Há alguns dias, vi uma ilustração no jornal britânico The Guardian com a qual me identifiquei imediatamente. São quatro cenas comuns entre uma mãe e seu filho: um almoço em casa; um passeio no parque; um joelho ralado, um curativo; e um abraço de conforto na criança. Ao mesmo tempo em que vive estes momentos com o filho, a mãe é assombrada por pensamentos terríveis: crianças com pratos vazios; uma fuga entre ruínas e bombas; um menino mutilado num ataque; um abraço de desespero durante um bombardeio, a perda inacreditável de um filho.

A ilustração é da cartunista australiana Fiona Katauskas e foi publicada em 6 de junho. Seu título é When Gaza is always on your mind (em português, Quando Gaza está sempre na sua mente) e a expressão angustiada da personagem, a mesma de milhões de mães em todo o mundo, que acompanham, impotentes e com o coração nas mãos, a dor das mulheres palestinas que veem suas filhas e filhos morrerem dia após dia de fome, doença, tiros, bombas. Muito medo! Uma única mãe, médica, que atuava para salvar vidas no precário hospital em Khan Younis, perdeu nove de seus dez filhos de uma só vez. Uma dor inimaginável! Gaza está sempre em nossas mentes. Todas as mães pensam em Gaza.

Em 1945, quando os sobreviventes de Auschwitz foram revelados para o mundo em pele, ossos e horror, um frio percorreu a espinha da Humanidade. Se o Homem foi capaz de tamanho Mal, seria preciso impedir que isso se repetisse. Oitenta anos depois, as cenas sem filtro que chegam de Gaza há mais de 600 dias em nossos celulares nos mostram que falhamos. Uma menina de 12 anos, que é apenas pele, ossos e horror, diz que gostaria de voltar à escola, a pentear o cabelo e conseguir ficar de pé para rezar, mas está muito fraca. Somos todas a mãe da ilustração de Fiona Katauskas.

O que acontece em Gaza desde outubro de 2023 não é uma guerra. Lula foi o primeiro líder mundial a não medir palavras para condenar o massacre. “O que o governo de Israel está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio, porque está matando mulheres e crianças”, afirmou o presidente brasileiro há 16 meses. Na semana passada, reafirmou a denúncia em encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Paris: “genocídio premeditado de um governante de extrema direita”, acusou.

O crime de extermínio perpetrado por Benjamin Netanyahu já tirou a vida de 55 mil pessoas, dado este subestimado. Ao menos 13 mil eram crianças; mil delas, bebês com menos de um ano. Esta é a intolerável realidade da campanha israelense em Gaza, já condenada pelo Tribunal Penal Internacional e pela sociedade civil de diversos países, inclusive os que ainda insistem em apoiar esta cruel limpeza étnica, como EUA e Alemanha. O cenário é doloroso. Milhares de mortos em Gaza e o desespero das famílias palestinas. Desespero também dos familiares dos reféns que precisam voltar para suas casas em Israel.

Lula está certo. O mundo já não suporta mais ver o sofrimento do povo palestino. Enquanto escrevo, militares israelenses sequestraram um grupo de ativistas, entre eles a sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila, que levavam suprimentos para Gaza numa embarcação. Iam pelo mar pois, desde março, o governo israelense bloqueou a entrada de água e alimentos. A população continua a ser deslocada de um lado para o outro, faminta e sedenta, sob a ameaça permanente das bombas e da crueldade dos soldados sionistas, que não enxergam os palestinos como seres humanos. Em maio, num programa de TV em Israel, o político Moshe Feiglin declarou: “Toda criança em Gaza é um inimigo”. Não há mais meias-palavras: o extermínio dos palestinos é o objetivo final de Israel.

É hora de agir. Na ONU, o Brasil lidera um grupo de trabalho para acelerar a solução pacífica da questão Palestina e implementar a solução de dois Estados. Mas é preciso interromper o genocídio imediatamente. E isso só acontecerá, sem mais derramamento de sangue, com um boicote comercial e diplomático completo sobre Israel. Não há outro recurso possível e o Brasil deve liderar também este movimento.

Os países que ratificaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos têm esta responsabilidade com o povo palestino. Não apenas pelo óbvio e urgente critério humanitário. Mas também porque Gaza é um infeliz laboratório geopolítico para a extrema-direita global. O plano de Donald Trump de transformar a região num resort não é apenas uma ideia desrespeitosa e indigna. É um projeto de poder. Trump, Netanyahu, Bukele, Milei, Bolsonaro e outros extremistas (como os donos das big techs que os servem) sonham com um mundo sem espaço para empatia, solidariedade, justiça ou mesmo democracia. Lutar pela Palestina é lutar pela própria Humanidade.

Ruptura com o governo de Israel!

Cessar fogo já!

Palestina Livre!

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 10/06/2025