O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, durante depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF). Foto: Ton Molina/STF

O advogado Eduardo Kuntz, que representa o coronel da reserva Marcelo Câmara, afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) ter trocado mensagens com Mauro Cid por meio do Instagram, enquanto avançavam as investigações sobre a tentativa de impedir a posse do presidente Lula. O contato foi feito pelo perfil @gabrielar702, que seria controlado por Cid, que enviou uma selfie fazendo sinal positivo para provar sua identidade.

Segundo a coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo, as mensagens foram anexadas por Kuntz à petição enviada ao STF após determinação do ministro Alexandre de Moraes para que a Meta repassasse todas as informações do perfil. A ordem veio após reportagens publicadas pela revista Veja que revelaram trechos dos diálogos. O advogado alega que o conteúdo reforça que a colaboração premiada de Mauro Cid deve ser anulada por “falta de voluntariedade”.

Na petição, Kuntz argumenta que continuou respondendo ao perfil mesmo sem saber ao certo quem era o interlocutor e alega que imaginou se tratar de uma proposta de trabalho ou até de uma ação controlada por autoridades.

Apesar disso, o advogado não havia informado previamente Moraes sobre as mensagens e, só após a repercussão da matéria, apresentou uma ata notarial de 51 páginas com os prints, áudios, ligações e chamadas de vídeo trocadas com o perfil.

Entre os trechos destacados nos diálogos, Cid afirma que nunca usou a palavra “golpe” nos depoimentos prestados à Polícia Federal e sugere que algumas declarações atribuídas a ele foram distorcidas. Os advogados de Bolsonaro, de Braga Netto e de outros investigados tentam usar esse material para anular a delação de Cid, peça central nas investigações sobre a “Abin paralela” e a trama golpista.

O advogado Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara no processo da trama golpista. Foto: Reprodução

Durante audiência no STF na semana passada, o advogado Celso Villardi, que defende o ex-presidente Jair Bolsonaro, usou parte do conteúdo da conversa para pressionar Cid, questionando o uso de perfis anônimos em redes sociais para tratar da delação.

O ex-ajudante de ordens negou, mas demonstrou hesitação ao ser confrontado com o nome do perfil. Disse que Gabriela era o nome de sua esposa, mas afirmou não saber se o perfil em questão pertencia a ela.

Moraes, que preside o julgamento, interrompeu o interrogatório para pedir esclarecimentos. Na sequência, determinou à Meta que entregasse todas as mensagens e dados dos perfis @gabrielar702 e @Gabriela R, entre maio de 2023 e junho de 2025. A manifestação de Kuntz foi apresentada dentro do prazo estipulado pela decisão judicial.

As mensagens agora são tratadas como peça-chave pelos defensores dos réus que tentam deslegitimar a delação. Em público, a defesa de Cid já havia classificado a reportagem da revista Veja como “fake news”, mas foi o próprio Kuntz quem trouxe os detalhes ao processo. O caso também levanta dúvidas sobre a conduta do advogado de Cid, Cezar Bittencourt, que aparece em prints conversando com um repórter.

O escândalo da Abin paralela envolve dezenas de pessoas, incluindo integrantes da gestão Bolsonaro e também nomes da atual direção da agência, nomeados por Lula. A investigação da PF aponta que o sistema de espionagem ilegal monitorava ministros do STF, políticos e jornalistas por interesses pessoais da família Bolsonaro.

Cid é um dos principais delatores e sua credibilidade passou a ser alvo das estratégias de defesa desde o início das audiências. Agora, com a quebra de sigilo das redes e os documentos anexados por Kuntz, o conteúdo das mensagens deve influenciar os próximos passos do processo.

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Last Update: 17/06/2025