O programa TVGGN contou, na última sexta-feira (16), com a participação da socióloga e urbanista social Letícia Canonico, para falar sobre um dos principais assuntos da semana: o sumiço dos dependentes químicos da Cracolândia, na região central de São Paulo.

Ao longo da semana, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) comemorou o suporto sucesso da ação, tendo em vista que o chamado “fluxo”, como era conhecida a concentração dos usuários na Rua dos Protestantes e entorno, desapareceu. Consequentemente, o fato revelaria então o sucesso de uma política de combate às drogas. 

Letícia Canonico, no entanto, discorda. “Fiz o meu mestrado na Cracolândia em 2015 e desde então, desde antes, naquele momento e até hoje, o discurso sobre o fim da Cracolândia é o mesmo. E como você vinha mencionando antes, o papel da construção midiática sobre um território e sobre os corpos que ocupam aquele território fazem com que esse espaço se torne alvo de diversas violências, diversas ações que visam enganar a população de que esse problema vai acabar a partir da dispersão, a partir da violência contra essa população.”

A socióloga pontua que o governo federal poderia fazer ações diferenciadas a fim de oferecer soluções permanentes, que não se limitem a dispersar os usuários por meio da violência.

“O meu mestrado se focalizou exatamente nesse tema, em como que a polícia construía essa distinção entre quem são os usuários e quem são os traficantes. A gente sabe que criando-se essa territorialidade, que tem uma pesquisa muito importante ali na Cracolândia, que criam-se corpos abjetos ali. Quais são esses corpos que ocupam esse espaço da Cracolândia? São sobretudo corpos marginalizados, corpos vulnerabilizados, pessoas majoritariamente negras que já passaram pelo sistema prisional, e se cria essa ideia de que eles são os grandes agentes de violência, mas a gente sabe que o tráfico de drogas está muito fora do espaço da Cracolândia”, continua. 

Mestre na UFSCar sobre a atuação dos agentes de segurança na Cracolândia, Letícia ressalta que a violência não vai fazer com que as pessoas deixem de ocupar territórios e que os dependentes, de fato, se espalharam pela região metropolitana.

“Não adianta a gente dispersar essas pessoas sem que elas possam ter acesso a nenhum tipo de dignidade.”

Como alternativa, cita como exemplo um dos programas de Fernando Haddad (PT) enquanto foi prefeito da capital paulista que, na época, oferecia acesso à moradia digna além de trabalho – o que para a socióloga, é a única solução pensada e, de fato, concreta, para que os dependentes químicos acessem a dignidade.

“Parece uma solução muito simples, mas é muito grandiosa, a partir exclusivamente do acesso a um espaço de moradia digno, em que essa pessoa consegue ter condições de melhores cuidados para sua saúde. Então, nesse projeto, as pessoas eram atendidas por uma equipe de técnicos sócio-educativos, em complementação com a saúde e a assistência social, juntamente com uma equipe que atende, levava essa população ao trabalho. Então, essas pessoas estavam se reinserindo no mercado de trabalho”, comenta.

E o exemplo do sucesso desta política, segundo a urbanista, veio de uma família que fazia uso intenso de drogas. A partir do programa, eles reduziram e superaram a dependência química. Também concluíram o ensino médio por meio do programa de alfabetização de adultos, e o patriarca se tornou psicólogo. Hoje, ele atende os dependentes químicos.

Confira a entrevista na íntegra em:

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Last Update: 18/05/2025