Transferência de embriões marca “virada de chave” na produção leiteira em assentamentos

Terneito, fruto da implantação de embriões da raça Gir. Foto: MST

Por Coletivo de Comunicação do MST em SP*
Da Página do MST

Com o objetivo de democratizar o acesso a tecnologias agrícolas avançadas e fortalecer a produção de leite — principal atividade econômica da região — assentadas e assentados do Assentamento Gleba XV de Novembro, localizado em Euclides da Cunha Paulista (SP), estão protagonizando uma transformação histórica na cadeia produtiva leiteira.

Essa mudança tem como motor a adoção da transferência de embriões, uma técnica que permite que o gado de alta qualidade genética tenham seus embriões implantados em vacas de outras raças. Isso acelera e qualifica o melhoramento genético dos rebanhos, gerando animais mais produtivos e resistentes. Tradicionalmente, essa tecnologia era utilizada quase exclusivamente pelo agronegócio, em grandes propriedades. Agora, passa a ser apropriada também pela agricultura familiar, como ferramenta estratégica de fortalecimento da produção e geração de renda no campo.

A iniciativa foi o tema central do Encontro Regional da Cadeia do Leite, Políticas Públicas e Fomento às Mulheres nos Assentamentos, realizado no Setor 5 do assentamento, no Sítio A Toca dos Lagos. O evento reuniu agricultoras e agricultores de diversas localidades do Pontal do Paranapanema para debater o fortalecimento da cadeia do leite e o papel fundamental das mulheres na produção camponesa.

A região do Pontal do Paranapanema, localizado no extremo oeste do estado de São Paulo, é hoje uma das principais bacias leiteiras paulistas. A região abriga cerca de 7 mil famílias assentadas, organizadas em 117 assentamentos conquistados por meio da luta do MST e da Reforma Agrária Popular. Nesses territórios, a produção de leite é uma das atividades que mais impulsionam o desenvolvimento local, garantindo segurança alimentar e geração de renda.

A ação de transferência de embriões começou em julho de 2024, com a implantação de embriões da raça Gir — uma raça bovina reconhecida por sua alta produção leiteira e rusticidade — nos rebanhos de pequenas agricultoras e agricultores. Os resultados são animadores: só no último mês nasceram 12 bezerras, e outros 15 nascimentos são esperados até agosto.

“O projeto Gir não foi o primeiro passo. Foi a virada de chave. Mostrou que é possível e, mais do que isso, que é urgente ampliar esse tipo de política”, afirma Allan Matheus Gonçalves de Souza, médico-veterinário responsável pelo Projeto Gir Leiteiro, no Pontal do Paranapanema.

Allan Matheus Gonçalves de Souza, médico-veterinário responsável pelo Projeto Gir Leiteiro, no Pontal do Paranapanema. Foto: Reprodução.

Segundo Allan, mesmo com um número inicial considerado modesto — 100 embriões implantados por região, beneficiando 20 produtores no Pontal —, os impactos são expressivos. A expectativa é que a produtividade leiteira aumente significativamente, gerando mais renda para as famílias e promovendo o desenvolvimento regional.

A transferência de embriões representa, assim, um avanço fundamental. Antes restrita a grandes propriedades, controladas pelo agronegócio, agora passa a fazer parte do repertório produtivo da agricultura familiar, contribuindo para: Aumentar a produção de leite, elevar a renda das famílias camponesas, fortalecer a Soberania Alimentar nos territórios de Reforma Agrária e ampliar a autonomia econômica das mulheres, protagonistas na produção leiteira.

Além disso, o projeto prevê, em curto prazo, a implantação de núcleos locais de produção de embriões, o que deve baratear custos, facilitar o acesso ao material genético de alta qualidade e reduzir a dependência das famílias em relação às grandes empresas do setor. Trata-se de um avanço técnico e político, que fortalece a autonomia produtiva e o protagonismo do campesinato.

“Hoje deixamos para trás a dúvida sobre ser ou não possível. Estamos mostrando, na prática, que funciona. E seguimos lutando por mais projetos, por melhores condições e por políticas públicas que ampliem essa experiência”, conclui Allan.

O encontro contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, e a  superintendente regional do Incra/SP Sabrina Diniz Bittencourt Nepomuceno. As famílias presentes ressaltaram a importância dessas políticas para garantir a continuidade e a nacionalização do projeto.

Encontro Regional da Cadeia do Leite, Políticas Públicas e Fomento às Mulheres nos Assentamentos. Foto: MST

Com essa iniciativa, o MST reafirma que a agricultura familiar, quando organizada de forma coletiva, é capaz de incorporar tecnologias de ponta sem abrir mão dos seus valores fundamentais: a solidariedade e a partilha.

*Com informações de Carla Bueno


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