Em resposta a ataques contra o STF, Lula diz que o povo é o único dono do Brasil e responde pressões do Ocidente com discurso firme


A cúpula do BRICS no Rio de Janeiro transformou-se num palco de confronto geopolítico nesta segunda-feira (7), quando os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cyril Ramaphosa travaram um duelo diplomático contra as investidas do mandatário americano Donald Trump. A crise eclodiu ao amanhecer, quando Trump usou sua rede social Truth Social para atacar o Judiciário brasileiro ao defender Jair Bolsonaro e, em seguida, ameaçar todo o bloco emergente com tarifas punitivas de 10% por supostas “políticas anti-americanas”.

Sob a chuva fina que cobria o centro de convenções, Lula reagiu primeiro. Num comunicado oficial de tom cortante, o presidente brasileiro disparou: “Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas. Ninguém está acima da lei – sobretudo os que atentam contra a democracia”. A resposta era direta ao post de Trump, que classificara as investigações sobre o 8 de janeiro como “caça às bruxas” e implorara para que o ex-presidente fosse “deixado em paz”.

Horas depois, durante coletiva na zona portuária, Lula evitou nomear o colega norte-americano, mas sua mensagem ecoou nos corredores do Pavilhão 5: “Não vou gastar saliva com Trump e Bolsonaro. Temos prioridades como o combate à fome”. Quando pressionado por jornalistas estrangeiros, endureceu o tom: “Este país tem dono: chama-se povo brasileiro. Sugiro cuidarem de suas vidas, não da nossa”.

O contra-ataque sul-africano

Enquanto as palavras de Lula ainda ressoavam, Cyril Ramaphosa subiu ao pódium com olhos faiscantes. O rand sul-africano despencara 3.2% após as ameaças comerciais de Trump, e o presidente não disfarçava a irritação: “É decepcionante que queiram punir o BRICS por construir alternativas”, disparou, antes de cravar a frase que dominaria as manchetes globais: “Não pode ser que a força prevaleça sobre o direito. Retaliações contra quem busca autonomia são inaceitáveis”.

Seu discurso ecoava o comunicado final do bloco – um documento de 12 páginas que condenava “tarifas unilaterais” e ataques aéreos contra o Irã, sem citar nominalmente EUA ou Israel. “O surgimento de múltiplos centros de poder deve ser celebrado, não criminalizado”, insistiu Ramaphosa, enquanto assessores sussurravam sobre reuniões de emergência do G20.

Xadrez geopolítico

Nos bastidores, analistas do Itamaraty decifravam as jogadas. As ameaças de Trump coincidiam com avanços do BRICS no uso de moedas locais em transações, iniciativa que ameaçava a hegemonia do dólar. Já sua defesa de Bolsonaro atendia a pressões de aliados como Eduardo Bolsonaro, que nos últimos meses buscou apoio no Congresso americano para sanções contra ministros do STF.

O próprio Bolsonaro reagiu nas redes: “Trump é farol na escuridão autoritária”, postou o ex-presidente, que enfrenta processos que somam 30 anos de prisão. No plano estadual, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas endossou: “O voto é o único juiz legítimo”.

A estratégia do silêncio

Enquanto Ramaphosa assumia o papel de porta-voz do contra-ataque, Lula adotava postura distinta. Durante as sessões finais da cúpula, concentrou-se em debates sobre o Novo Banco de Desenvolvimento e cooperação em inteligência artificial. “Temos temas prioritários”, repetia aos jornalistas, embora fontes próximas revelassem que monitorava cada movimento de Trump em telas laterais.

A divisão de tarefas revelava cálculo preciso: Ramaphosa como artilheiro político, Lula como arquiteto da unidade multipolar. “Não recuaremos um milímetro na defesa da soberania”, resumiu o brasileiro no encerramento, antes de deixar cair a frase definitiva: “Aqui manda o povo brasileiro. Ponto final”.

As ameaças comerciais encontraram eco em mercados emergentes. Além do rand sul-africano, as bolsas de Xangai e Bombaim registraram quedas, enquanto o Banco Central russo anunciava “medidas preventivas”. Para o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, presente no Rio como observador, “Trump subestima o peso do bloco: 49% da população mundial e 39% do PIB global não se dobrarão a ultimatos”.

Com informações de Reuters e Financial Times*

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Last Update: 07/07/2025