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Avisa ao formigueiro
Vem aí tamanduá
Tanto furo, tanto rombo não se tapa com biombo
Não se esconde o diabo deixando de fora o rabo
E pros “home” não tá difícil de arrumar outro disfarce
De arrumar tanto remendo se tá todo mundo vendo
Avisa ao formigueiro
Vem aí tamanduá
(Música de Ivan Lins e Tim Maia)
A mídia mundial adotou a comparação com a tecnologia de última geração para o 2º mandato de Donald Trump com razão. O novo “imperador” do mundo tomou posse neste dia 20, com poderes institucionais que não tinha em seu primeiro mandato (2017-2021): foi eleito com a maioria do voto popular e do Colégio Eleitoral, tem maioria no Senado e Câmara Federal e maioria na Suprema Corte. Poucos presidentes estadunidenses contaram com tanto poder!
Não temos todas as respostas (ou mesmo conhecimento) para todos os projetos do governo Trump. Este artigo pretende fazer uma análise do porque não podemos subestimar Trump (como ocorreu no primeiro mandato, com a esquerda e a direita), e de como as múltiplas crises do capitalismo – econômica, climática, geopolítica, democrática, da organização e consciência da classe trabalhadora, e da marginalidade da esquerda, podem se agravar qualitativamente. A luta contra Trump e a extrema-direita precisa se intensificar em todo mundo para continuarmos a ter direitos sociais, um planeta viável e democracia.
Projeto 2025: a estratégia neocolonialista republicana por trás de Trump
Este projeto elaborado pelo Partido Republicado tem como subtítulo – “Mandato para a liderança: a promessa conservadora” (1) (em tradução livre) ou a mais perfeita tradução do “Make America great again” ou “American Frist” (2). A burguesia imperialista dos EUA sonha com a volta de seu passado hegemônico, de “senhores do mundo”, conquistado graças a duas guerras mundiais. Hegemonia que vem perdendo espaço gradualmente desde os anos de 1970 (com a derrota na guerra do Vietnã), que se intensificou após a crise econômica de 2008, alavancando outros agentes econômicos e políticos no cenário mundial, como a China e a Rússia, sérios competidores pela hegemonia global.
O Projeto 2025 é um compêndio de 922 páginas que explica em mínimos detalhes como o Partido Republicano pretende “dominar o mundo”, começando com o 2º mandato de Donald Trump, com base nas ideias econômicas, políticas e ideológicas da extrema-direita. Por óbvio, como todo projeto imperial, projeta um futuro de “mil anos”!
Os mais de 200 decretos e 80 revogações de leis do governo Biden, assinados por Trump no primeiro dia de mandato são uma demonstração de como o Projeto 2025 são a base estrutural desse novo governo, e uma ameaça para os estadunidenses e o mundo.
Trump 2.0 é uma ameaça ao mundo
Desde a campanha eleitoral ficou nítido para quem Trump irá governar e a que interesses ele serve. Não é surpresa que todos os donos de empresas de tecnologia tenham estado em sua posse, e que o homem mais rico do mundo – Elon Musk vá ocupar um cargo em seu governo. Foram selecionados até o momento 11 bilionários para compor o gabinete de Trump. As suas fortunas somadas é de pelo menos US$ 452 bilhões de dólares ou 2,7 trilhões de reais. Esse valor é maior que o PIB de 154 países do mundo! Estes bilionários terão controle sobre a educação, comércio, pequenos negócios, recursos naturais e Musk será o Secretário encarregado de reduzir os custos do governo. No dia seguinte a posse, os magnatas da IA já anunciaram um investimento de US$ 500 milhões de dólares para desenvolver a nova tecnologia. O slogan exaustivamente repetido por Trump em seus dois mandatos – “América primeiro”, pode muito bem ser traduzido por “capitalismo americano primeiro” ou “empresas americanas primeiro” ou “burguesia americana primeiro”.
