Trump anuncia suposta venda do TikTok nos EUA: “grupo de pessoas muito ricas” estaria interessado em comprar plataforma; Especialistas veem mais teatro do que plano real, e alertam que sem o algoritmo, qualquer venda será apenas uma fachada para fins políticos


Em mais um movimento que mistura política, tecnologia e relações internacionais, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump afirmou neste domingo (29) ter encontrado um “grupo de pessoas muito ricas” interessado em adquirir as operações norte-americanas do TikTok. A declaração foi dada durante uma entrevista à rede Fox News, reacendendo o debate sobre a presença da empresa chinesa no país e os desdobramentos de uma possível mudança de controle.

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O anúncio de Trump surge em meio ao prolongado impasse envolvendo a exigência do governo americano para que a ByteDance — empresa-mãe chinesa do TikTok — venda suas atividades nos Estados Unidos ou enfrentará um banimento nacional. O prazo mais recente, fixado para 17 de setembro, já foi adiado três vezes desde o início do ano, evidenciando a complexidade das negociações e a resistência por parte da China.

“Temos um comprador para o TikTok”, declarou Trump com seu tom característico de confiança. “Acho que provavelmente precisarei da aprovação da China, e acredito que o presidente Xi fará isso.” Sobre os possíveis nomes por trás do grupo de investidores, o ex-presidente preferiu manter suspense: “Vou contar em cerca de duas semanas… É um grupo de pessoas muito ricas.”

Apesar da retórica otimista, especialistas alertam que qualquer acordo dependerá não apenas da concordância do governo chinês, como também da disposição da própria ByteDance em ceder controle estratégico da plataforma, especialmente em relação ao algoritmo central do TikTok — ferramenta altamente sensível que define o conteúdo apresentado aos usuários.

Acordo sob lupa internacional

Segundo informações divulgadas anteriormente pelo Financial Times, a Casa Branca teria discutido um esquema envolvendo grandes fundos de capital privado americanos, como Andreessen Horowitz, Blackstone, Silver Lake e outros players poderosos do mercado financeiro.

Nesse cenário, esses grupos poderiam deter cerca de 50% das operações locais do TikTok, enquanto antigos investidores do aplicativo, como General Atlantic, Susquehanna, KKR e Coatue, ficariam com aproximadamente 30%.

Mesmo com esse esboço inicial, a realidade é que a China tem sido clara: não pretende facilitar a saída da ByteDance do controle direto da plataforma. Em abril, Pequim já havia manifestado publicamente sua oposição à venda, e as tarifas impostas por Trump ao gigante asiático na mesma época parecem ter esfriado ainda mais o ambiente de negociação.

Além disso, o fato de o algoritmo do TikTok estar registrado oficialmente como propriedade intelectual no banco de dados chinês torna qualquer transferência tecnológica um verdadeiro campo minado diplomático. Especialistas apontam que essa seria uma condição fundamental para satisfazer a ordem executiva americana, que ameaça fechar a plataforma caso ela não seja vendida.

Ironia e críticas à política externa de Trump

Se por um lado Trump tenta vender a narrativa de um acordo iminente, por outro, sua postura reflete aquilo que muitos consideram uma abordagem contraditória e improvisada diante de questões delicadas de segurança nacional e relações internacionais. Enquanto promete resolver o “problema TikTok”, ele próprio alimenta incertezas ao adiar prazos e fazer anúncios vagos, sem revelar detalhes concretos.

Sua referência pessoal ao presidente chinês, Xi Jinping, como alguém que “provavelmente fará” o que for necessário, soa quase inocente diante do histórico de tensões entre Washington e Pequim — tensões que Trump ajudou a agravar com políticas protecionistas e retóricas nacionalistas.

Se há algo claro nessa história toda, é que a China não parece disposta a ceder facilmente, ainda mais quando se trata de uma tecnologia tão valiosa quanto o algoritmo do TikTok.

Enquanto isso, o mundo aguarda ansioso para ver se os tais “investidores ricos” realmente existem ou se mais uma promessa eleitoreira está sendo costurada nas redes sociais e canais de notícias conservadores. Até agora, o TikTok não respondeu aos pedidos de comentário sobre o assunto, mas certamente observa com atenção cada movimento vindo de Washington.

Enquanto Trump tenta transformar o tema TikTok em bandeira de campanha — inclusive creditando à plataforma parte de sua popularidade entre eleitores jovens —, analistas continuam alertando que a questão vai muito além de uma simples transação comercial.

Trata-se de um jogo geopolítico onde interesses econômicos, soberania digital e segurança nacional se entrelaçam de forma complexa.

E se o passado recente ensina algo, é que confiar nas promessas do ex-presidente pode ser tão arriscado quanto baixar um app chinês sem saber quem realmente controla seus dados.

Com informações de Financial Times*

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Last Update: 30/06/2025