No terceiro dia do curso Lênin e a Revolução Russa, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, destacou a ação decisiva do revolucionário russo para o sucesso da primeira revolução proletária da humanidade, em especial as Teses de Abril, documento que forneceu o programa de atuação do Partido Bolchevique durante o período revolucionário. Antes disso, porém, Pimenta dedicou uns bons minutos a explicar um problema de método da ação revolucionária prática, que eventualmente leva um militante a entrar em acordos com o imperialismo.
O primeiro exemplo usado pelo dirigente do PCO foi a forma encontrada por Lênin para voltar à Rússia. Estando no exílio, na Suíça, o dirigente bolchevique precisaria atravessar todo o território alemão, com os dois países (Rússia e Alemanha) em guerra, as chances do revolucionário russo de conseguir voltar ao país natal era nula.
“Ele procura a Social Democracia Alemã e pede aos alemães para facilitar seu retorno ao país, apresentando a seguinte questão: ‘é do interesse dos alemães que eu volte à Rússia porque sou favorável a acabar com a guerra.’ Os social-democratas sabem que a política dele é essa e conversam com o Estado-maior do imperialismo alemão, que concorda em transportar os dirigentes do Partido Bolchevique para a Rússia, com essa ideia, de que serão pessoas que farão propaganda contrária à participação russa na guerra.”
Para Pimenta, o caso mostra como é absurda a ideia de alguns esquerdistas que proclamam nenhum acordo com o imperialismo: “a alternativa era ele ficar fora da revolução até que a guerra acabasse. O partido ficaria sem a orientação política e a revolução seria derrotada”. O problema dos acordos, conclui o presidente do PCO, consiste em saber se ele será vantajoso para o seu programa ou o programa do adversário, lembrando o golpe sofrido pelo partido de esquerda francês França Insubmissa pela direita nas eleições do país.
Pimenta continua sua lição citando o desembarque de Lênin na Estação Finlândia, em Petrogrado (atual São Petersburgo, à época, capital do Império Russo). “Foi como um dos principais dirigentes da esquerda russa, pelas autoridades, pelos dirigentes dos sovietes, que compareceram para tentar fazê-lo aceitar a política de apoio ao governo provisório”. Não é o que o dirigente bolchevique faz, no entanto.
Uma vez na estação, Lênin faz um discurso defendendo a entrega do poder aos sovietes. Em sua chegada, o bolchevique apresenta as famosas Teses de Abril, “um documento histórico fundamental para a Revolução Russa”, destaca Pimenta.
“Ao contrário do que poderíamos esperar, a cúpula do Partido Bolchevique se rebela contra Lênin. Abre-se toda uma polêmica, que para ser compreendida, torna-se necessário retornar a 1905, quando os bolcheviques polemizam com os mencheviques e reivindicam o proletariado e os camponeses tomem o poder, no que serão acusados de oportunismo pelos mencheviques.”
Rui Costa Pimenta explica então um famoso aspecto da teoria revolucionária de Lênin, ainda hoje mal compreendida pelos marxistas contemporâneos: a revolução burguesa empreendida não pela burguesia, mas pelo proletariado. Para o dirigente russo, era fundamental estabelecer uma ditadura dos operários e dos camponeses.
“O governo revolucionário tem de ser uma ditadura, porque ele precisa esmagar a velha sociedade. É uma lição da Revolução Francesa”, destaca Pimenta.
O dirigente do PCO lembra que no caso francês, a reação organizara uma contrarrevolução, com vistas a esmagar o governo revolucionário, obrigando, por sua vez, que os revolucionários protegessem o novo regime. “O próprio Robespierre”, continua Pimenta, “explica com muita clareza que para defender a Constituição, é preciso suspender a Constituição”.
Após as considerações prévias, o dirigente do PCO destaca as Teses de Abril propriamente, que são lidas e debatidas, com a interpretação de Rui Costa Pimenta. “Oposição total e absoluta ao imperialismo. É o que diz a primeira tese”, diz Pimenta.
“O problema do imperialismo se coloca de maneira extremamente aguda, sendo o principal divisor de águas na Revolução Russa. Você tem os que estão do lado do imperialismo e os que estão contra. No primeiro grupo, todos os grupos que defendem a permanência do país na Guerra. Contra, estão os favoráveis a acabar com a Guerra.”
Após explicar os demais pontos das Teses, Rui Costa Pimenta dá um destaque maior ao 4º ponto das Teses, a qual reproduzimos abaixo:
“Reconhecer o fato de que, na maior parte dos Sovietes de deputados operários, o nosso partido está em minoria, e, de momento, numa minoria reduzida, diante do bloco de todos os elementos oportunistas pequeno-burgueses, sujeitos à influência da burguesia e que levam a sua influência para o seio do proletariado, desde os socialistas-populares e os socialistas-revolucionários até ao CO (Tchkheídze, Tseretéli, etc), Steklov, etc.
Explicar às massas que os SDO são a única forma possível de governo revolucionário e que, por isso, enquanto este governo se deixar influenciar pela burguesia, a nossa tarefa só pode consistir em explicar os erros da sua táctica de modo paciente, sistemático, tenaz, e adaptado especialmente às necessidades práticas das massas.
Enquanto estivermos em minoria, desenvolveremos um trabalho de crítica e esclarecimento dos erros, defendendo, ao mesmo tempo, a necessidade de que todo o poder de Estado passe para os Sovietes de deputados operários, a fim de que, sobre a base da experiência, as massas se libertem dos seus erros.”
Para o dirigente do PCO, o ponto acima descrito é “fundamental” do programa das Teses, diz Pimenta. “Observe que a orientação é ‘diante do governo burguês, desmascarar, denunciar… é um governo imperialista, é um governo a favor da guerra…”, ao que acrescenta, “diante dos partidos de esquerda, que tem a mesma política, a tática não é a mesma. Não é desmascarar ou denunciar, é ‘explicar pacientemente os erros dessa política’”.
Segundo Pimenta, as contradições entre os interesses dos trabalhadores e os do imperialismo são muito grande, tornando as ilusões com o regime imperialista frágeis, porém, têm confiança na esquerda pequeno-burguesa, o que obriga a vanguarda revolucionária a explicar os erros desse setor da esquerda. A forma de fazer isso, indicada por Lênin e destacada pelo marxista brasileiro, é de a esquerda pequeno-burguesa rompa com a burguesia e se oriente pela tomada do poder.
O dirigente do PCO explica ainda que nessa orientação está a diferença da atuação do Partido com elementos como Ciro Gomes, Simone Tebet e Geraldo Alckmin, e o tratamento dado a lideranças populares com autoridade sobre os trabalhadores.
“A revolução é um filme de ação como Velozes e Furiosos, ao passo que o período não-revolucionário é o mesmo filme, porém muito mais devagar. Com essa política, Lênin derrubou o regime burguês em sete meses. Nós não conseguiremos fazer o mesmo em sete meses porque não estamos no mesmo período.”
Muitas outras considerações e debates se originaram das Teses de Abril, que centralizou as atenções no terceiro dia de aula. Para assisti-la e ver muito mais, visite https://www.youtube.com/watch?v=dQw4w9WgXcQ, inscreva-se já e participe dessa importante atividade de formação política.