Os primeiros decretos e as revogações de leis progressistas do governo Biden mostram a estratégia por trás do homem, aparentemente fanfarão, mas que tem um propósito muito bem descrito no Projeto 2025, do Partido Republicano:
1) Na política externa, o confronto direto com opositores, custe o que custar. As ameaças ao Canadá, Panamá e Groenlândia são uma pura demonstração da política neocolonialista de Trump, para se apossar de riquezas e territórios, que possam alavancar a economia americana e o lugar soberano dos EUA no mundo, mesmo que isso custe a existência da vida no planeta, mais guerras e miséria para as regiões mais pobres: “Não precisamos deles (a América Latina), eles que precisam de nós”.
2) Na política interna, Trump pretende uma total desregulamentação do Estado americano, com o enfraquecimento do regime democrático, diminuição dos serviços públicos, e fim dos direitos sociais e trabalhistas da população americana e de seus setores mais oprimidos.
Meio ambiente: liberar as empresas poluidoras, fechar agências reguladoras e revogar as leis e os projetos de combate a crise climática
O Projeto 2025 não poderia se importar menos com as ameaças climáticas. O objetivo é um só: destruir os avanços conquistados. O slogan de campanha de Trump “Perfure, baby, Perfure”, se referindo à extração de petróleo e gás nos EUA, já se tornou realidade com os primeiros decretos assinados por ele: retirou os EUA do Acordo de Paris; ampliou os subsídios para a indústria de produtos poluentes; cancelou a proibição de exploração de petróleo e gás em áreas protegidas, como no Alaska; cancelou os subsídios federais para fontes de energia renovável; deu permissão para exploração de minerais em terras indígenas e muitos outros ataques.
O negacionismo climático de Trump não é ignorância ou desconhecimento das consequências para os EUA e o mundo. É ganância. Segundo dados da Climate Watch (últimos dados disponíveis de 2022), as emissões globais de CO2 foram 182 vezes maiores que em 1850, no auge da revolução industrial. Os EUA são os maiores poluidores, do ponto de vista per capita, mas a China é o país com maior emissão de CO2. Os dez países que mais poluem o meio ambiente são: China, EUA, União Europeia, Índia, Rússia, Japão, Irã, Indonésia, Coreia do Sul e Brasil.
O acordo de Paris prevê um limite seguro da taxa média de aquecimento global provocado pela emissão de gases do efeito estufa em 1,5°C. Em 2024 já atingimos e ultrapassamos a meta prevista para o final do século. Chegamos a 1,52°C. As consequências serão mais ondas de calor, inundações, secas, incêndios florestais, aumento do nível do mar. Nada disso nos é estranho e começa a fazer parte do nosso cotidiano, principalmente para as populações mais pobres e racializadas do planeta. A tragédia climática não é inevitável. Mas, a reversão ficará cada vez mais difícil com as políticas de exploração dos recursos naturais que serão implementadas pelo governo Trump.
Imigração: o “estrangeiro” sempre foi o inimigo interno
Trump não escondeu de ninguém sua intenção de perseguir os imigrantes indocumentados nos EUA, com deportação em massa. Ganhou as eleições com o apoio da maioria dos eleitores a essa política, inclusive dos latinos que têm cidadania americana!
Todo governo dos EUA sempre teve políticas de perseguição aos imigrantes indocumentados. Se compararmos os dados dos governos Obama, Biden e Trump, em seus primeiros mandatos, veremos que este último foi o que mais deportou imigrantes. Barack Obama em seu primeiro mandato (2009-2012) deportou 621.244 pessoas (nos 8 anos de mandato esse número chegou a 1.242.486). Trump (2017-2020) deportou 935.346 pessoas. Biden (2021-2024) deportou 545.252 imigrantes indocumentados.
Neste segundo mandato Trump promete deportar, em 2025, 1 milhão de imigrantes indocumentados. Não sabemos se cumprirá as promessas, já que a economia americana depende muito do trabalho desses imigrantes e de seus filhos nascidos nos EUA.
