo comercial bilateral
O comércio entre UE e EUA movimenta valores expressivos em ambas as direções. Em 2024, enquanto os Estados Unidos importaram 584 bilhões de euros em bens europeus, exportaram 357 bilhões de euros para o bloco. Os principais produtos americanos que chegam à Europa incluem petróleo bruto, produtos farmacêuticos, aeronaves, automóveis e equipamentos médicos.
Os Países Baixos lideram as importações europeias dos EUA (76 bilhões de euros), seguidos pela Alemanha (71 bilhões de euros) e França (43 bilhões de euros). Estes países podem ser alvos preferenciais de eventual retaliação europeia.
Tarifas globais de Trump
A União Europeia não está sozinha na mira protecionista de Trump. O presidente americano estabeleceu um sistema escalonado de tarifas que atinge 25 países, com o Brasil recebendo a maior punição: 50%.
México também enfrenta tarifas de 30%, igualando-se à União Europeia na lista de alvos prioritários. Outros países asiáticos receberam tarifas significativas: Laos e Myanmar (40%), Camboja e Tailândia (36%), Bangladesh (35%).
Parceiros tradicionais dos EUA não foram poupados. Canadá enfrenta tarifas de 35%, enquanto Japão e Coreia do Sul terão 25% de sobretaxa. Mesmo as Filipinas, aliado histórico americano no Pacífico, receberam tarifas de 20%.
Prazo e ultimato
Trump estabeleceu prazo até 1º de agosto para que a União Europeia permita “acesso total e aberto ao mercado dos Estados Unidos sem que nenhuma tarifa seja cobrada”. Segundo o republicano, o bloco teve anos para discutir os déficits comerciais americanos, justificando a nova taxação caso não haja acordo.
A decisão reflete a estratégia comercial agressiva da administração Trump, que utiliza tarifas como instrumento de pressão para renegociar acordos considerados desfavoráveis aos Estados Unidos. O crescimento de 44% nas exportações europeias para os EUA entre 2014 e 2024 é visto pela Casa Branca como evidência de desequilíbrio comercial.
Busca por solução
Apesar da retórica dura, Von der Leyen indicou que a União Europeia mantém a porta aberta para negociações. A presidente da Comissão Europeia afirmou que o bloco tem priorizado uma solução rápida e continuará trabalhando para um consenso até a data estipulada.
Esta postura reflete o interesse europeu em evitar uma guerra comercial que poderia prejudicar ambas as economias, especialmente considerando que as exportações da UE para os EUA registraram crescimento constante na última década.
O confronto comercial entre Washington e Bruxelas pode ter repercussões globais, influenciando dinâmicas comerciais mundiais e forçando outros parceiros a escolher lados nesta disputa econômica. A resolução deste impasse nas próximas semanas será crucial para determinar o futuro das relações comerciais transatlânticas.