Em discurso explosivo, Trump exige produção local de iPhones e ameaça impor tarifas de até 50% sobre produtos da Europa
O presidente dos EUA, Donald Trump, intensificou suas ameaças comerciais nesta sexta-feira (23), direcionando-as tanto à gigante de smartphones Apple (AAPL.O) quanto a importações de toda a União Europeia, provocando volatilidade no mercado global após semanas de trégua que haviam trazido algum alívio. Trump ameaçou impor uma tarifa de 25% sobre a Apple por qualquer iPhone vendido, mas não fabricado, nos Estados Unidos.
Mais de 60 milhões de telefones são vendidos anualmente no país, mas os EUA não possuem fabricação de smartphones. Ele também afirmou que recomendará uma tarifa de 50% sobre a União Europeia a partir de 1º de junho, o que resultaria em pesados impostos sobre itens de luxo, produtos farmacêuticos e outros bens produzidos por fabricantes europeus.
Mercados reagem negativamente
As bolsas caíram com a notícia. Os futuros do S&P 500 perderam 1,5% no pré-mercado, e o Eurostoxx 600 recuou 2%. As ações da Apple caíram 3,5% no pré-mercado, acompanhadas por outras líderes do setor de tecnologia. Trump não deu um prazo para seu aviso à Apple.
“Todo o otimismo em relação aos acordos comerciais foi eliminado em minutos — até em segundos”, escreveu Fawad Razaqzada, analista da City Index e FOREX.com, em uma nota.
Trump já havia agitado os mercados no início de abril ao impor tarifas a quase todos os países do mundo, incluindo uma taxa de cerca de 145% sobre produtos importados da China. Os investidores reagiram vendendo ativos americanos, questionando o status de “porto seguro” que os EUA sempre tiveram. Embora os mercados tenham se recuperado, a confiança de empresas e consumidores nos EUA despencou.
A reação negativa forçou a Casa Branca a suspender a maioria das tarifas até o início de julho, mantendo apenas um imposto de 10% sobre importações de outros países. No entanto, Trump deixou em aberto a possibilidade de reintroduzir algumas taxas — e as declarações desta sexta-feira põem fim à trégua.
Ameaça direta à Apple
“Há muito tempo informei Tim Cook, da Apple, que espero que os iPhones vendidos nos EUA sejam fabricados no país, não na Índia ou em qualquer outro lugar”, disse Trump em uma publicação no Truth Social. “Caso contrário, a Apple deverá pagar ao menos 25% de tarifa aos EUA.”
A Casa Branca vem negociando com vários países sobre questões comerciais, mas o progresso tem sido irregular. Líderes financeiros do G7 (grupo das sete maiores economias industrializadas) tentaram minimizar os conflitos em um fórum nas Montanhas Rochosas canadenses nesta semana.
A Comissão Europeia se recusou a comentar a recomendação de Trump sobre a tarifa de 50%, afirmando que aguardará uma ligação entre o chefe de comércio da UE, Maroš Šefčovič, e seu homólogo americano, Jamieson Greer, marcada para as 15h (horário de Greenwich).
Ações de montadoras e empresas de luxo alemãs — algumas das mais expostas a tarifas — caíram. Porsche, Mercedes (MBGn.DE) e BMW (BMWG.DE) recuaram mais de 4% às 12h20 (horário de Greenwich). A fabricante de óculos EssilorLuxottica (ESLX.PA) caiu 5,5%.
Dúvidas sobre a tarifa direcionada à Apple
Não está claro se Trump pode impor uma tarifa a uma empresa individual. A Apple não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Reuters.
Após as tarifas sobre a China ultrapassarem 100% em abril, a Casa Branca recuou devido ao tumulto nos mercados, isentando smartphones e outros eletrônicos — majoritariamente importados da China — de impostos altos, beneficiando a Apple e outras empresas de tecnologia que dependem de produtos importados.
Apple acelera planos na Índia
Uma fonte disse à Reuters que a Apple planeja fabricar a maioria dos iPhones vendidos nos EUA na Índia até o final de 2026, acelerando os planos para contornar tarifas potencialmente mais altas na China, sua principal base de produção. A empresa está posicionando a Índia como alternativa após as tarifas de Trump à China, que geraram preocupações sobre a cadeia de suprimentos e possíveis aumentos nos preços do iPhone.
Trump e outros, incluindo o secretário de Comércio, Howard Lutnick, sugeriram que a Apple poderia fabricar iPhones nos EUA. Em fevereiro, a Apple anunciou um investimento de US$ 500 bilhões em quatro anos para expandir contratações e instalações em nove estados americanos, mas não mencionou a produção de iPhones no país.
A fabricante do iPhone afirmou que a maioria de seus smartphones vendidos nos EUA no trimestre de junho virá da Índia.