Segundo dados do censo americano (USCB) (3), em 2024, 47,8 milhões de pessoas residentes nos EUA eram imigrantes (11 milhões consideradas indocumentadas), ou 1 em cada 7 pessoas. Isto representa 14,3% da população americana. Na Califórnia a população de imigrantes representa 27,3% da população do Estado. Em 2022, 17,4% dos trabalhadores estadunidenses empregados eram imigrantes. Na Califórnia esse percentual é de 32,6%.
Trump não vai (e nem pretende) deportar os 11 milhões de imigrantes indocumentados que vivem nos EUA. Ele sabe que a economia americana é muito dependente desses trabalhadores, e praticamente ficaria paralisada com uma deportação em massa, em setores fundamentais como agricultura, construção civil e serviços. Ele vai manter uma política permanente de perseguição aos “indocumentados” para forçar os países do Sul Global a criar mecanismos que impeçam o fluxo migratório. Por isso reeditou o “Fique no México”, e faz ameaças de anexar o Canadá, porque quer que este País controle mais suas fronteiras.
O decreto que assinou tirando a cidadania das crianças nascidas em solo americano, que são filhas e filhos de pessoas “indocumentadas”, visa conter o aumento populacional dos imigrantes sobre os nativos estadunidenses. Há uma projeção do departamento de estatísticas dos EUA de que até 2060 os latinos serão 20% da população americana. Hoje, já são a maior minoria. Acontece que pessoas “indocumentadas” não podem votar; não podem trabalhar, se tornando mão de obra barata para as empresas americanas; o acesso a saúde e educação fica muito difícil. Portanto, com a negação de cidadania aos filhos de imigrantes nascidos no país, Trump visa a diminuição de gastos com serviços públicos, a diminuição do direito ao voto e uma maior exploração dos “indocumentados” pelas empresas americanas.
Economia e Relações externas: intensificação do colonialismo, mais conflitos e mais guerras
Dissemos acima que o “American Frist” é um projeto de longo prazo para manter a hegemonia dos EUA sobre o mundo, abalada desde 2008 com a crise econômica mundial. Tem também como objetivo geopolítico, conter o avanço da China e da Rússia, que hoje, competem com os EUA no comércio internacional e nas relações políticas com os demais países capitalistas.
As medidas já tomadas por Trump no terreno econômico irão afetar o mercado e a economia de diversos países. A primeira preocupação dos investidores é com o aumento da inflação nos EUA, porque as medidas tomadas podem elevar os preços. A primeira delas é a taxação de produtos importados, que no caso do México e Canadá será de 25%, e para a China de 10%. Isso pode levar a uma diminuição do comércio entre estes países, e a uma elevação de preços no mercado americano, e também da inflação.
Uma inflação mais alta pode levar a uma elevação dos juros. A agenda fiscal de Trump, com redução de impostos das empresas na ordem de US$ 7 trilhões nas próximas décadas é um elemento inflacionário. O rombo fiscal já é de 6,4% do PIB. Quanto menos impostos, menos arrecadação, o que pode desestimular os investidores. Trump foi eleito com a promessa de diminuir a inflação e assim recuperar o poder de compra dos estadunidenses. Todas as suas medidas até agora levam ao risco de aumentar a inflação. O tiro pode sair pela culatra!
Todo governo dos EUA tem como tarefa central recuperar e/ou manter bem a economia americana, e assim perpetuar sua hegemonia no mundo. Trump não será diferente e tem mais poder para isso nesse segundo mandato. As ameaças ao Panamá, Canadá e Groenlândia não são excentricidades. São projetos muito bem pensados que visam dois objetivos centrais: ampliar o domínio imperialista americano sobre novos territórios e suas riquezas, e dificultar (ou impedir) a expansão do comércio chinês no mundo.
