O movimento sionista existiu por décadas antes da criação do Estado de “Eretz Israel”. Na Rússia, onde havia muitos judeus, esse movimento tinha relativa presença e, portanto, os revolucionários bolcheviques conviveram com esse movimento. Lênin teceu duras críticas ao sionismo ainda no início do século XX. Décadas depois, em 1937, Leon Trótski também criticaria o sionismo em um momento que o movimento já estava estabelecido pelo imperialismo britânico na Palestina.
Ele afirmou: “durante minha juventude, inclinei-me a acreditar que os judeus de diferentes países seriam assimilados e que a questão judaica desapareceria de forma quase automática. O desenvolvimento histórico do último quarto de século não confirmou essa perspectiva. O capitalismo em decadência em todos os lugares se voltou para um nacionalismo exacerbado, do qual uma parte é o antissemitismo. A questão judaica tem se destacado mais no país capitalista mais desenvolvido da Europa, a Alemanha”.
Ele mesmo, um judeu, possuía a tese de que o antissemitismo desapareceria de forma natural. No capitalismo, isso não aconteceu até o pós-guerra, quando o imperialismo deixou de usar o antissemitismo como arma e passou a ter o sionismo como sua ferramenta. Já com a Revolução Russa, houve uma grande emancipação dos judeus, onde eles eram mais oprimidos naquele momento. Mais adiante no texto, Trótski comenta como o antissemitismo do stalinismo se assemelha ao sionismo.
Ele comenta então: “por outro lado, os judeus de diferentes países criaram sua imprensa e desenvolveram a língua iídiche como um instrumento adaptado à cultura moderna. Portanto, deve-se considerar que a nação judaica se manterá por toda uma época vindoura. Ora, a nação normalmente não pode existir sem um território comum. O sionismo surge dessa ideia. Mas os fatos de cada dia que passa nos demonstram que o sionismo é incapaz de resolver a questão judaica. O conflito entre judeus e árabes na Palestina adquire um caráter cada vez mais trágico e ameaçador. Não acredito que a questão judaica possa ser resolvida dentro do quadro do capitalismo decadente e sob o controle do imperialismo britânico”.
Trótski concede a possibilidade do nacionalismo judaico, mas fazendo a análise concreta dos fatos mostra que o projeto sionista não é o caminho para a emancipação dos judeus. Ele, que faleceu em 1940, não viu a tragédia de 1948 que foi a criação do Estado de “Eretz Israel”, mas suas previsões estavam corretas. Ele, então, comenta a realidade dos judeus sobre o regime stalinista.
Dentro da União Soviética governada por Stálin foi criada uma espécie de “Eretz Israel”, a Oblast Autonoma Judaica. A ideia era, como cita Trótski acima, criar uma espécie de nação judaica ao invés de assimilar a população onde eles já habitavam. Esse Oblast não era em uma zona nobre, mas sim no extremo oriente, na fronteira com a China. Ou seja, claramente era uma forma de isolar a população de judeus do país. Sua capital era Birobidjã, e Trótski cita esse exemplo.
“Durante o período de democracia soviética, de migração completamente voluntária, não poderia haver fala de guetos. Mas a questão judaica e a própria maneira como os assentamentos de judeus ocorreram assumem um aspecto internacional. Não estamos corretos ao dizer que uma federação socialista mundial terá que possibilitar a criação de um Birobidjã para aqueles judeus que desejam ter sua própria república autônoma como arena para sua própria cultura?
Presume-se que uma democracia socialista não recorrerá à assimilação compulsória. Pode muito bem ser que, dentro de duas ou três gerações, as fronteiras de uma república judaica independente, assim como de muitas outras regiões nacionais, sejam apagadas. Não tenho tempo nem desejo de meditar sobre isso. Nossos descendentes saberão melhor do que nós o que fazer. Tenho em mente um período histórico transitório quando a ‘questão’ judaica como tal, ainda é aguda e exige medidas adequadas de uma federação mundial de estados trabalhadores.”
Trótski desenvolve como no socialismo é possível que se forme a república judaica que pode ou não se assimilar com as nações do entorno. Mas isso é irrelevante, pois é uma discussão para aqueles que estiverem vivendo no socialismo. Ele então critica mais uma vez o sionismo:
“Os mesmos métodos de resolução da questão judaica que, sob o capitalismo decadente, terão um caráter utópico e reacionário (sionismo), sob o regime de uma federação socialista assumirão um significado real e salutar. É isso que quero apontar. Como qualquer marxista ou mesmo qualquer democrata consistente poderia se opor a isso?”
É uma reafirmação da sua tese. No imperialismo, é impossível desenvolver o nacionalismo judaico sem ser algo reacionário. O sionismo é a expressão disso e existia sendo impulsionado pelo pior dos imperialismos, o da Inglaterra. Trótski ecoa as críticas que Lênin havia feito três décadas antes: “é’ absolutamente insustentável cientificamente, a ideia de que os judeus formam uma nação separada é reacionária politicamente”. Naquele momento Lênin criticava não só os sionistas, mas também o partido de esquerda judaico conhecido como Bund. Ambos foram superados pela Revolução Bolchevique,