O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (25) a demissão de Lisa Cook, diretora do Federal Reserve (Fed, banco central americano). O afastamento, divulgado nas redes sociais e formalizado em carta enviada à economista, foi justificado por supostas fraudes hipotecárias.

A medida, no entanto, foi imediatamente contestada por Cook, que afirmou não reconhecer a decisão do presidente. “Não vou renunciar. Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022”, declarou em nota divulgada por meio de seu advogado.

Segundo a defesa, “não há motivo legal” para a demissão e todas as medidas jurídicas cabíveis serão adotadas para barrar o afastamento, classificado como ilegal e sem precedentes.

O próprio Federal Reserve indicou nesta terça-feira (26) que, até decisão judicial em contrário, o status de Cook como diretora permanece inalterado.

As acusações de Trump

Na carta enviada a Cook, Trump afirmou que utilizou o dispositivo da lei de criação do Federal Reserve que permite a demissão de membros do conselho “por justa causa”. Ele alegou que a economista teria declarado duas residências como principais para obter condições de financiamento mais vantajosas, o que configuraria fraude.

“À luz de sua conduta enganosa e potencialmente criminosa em um assunto financeiro, eles não podem — e eu não posso — ter tal confiança em sua integridade”, escreveu Trump.

O caso foi encaminhado ao Departamento de Justiça para investigação.

Cook reage: “Não há justa causa”

Em resposta, Lisa Cook disse ter tomado conhecimento das acusações pela mídia e garantiu que vai apresentar documentos para esclarecer seu histórico financeiro.

“O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo”, afirmou.

O problema da independência do banco central

A disputa deve seguir para os tribunais, que terão de avaliar se o presidente tem autoridade para remover uma diretora do Fed sem comprovação de falta grave.

Caso a decisão seja validada, Trump poderá abrir espaço para indicar nomes mais alinhados à sua agenda econômica — especialmente num momento em que tenta pressionar o banco central a reduzir juros em meio às incertezas provocadas por sua própria política comercial.

A iniciativa de Trump é considerada um ataque sem precedentes à independência do Fed, uma das instituições mais poderosas da economia global. Criado para atuar com autonomia em relação ao governo, o banco central americano tem seus diretores nomeados para mandatos longos, justamente para blindar suas decisões das pressões do Executivo.

Trump, que já vinha atacando o presidente do Fed, Jerome Powell — a quem chamou de “burro” e “teimoso” —, pressiona a instituição a cortar os juros. Na sua visão, as taxas deveriam estar “dois ou três pontos abaixo” do nível atual.

A tentativa de intervir na composição do conselho ameaça a credibilidade da política monetária dos EUA e pode desestabilizar os mercados financeiros.

Quem é Lisa Cook

Indicada em 2022 pelo então presidente Joe Biden, Lisa Cook fez história ao se tornar a primeira mulher negra no Conselho de Governadores do Fed. Economista formada em Berkeley e Oxford, lecionou na Universidade Estadual de Michigan e atuou no governo de Barack Obama.

Com mandato até 2038, Cook se destacou por pesquisas sobre desigualdade e desenvolvimento, além de sua participação em debates sobre estabilidade financeira.

Lula x Campos Neto

No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também fez duras críticas ao ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, motivadas pela elevada taxa básica de juros, mas não chegou nem perto de uma investida oficial contra o BC.

A autonomia do BC foi sancionada em 2021 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, após aprovação no Congresso Nacional. A lei estabeleceu mandatos de quatro anos para o presidente e os diretores do BC, não coincidentes com o mandato presidencial.

Com isso, o Executivo perdeu a capacidade de comandar a política monetária, que passou ao controle do sistema financeiro, que pressiona por taxas de juros elevadas e lucrativas para aplicadores. A falta deste alinhamento com a macroeconomia elaborada pelo Ministério da Fazenda favorece o endividamento público e a lucratividade do sistema financeiro em detrimento das políticas sociais do governo federal.

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Last Update: 26/08/2025