Pelo Canal do Panamá passa grande parte das exportações da China para a Europa e a América Latina. A volta do Canal ao controle dos EUA visa dificultar esse fluxo comercial para a China, com maiores taxações. A Groenlândia, pelo desastroso efeito do aquecimento global no Polo Norte, vai se transformar em importante rota comercial, porque a parte congelada de seu mar vem diminuindo ano a ano, possibilitando que o Mar do Ártico se torne navegável por mais tempo a cada ano. Além disso, o País tem importantes reservas minerais de urânio e terras raras (conjunto de 17 elementos químicos, usados na fabricação de produtos de alta tecnologia e na fabricação de equipamentos de energia renovável), petróleo e gás, cobiçados pelos EUA e a China. É sempre a economia que orienta a ação imperialista no mundo, mesmo que para isso se destrua o planeta ou a humanidade. A extrema-direita usa frequentemente a tática de dizer o máximo possível de disparates e fakenews escandalosas para aumentar a confusão e escamotear as suas reais intenções. Trump já declarou que não hesitará em decretar guerras para alcançar seus objetivos. Não duvidemos disso!
Trump o pacifista?
Durante a campanha eleitoral Trump alardeou que acabaria com as guerras em Gaza e na Ucrânia no primeiro dia de mandato. Os EUA (Biden-Trump) conseguiram, as vésperas da posse de Trump, um cessar fogo na Palestina. É ainda cedo para antecipar como será de fato a política externa de Trump. Muitos dos seus apoiadores dirão que quando Trump afirmou conseguir acabar com a guerra na Ucrânia em um dia (agora já mudou para 100 dias), queria dizer que não se importa nem um pouco com a Ucrânia e que deixará de apoiá-la, pois os gastos com a guerra já chegam a US$ 61 bilhões de dólares. Outros terão entendido que Trump iria apoiar o país ainda mais e com armas mais poderosas, para enfrentar Putin e obrigá-lo a negociar. Essa hipótese não é a mais provável. Para conseguir um cessar fogo na Ucrânia ou o fim da guerra, Trump irá ameaçar os dois países com sanções econômicas (já fez isso com a Rússia), e com o fim do apoio econômico a Ucrânia. Os dois países já se mostraram dispostos a negociar, e Zelenski afirmou que aceita o fim da guerra desde que se garanta uma força de paz de 100 mil soldados na Ucrânia, para frear o objetivo expansionista de Putin.
A política externa de Trump aponta, muito provavelmente, para dois fatores principais: tentar manter-se no poder com popularidade alta, equilibrando as oscilações da opinião pública, as lutas internas no partido republicano e na burguesia americana. Por outro lado, ele precisa fazer um “giro para o pacífico”, focando todos os esforços no conflito estratégico com a China, tentando uma política que não empurre (pelo menos não tanto) a Rússia diretamente para os braços da China.
Democracia ameaçada e Estado desregulamentado
Para conseguir implementar todo o Projeto 2025, o governo Trump precisa de medidas que modifiquem estruturalmente o Estado americano, sua Constituição, suas instituições e seu regime democrático. Parte das medidas decretadas nos dois primeiros dias de governo visa isso. Não será possível cumprir os projetos de governo sem um regime que garanta e dê estabilidade pra isso. Um estado de liberdades amplas não consegue garantir uma desregulamentação do estado democrático de direito, como pretende fazer Trump, onde reinará as leis das empresas de tecnologia e do petróleo, a retirada de direitos trabalhistas e sociais, a discriminação em toda a sociedade e o desmantelamento dos serviços públicos.
O segundo mandato de Trump é uma declaração de guerra ao mundo e a população estadunidense. Para isso Trump precisa de um regime que permita o exercício de seus poderes sem grandes questionamentos. Trump precisa de um regime de extrema-direita, e os primeiros passos para isso já estão sendo dados.
