A retórica agressiva e reacionária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gera debates sobre sua veracidade e impacto. Muitos se perguntam o quanto tem de bravata e se há força para ele fazer o que diz. Um setor acredita que o fascismo já teria se instalado, enquanto embelezam o governo Biden. Esquecem-se que, sob a fachada de progressista, ele foi um governo capitalista e sionista que fez jus a todo imperialismo estadunidense com suas agressões, espoliações e violência contra os povos. Outros veem Trump como mais do mesmo, naturalizando um projeto de governo profundamente autoritário e imperialista.

Trump expressa a decadência do sistema capitalista, do imperialismo e dos EUA. Inclusive o próprio slogan MAGA (Make America Great Again, ou faça a América grande novamente, em tradução livre) é expressão do processo de decadência dos EUA. Não há como comentar todas as extensas medidas econômicas de Trump, mas o fio condutor da sua política é tentar reverter a visível decadência da economia dos EUA, que nunca teve sua hegemonia tão desafiada desde o pós-guerra. A receita para tentar reverter essa dinâmica é o ataque aos trabalhadores e aos demais países, submetendo todos aos interesses dos monopólios capitalistas estadunidenses.

O governo de extrema direita e dos bilionários contra os trabalhadores

O projeto de Trump visa aprofundar a exploração e a opressão capitalistas por diversos meios. É o governo extremado dos bilionários capitalistas. Une os setores mais atrasados da burguesia, como as petrolíferas, com os mais modernos das big techs, com a benção da bolsa de valores e do mercado financeiro.

O novo governo Trump tem um lastro maior na burguesia em comparação ao seu primeiro mandato. Não à toa estiveram presentes na posse todos os CEOs das big techs. A conversão ao trumpismo de figuras como Mark Zuckerberg e Elon Musk, antes aliados dos Democratas, mostra a hipocrisia de uma burguesia que se adapta a qualquer governo reacionário conforme a necessidade dos seus lucros.

Contudo, segue a tônica de uma profunda divisão entre a burguesia dos EUA. Com tensionamentos também internos entre os trumpistas, como vimos na rusga entre Elon Musk e Sam Altman sobre inteligência artificial (IA) ou nos xingamentos de Bannon contra Musk. Embora essas disputas possam gerar crises na ultradireita, o que une todos estes setores é a disposição de atacar os direitos dos trabalhadores e de países mais pobres em nome dos lucros das grandes corporações, formatando o mundo segundo os interesses dos monopólios capitalistas dos EUA.

Trump liberta golpistas e tensiona o regime

Trump reúne atrás de si as forças mais retrógradas, como supremacistas brancos, tradicionalistas, anarcocapitalistas, neoconservadores, fundamentalistas religiosos e neoliberais radicais. Seu primeiro ato após assumir foi perdoar mais de 1.500 militantes golpistas de extrema direita envolvidos no ataque ao Capitólio em 2021.

As nomeações do governo, seus discursos e medidas, apontam que ele vai mexer no que chamam de “Estado profundo” como uma forma de tensionar o regime e adaptar as instituições de Estado sem contrapesos ao projeto da ultradireita. Além disso, tem como objetivo derrotar a luta dos setores oprimidos que vem crescendo nos últimos anos.

Ataques contra LGBTs, mulheres e negros

Trump acabou com os programas de diversidade e inclusão. Anunciou que apenas dois gêneros devem ser reconhecidos legalmente, limitou as cirurgias de redesignação e tenta desmantelar direitos reprodutivos. Em relação a negros e latinos, a política é aumentar a violência policial, o encarceramento em massa e a deportação.

Ultraliberalismo expansionista e protecionismo nacionalista

O novo governo defende ultraliberalismo com protecionismo. Defende a abertura do mercado global para os EUA, mas impõe barreiras comerciais contra outros países, com tarifas e medidas protecionistas. Defende cortes drásticos nos gastos públicos. Enquanto isso, Musk, responsável pelo departamento de cortes de despesas públicas (DOGE), recebe bilhões em contratos públicos da Nasa com a SpaceX. Enquanto bilionários ganham o pote de ouro, o governo elimina as poucas proteções sociais existentes nos EUA, como programas de saúde, endurecendo a vida dos trabalhadores.

