Por [Novo nome do setor de comunicação e cultura do MST-PR]
Nesta quinta-feira (15), o Paraná testemunhou um momento histórico com a reabertura da Fábrica de Fertilizantes Araucária Nitrogenados (Fafen/Ansa), empresa subsidiária da Petrobras. Centenas de petroleiros/as e petroquímicos/as da Petrobras vestidos com seus uniformes cor laranja, ao lado de trabalhadores/as com bonés e camisetas vermelhas e rostos emocionados, comemoraram o retorno das operações da fábrica, um símbolo de resistência contra o desmonte da indústria nacional.
O presidente Lula participou do ato de reabertura e chorou ao lembrar dos ataques sofridos pela maior empresa pública do Brasil, especialmente pela operação Lava Jato: “Vocês não têm dimensão do orgulho que eu estou por estar vestindo essa camisa da Petrobras”. A Fafen estava inativa há pouco mais de quatro anos. No início de julho, 215 ex-funcionários da fábrica reiniciaram suas atividades, e a expectativa é que sejam gerados mais de 2 mil empregos. O retorno da produção está previsto para maio de 2025.
Muitos camponeses/as e militantes do MST estavam entre o público que se emocionou durante a cerimônia, por lembrar das inúmeras mobilizações em que se somaram contra o fechamento da fábrica, e também para denunciar a prisão injusta de Lula durante 580 dias, em Curitiba.
Adriana Oliveira, integrante da direção do MST-PR e do coletivo Marmitas das Terra, lembrou o histórico de mobilizações em defesa da fábrica, muitas delas em que o MST esteve junto. “Muitas vezes, a gente ativamente marchou junto, campo e cidade, na defesa da Petrobras, na defesa da soberania do povo”.
Para Roberto Baggio, da direção nacional do MST, que representou o Movimento durante a cerimônia de reinauguração, esta conquista é símbolo da resistência e da persistência do povo, e capacidade de conseguir conquistas e reescrever a história. “É mais um passo para irmos consolidando a democracia e a participação popular na sociedade brasileira. É um significado político, histórico, de memória, de luta, de empoderamento e reafirma que esse país tem todas as condições de avançar em sua autonomia econômica, política, resolver seus problemas sociais e dialogar com o mundo com altivez, com democracia, humanismo e solidariedade”.
A reabertura da Fafen representa a vitória dos trabalhadores/as que lutaram incansavelmente pela retomada das atividades da fábrica, mas também abre novas perspectivas para a agricultura e a economia brasileiras. É o que afirma Eder Umbelino, um dos 215 trabalhadores recontratados, e integrante do Sindicato dos Trabalhadores Petroquímicos do Paraná (Sindiquímica-PR): “Lutamos durante 1594 dias para recuperar e voltar para o sistema da Petrobras. Hoje, celebramos uma vitória que é de todos aqueles que resistiram e acreditaram na importância desta fábrica para o Brasil”.
Ele relembra as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores/as demitidos em 2020: “[…] Companheiros que ficaram desempregados, que não arrumaram emprego até hoje e foram condenados por serem da luta, por serem até diretores sindicais, até mesmo de participarem de mobilizações”.
Ao apontar para a torre da fábrica onde a ureia voltará a ser fabricada, o petroquímico se emocionou: “Lá caem os grãos que vão fertilizar o solo a partir de hoje, é o início de uma cadeia produtiva, de uma cadeia de fertilizantes que vai nos trazer alimentos e soberania pro nosso país, o Brasil”, completou.
Ampliação da produção de alimentos e do combate à fome
Para além da retomada de empregos, a produção da Ansa significa potencializar a produção de ureia, principal fonte de nitrogênio para as lavouras e fundamental para produção de milho, arroz, feijão e na cadeia produtiva leiteira. Localizada ao lado da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), a fábrica tem capacidade de produção de 720 mil toneladas/ano de ureia, o que corresponde a 8% do mercado. Por isso, entendemos que a reabertura da Ansa é uma oportunidade de fortalecer a segurança e a soberania alimentar.
Adriana Oliveira destacou que a produção de ureia pela Ansa é crucial para a agricultura familiar e para a saída do Brasil do mapa da fome, uma vez que esse insumo é vital para a produção de alimentos básicos como arroz, feijão e mandioca.
“O enfrentamento à fome passa por fortalecimento das políticas públicas, então hoje a Petrobras é um fortalecimento na geração de empregos, e a gente quer que essas políticas públicas também cheguem no campo para que a Reforma Agrária Popular e a agricultura familiar possa produzir ainda mais alimentos”, completou, lembrando a atuação do Movimento junto à cozinhas comunitárias, em comunidades que enfrentam a insegurança alimentar no dia a dia.
A camponesa Andreia Lorena Lesesnki, de 33 anos, moradora do assentamento Pontal do Tigre, em Querência do Norte, compartilhou as dificuldades enfrentadas devido ao alto custo e à escassez de ureia nos últimos anos. “O preço dela ultimamente está variando bastante, no ano passado foi muito difícil o acesso e o preço estava muito alto. […]. Hoje em dia ter uma empresa próxima a nós, e que produzisse, seria de grande relevância pra gente, como produtor”, disse Andreia. Ela destacou que a proximidade de uma fábrica como a Ansa reduziria a dependência de atravessadores e os custos associados, o que poderia melhorar a produção agrícola na região.
Celso Anghinoni é morador do mesmo assentamento, e confirma a importância da ureia na produção de grãos. Junto a um pequeno grupo familiar, o camponês tem como sua principal atividade a produção do arroz irrigado, além do gado de leite e o hortigranjeiro. Ele destaca como a retomada da produção de ureia pode beneficiar as famílias camponesas: “A consolidação no Brasil de fábricas de nitrogênio é de alta importância, porque vem baratear o custo de uma das principais fontes de nutrição das lavouras, principalmente de arroz e outras culturas”.