Como uma de suas primeiras medidas perdoou os 1.600 golpistas de janeiro/2020 que se encontravam presos. Isto é um sinal claro de que os mínimos valores democráticos, como a eleição, não importam. Um dos decretos assinados na posse dificulta o voto pelo correio, muito usado pelos filiados do Partido Democrata. No dia 22, decretou o desmonte dos programas federais de equidade, diversidade e inclusão e colocou seus funcionários em licença remunerada. Chamou esses programas de “discriminação” contra os homens brancos!!! Eliminou a possibilidade de constar a mudança de gênero em passaportes estadunidenses. Trump reverteu as políticas de equidade racial de Biden, por “serem radicais e gastos desperdiçados”. Vai mandar prender todos os funcionários federais que se recusarem a cumprir as novas diretrizes sobre imigração. Mas, nada disso é surpresa.
A campanha de Trump foi baseada na promessa de acabar com as políticas de proteção e promoção dos setores oprimidos. Ele foi eleito pela maioria dos estadunidenses por isso, e para implementar essas políticas. Mulheres, imigrantes, a comunidade LGBTQIA+, negros e negras, os povos originários são os inimigos a serem eliminados. Trump e o “novo regime” americano não pouparam esforços para realizar esses objetivos. Para isso, usará o apoio popular, a maioria no Congresso e na Suprema Corte.
Trump é uma ameaça aos direitos sociais do povo estadunidense
A politica interna trumpista, já traduzida em vários decretos, tem um único objetivo: fazer retroceder todas as conquistas sociais e econômicas da classe trabalhadora e de seus setores oprimidos.
Um plano de governo para destruir as condições de vida de milhões de estadunidenses, removendo as proteções sociais, com 40 milhões de pessoas podendo ter sua assistência alimentar reduzida, 220.000 empregos poderão ser perdidos, atacando os empréstimos estudantis, defendendo os interesses da minoria mais rica, atacando o pagamento de horas extras para 4,3 milhões de pessoas, atacando os direitos reprodutivos e as liberdades pessoais, para permitir mais discriminação e exploração. Para ser bem sucedido nisso o governo Trump pretende:
Estimular a discriminação em toda a sociedade
Ameaçados por décadas de progresso no avanço dos direitos civis e da igualdade para todos, os autores do Projeto 2025 querem criar um país que permita mais discriminação — revertendo as vitórias duramente conquistadas por movimentos progressistas como de mulheres, o Black Lives Matter, as LGBTSQIA+, os povos originários e os imigrantes. Em seu discurso de posse Trump afirmou: “Nos EUA só existem dois gêneros: masculino e feminino”. Parte dos decretos assinados, entre outras barbaridades, eliminou os programas de diversidade, equidade e inclusão no setor público; proibiu o financiamento federal para cuidados médicos de transição de gênero; acabou com o financiamento para pesquisas sobre equidade racial; cancelou a proteção de direitos para os e as estudantes LGBTQIA+ nas escolas públicas; decretou que a identidade de gênero se dará pelo sexo biológico.
Restringir Direitos Reprodutivos e Acesso aos Cuidados de Saúde
Apesar da maioria dos estadunidenses apoiarem a assistência médica abrangente e a liberdade reprodutiva, o Projeto 2025 projeta uma realidade bem diferente. Suas diretrizes prejudicariam o Medicare, manteriam os altos preços dos medicamentos e restringiriam o acesso aos cuidados reprodutivos. Os primeiros decretos de Trump retiraram os EUA da Organização Mundial de Saúde – OMS; cancelaram os subsídios para medicamentos de alto custo; dá permissão as empresas de negarem cobertura de saúde por razões religiosas, como no caso do aborto; retirou incentivos para a vacinação contra a Covid 19;
Cortar salários, criar locais de trabalho inseguros, perseguir e demitir funcionários públicos
O Projeto 2025 propõe que as empresas cortem o pagamento de horas extras, relaxem as regras de segurança dos trabalhadores, permite a discriminação no local de trabalho e muito mais. Os primeiros decretos de Trump foram: cancelamento de regulações trabalhistas para empresas de tecnologia; eliminar as diretrizes sobre saúde mental nos locais de trabalho; redução do salário mínimo federal para contratos públicos; redefinição de critérios para contratação de funcionários públicos: os novos critérios passam a ser a meritocracia e a lealdade ao governo.