Trump promove a desregulamentação completa das atividades dos monopólios capitalistas como a IA. Libertou Ross Ulbricht, criador de um mercado de drogas e crimes online, e segue promovendo as criptomoedas. Retirou os EUA do acordo de Paris; o que já era insuficiente para conter as emissões de carbono e as alterações climáticas, agora tem tudo para se transformar em tragédia com o governo liberando geral a exploração do petróleo no ártico. Seu negacionismo climático impulsionará a degradação do planeta em nome do lucro das grandes corporações petrolíferas.

Trump combina nacionalismo com um imperialismo mais expansionista. Em nome de tornar os EUA “grandes novamente”, defende expansão territorial, conquista e pilhagem de países. Busca atacar outras nações para garantir a dominação dos EUA, ao mesmo tempo em que exige que as principais empresas e indústrias se concentrem dentro de seu país.

A disputa imperialista entre EUA e China

A ascensão da China como potência imperialista oferece um desafio direto aos EUA, embora este mantenha sua supremacia mundial. A crescente competição chinesa impõe desafios para o patamar de lucros dos monopólios dos EUA. Vimos isso no caso da queda das bolsas estadunidenses devido ao avanço de uma IA chinesa ou nos efeitos da inundação dos carros elétricos chineses no mundo. Há preocupações ainda com o papel crescente da China na exploração da América Latina.

Isso explica a sanha de Trump em comprar a Groenlândia e tomar o canal do Panamá. No marco da disputa econômica, quer impedir a presença chinesa no canal e evitar que as terras raras da Groenlândia possam cair em mãos chinesas. Fato é que Trump intensificará a guerra comercial e tecnológica contra a China, embora ainda não esteja definido em qual ritmo.

Na política externa de Trump, tem sobrado até para aliados de longa data. Ele propôs anexar o Canadá, provocou a Europa com ameaça de cortar financiamento à Otan e faz frequentes acenos a Putin.

Seu apoio é aos governos de extrema direita, como Milei na Argentina, Bukele em El Salvador e Orban na Hungria. Isso ilustra sua postura autoritária global. Ele ainda apoia as políticas genocidas de Netanyahu em Israel e chegou a sugerir que a Jordânia e o Egito levassem os palestinos de Gaza.

Não se deve descartar que, junto com as big techs, intervenha politicamente em apoio ao seu campo ideológico, como a família Bolsonaro, que esteve em sua posse. Musk está em campanha aberta em favor dos fascistas da AfD na Alemanha.

Expansionismo imperialista contra países pobres

É contra os países mais pobres que as armas de Trump estão mais afiadas, e não se descarta o uso de força. Basta ver as ameaças sobre o Canal do Panamá, a mudança do nome do golfo do México, já adotado pelo Google no mundo todo, ou as ameaças de impor tarifas comerciais contra a Colômbia para forçá-la a aceitar voos com deportados em situação degradante.

Trump tenta inverter a realidade ao dizer que é o Brasil quem prejudica os EUA com tarifas. Na verdade, são os EUA que sugam as riquezas do Brasil e da América Latina por muitos meios, inclusive usando mão de obra barata para os lucros das suas multinacionais. Há muito exploram e sugam as veias abertas da América Latina em prol dos seus monopólios. Promoveram e sustentaram golpes militares enquanto conseguiram e lhes foram úteis. Enriqueceram as multinacionais e as burguesias latinas criando péssimas condições de vida para os trabalhadores do subcontinente.

Agora Trump tenta reforçar a dependência econômica dos países latino-americanos e demais países pobres atacando suas economias e promovendo a exploração ainda maior das economias periféricas para beneficiar as corporações dos EUA.

Opressão aos imigrantes e à América Latina

Imigrantes são deportados em avião militar

Trump ampliou a perseguição brutal contra imigrantes latino-americanos. Está prendendo e deportando milhares de pessoas. As condições degradantes e os maus-tratos com que deportou 88 brasileiros são escandalosos. As cenas se repetiram nos demais países da América Latina. Fechou e decretou emergência na fronteira sul com o México. Decretou o fim do direito histórico à nacionalidade dos nascidos nos EUA, uma medida tão absurda que foi derruba pelo Judiciário.

Para explorar os países da América latina, os EUA defenderam durante décadas a livre circulação de capitais, mercadorias e lucros. Agora que os trabalhadores vão em busca de melhores condições de vida nos EUA, impedem a tão falada livre circulação.