Tornar a vida e a sobrevivência mais difíceis para os estadunidenses
As propostas do Projeto 2025 só tornarão a vida diária mais difícil para a população – com perseguição aos imigrantes, menos pessoas capazes de acessar assistência alimentar e educação infantil, menos apoio para veteranos com deficiências e cortes no apoio aos agricultores.
Tornar a educação superior inacessível e pouco acolhedora aos pobres
O Projeto 2025 prevê o corte dos programas de empréstimos federais que ajudam os pais de estudantes universitários, estudantes de pós-graduação e imigrantes a pagar pelo ensino superior, tornando as universidades mais elitistas e acessíveis apenas aos ricos.
Prejudicar a capacidade do governo e do serviço público de apoiar a população
O Projeto 2025 pretende reestruturar todo o serviço público federal americano, prejudicando os 2 milhões de servidores federais. Essa é a real tarefa de Elon Musk, com sua “Secretaria de Eficiência do Governo”. Para isso, pretendem substituir todo e qualquer funcionário que não for leal ao governo; forçar especialistas apartidários a sair do governo; selecionar os futuros funcionários públicos a partir de testes tendenciosos ideologicamente ou discriminatórios sobre gênero, raça, orientação sexual, origem, etc.
Conclusão
Os tempos se tornarão mais difíceis para a população mundial. É provável que venha a piorar ainda mais se todos os objetivos do Projeto 2025, da extrema-direita americana, vier a ser implementado, como estamos vendo neste início do governo republicano.
Trump é uma ameaça ao mundo e aos estadunidenses. Não há fórmula mágica para reverter essa situação. Precisamos de unidade internacional para a resistência e a luta. É preciso e possível resistir. É possível e preciso lutar. É possível e necessário vencer. Olhando o futuro desde esse dia 23/01/2025 tudo parece impossível. Mas, a humanidade em sua história sempre derrubou tiranos e acabou com seus desmandos. Com Trump e a extrema-direita não será diferente.
As reações internacionais e nos EUA já começaram. A maioria dos governos pelo mundo se mostraram críticos às medidas de Trump, porque vai prejudicar suas economias. Na Europa, dentro do campo da direita liberal e a centro esquerda, historicamente favoráveis a uma maior integração e interdependência das economias dos dois blocos, defensores de uma relação privilegiada com os EUA, hoje discute-se séria e abertamente como lidar com o novo governo Trump, com o fato de que o país que sempre dominou a OTAN, ser hoje o seu maior fator de instabilidade. O tempo dirá se as velhas potências europeias, como a Alemanha, França e Inglaterra assistirão passivamente ao seu declínio político e econômico, ou se aprofundarão as suas até aqui tíbias tentativas de ter uma política externa autônoma, seja de forma conjunta ou individualmente.
No dia 18, manifestantes saíram às ruas de Washington para protestar contra o governo e defender as pautas como igualdade de gênero e direitos reprodutivos. Vinte procuradores gerais já entraram com processos na justiça federal contra à medida que nega a cidadania aos filhos e filhas de imigrantes indocumentados, nascidos nos EUA. Hoje, um juiz federal aceitou a denúncia e anulou esse decreto de Trump. Mas, a melhor notícia de todas, nestes terríveis dois dias é: uma pesquisa da Reuters/Ipsos (4) revelou que Trump inicia seu mandato com 47% de aprovação. Algo incomum para um presidente em início de mandato. Além disso, 58% dos entrevistados disseram que Trump não deveria perdoar todos os golpistas envolvidos no ataque ao Capitólio. Comemoremos. Pequenas vitórias em momentos difíceis valem muito.
Notas
1 Em Inglês: “Mandate for leadership: the conservative promise”.
2 Em Inglês: “Mandate for leadership: the conservative promise”.
3 “Tornar a América grande novamente” e “América Primeiro”.
4 United States Census Bureau