Os imigrantes cumprem um papel fundamental ocupando os piores postos de trabalho, os mais mal remunerados, garantindo o enriquecimento da burguesia ianque. A política de Trump é para impor um patamar ainda maior de exploração aos imigrantes já que, com medo, a burguesia pode explorá-los ainda mais. A disjuntiva de Trump para os imigrantes é escravidão ou expulsão. Não resta dúvida de que ilegais, bandidos e parasitas são os monopólios capitalistas controlados por bilionários que destruíram nossos países.

América Latina tem que romper com o imperialismo

A resposta dos países da América Latina contra as atrocidades de Trump é uma vergonha. Mostra a incapacidade dos governos ditos progressivos da região em enfrentar de fato o imperialismo dos EUA, da Europa e da China.

Gustavo Petro, presidente da Colômbia, até ensaiou uma reação, mas logo retrocedeu e sofreu desmoralização. Lula nem sequer saiu das palavras e tenta usar sua habilidade em fazer aliança com os ricos e poderosos para buscar acordos com Trump. No geral, todos os governos não fazem nada para atacar os interesses imperialistas dos EUA (ou da Europa e da China, que também nos exploram) na região.

Também é ridículo o papel da ultradireita brasileira que elogia Trump; é capacho dos EUA, veste boné e parece mais estadunidense do que brasileira, sem levar em conta que as medidas de Trump atacam os brasileiros.

Trump disse que os EUA não precisam do Brasil. Vamos provar que nós também não precisamos deles. Por isso, o Brasil e os demais países da América Latina deveriam romper relação com os EUA. Como contrapartida pelas décadas de exploração e saque, os monopólios capitalistas que sugam nossas riquezas devem ser expropriados e colocados a favor dos trabalhadores. Isso levaria também ao enfrentamento contra as burguesias latinas nacionais que se alimentam da subserviência aos seus amos imperialistas. Fica demonstrada a necessidade de a luta anti-imperialista ser parte da luta contra o capitalismo.

A responsabilidade de Biden na volta de Trump

Muita gente de esquerda defendeu voto no Biden para derrotar a ultradireita trumpista. O partido democrata, apesar de ter sindicatos dentro, está sob total controle da burguesia imperialista. Eis que Biden, ao longo de seu mandato, não conseguiu sequer conter o avanço da extrema direita e, ao contrário, abriu caminho para que Trump voltasse mais forte, com uma base popular ampliada e maioria no Congresso.

O retorno de Trump à Casa Branca não é um acidente, mas uma consequência direta da política de Biden e da manutenção do status quo que favorecem as elites econômicas. Biden não só fez um governo que privilegiou os bilionários capitalistas dos EUA, como também tentou aprofundar a dominação imperialista em todo o mundo. Por isso seu apoio efusivo ao genocídio de Israel em Gaza. Manteve o grosso das políticas de Trump e colocou trilhões de dólares a serviços das multinacionais.

Até mesmo nas pautas democráticas Biden foi mais do mesmo. Deportou mais brasileiros do que Trump em seu primeiro mandato. Obama era conhecido como o deportador-chefe: foi o governo que mais deportou imigrantes no século XXI.

Tudo isso aponta para a necessidade de uma alternativa dos trabalhadores independente dos blocos imperialistas e burgueses. A classe trabalhadora mundial não pode ficar amarrada num abraço de afogados com governos capitalistas. Isso só ajuda a burguesia e a própria ultradireita.

É possível de derrotar Trump e a ultradireita

As contradições internas do capitalismo e as divisões entre a própria burguesia podem gerar uma instabilidade que pode desestabilizar sua administração. O movimento dos trabalhadores nos EUA e em outros países do mundo, por meio de greves e lutas sociais, pode enfrentar Trump, derrotando seu governo e a agenda da extrema direita. Nos últimos anos, nos EUA, houve uma onda de greves, inclusive operárias, construção de fortes sindicatos combativos, como o dos trabalhadores da Amazon, manifestações contra o Estado genocida de Israel. E seguem as lutas contra o racismo e pelo direito das mulheres e das trans.

Os trabalhadores e os setores oprimidos podem se unir, se organizar, lutar, resistir a essa agenda reacionária, que não trará nada além de mais desigualdade, repressão e destruição ambiental. Com luta independente dos patrões e dos governos, com organização, autodeterminação e independência de classe os trabalhadores podemos vencer.

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Last Update: 30/01/2025