O TikTok cortou o acesso de seus usuários nos Estados Unidos na noite de sábado (18), pouco antes de uma lei que o proíbe entrar em vigor. A rede social, contudo, diz esperar que o presidente eleito, Donald Trump, intervenha após sua posse na segunda-feira para encontrar “uma solução”.
“Uma lei que proíbe o TikTok foi aplicada nos Estados Unidos. Isso significa que você não pode mais usar o TikTok neste momento”, avisa uma mensagem ao tentar se conectar à popular plataforma de vídeos curtos.
“Temos sorte que o presidente Trump indicou que trabalhará conosco em uma solução para restaurar o TikTok quando assumir o cargo”, acrescentou a mensagem. “Por favor, fiquem ligados!”.
O TikTok se tornou popular por sua capacidade de transformar usuários comuns em celebridades globais quando um vídeo se torna viral. Após meses de batalha judicial, a Suprema Corte dos EUA confirmou por unanimidade na sexta-feira a legislação que proíbe a rede social a partir de domingo se seus proprietários chineses não a colocarem à venda até essa data.
O tribunal superior decidiu que a lei não infringe o direito à liberdade de expressão e que o governo dos EUA demonstrou que suas preocupações sobre a propriedade chinesa da plataforma são legítimas.
“Não há dúvida de que, para mais de 170 milhões de americanos, o TikTok oferece um importante meio de expressão”, disseram os juízes. “Mas o Congresso determinou que a cessão (da propriedade) é necessária para abordar suas preocupações bem fundamentadas de segurança nacional em relação às práticas de coleta de dados do TikTok e sua relação com um adversário estrangeiro”.
A medida manteve a data efetiva da proibição da rede social em 19 de janeiro, embora legisladores e autoridades de todo o espectro político tenham pedido algum tipo de adiamento.
A lei em questão foi concebida como uma resposta à crença generalizada em Washington de que o TikTok está sendo usado pela China para fins de espionagem ou propaganda.
Nas mãos de Trump
O destino do TikTok depende, em boa parte, do futuro presidente Donald Trump. Funcionários do governo de Joe Biden, em fim de mandato, afirmaram na sexta-feira que deixarão a aplicação da lei nas mãos de Trump, que tomará posse do cargo na segunda-feira.
Neste sábado, Trump declarou que analisará cuidadosamente a questão a partir de segunda-feira e que uma “suspensão de 90 dias” será “provavelmente decretada” esse dia.
Em 2020, Trump tentou proibir o TikTok, mas agora se mostra favorável à continuidade do funcionamento do aplicativo nos Estados Unidos. O republicano discutiu sobre esse tema com o presidente chinês, Xi Jinping, em uma conversa telefônica na sexta-feira.
O CEO da rede social, Shou Chew, agradeceu a Trump por seu “compromisso em trabalhar” em conjunto para “encontrar uma solução”. A rede social tem realizado um intenso lobby para evitar a aplicação da norma, incluindo a anunciada participação de Chew na posse do republicano.
Antecedentes
Em abril, congressistas republicanos e democratas aprovaram uma lei destinada a impedir que as autoridades chinesas acessem dados de usuários de redes sociais nos Estados Unidos ou tentem manipular a opinião pública.
O Departamento de Justiça, que seria responsável por aplicar a lei, disse em um comunicado que sua implementação “será um processo que se desenvolverá ao longo do tempo”, em um aparente sinal de apoio a um adiamento.
O texto teoricamente exige que os provedores de acesso à Internet e de armazenamento de dados, assim como as lojas de aplicativos, bloqueiem downloads e atualizações do aplicativo chinês a partir da meia-noite de sábado para domingo.
A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, chamou as últimas declarações do TikTok de “manobra”. “Não vemos razão para o TikTok e outras empresas agirem antes que o governo Trump tome posse na segunda-feira”, disse.
Além do TikTok, todos os aplicativos da ByteDance nos Estados Unidos foram apagados, incluindo outra rede social chamada Lemon8, para a qual vários “TikTokers” migraram.
Alternativas chinesas
A lei prevê um prazo de 90 dias se a Casa Branca puder mostrar que está caminhando para um acordo viável, mas a ByteDance, empresa matriz do TikTok, e Pequim rejeitaram categoricamente uma venda até agora. Vários investidores americanos estão interessados no aplicativo.
O empreendedor Frank McCourt está disposto a investir US$ 20 bilhões (R$ 121 bilhões) com outros parceiros pelas atividades do aplicativo nos Estados Unidos, sem seu poderoso algoritmo.
Já a startup de inteligência artificial (IA) Perplexity AI apresentou uma proposta à ByteDance para se fundir com a filial americana do TikTok, segundo informou uma fonte próxima ao caso à AFP, confirmando um relatório da rede CNBC.
Embora a proposta da Perplexity AI não mencione um valor específico para o TikTok, a fonte destacou: “Não consigo imaginar um acordo por menos de 50 bilhões de dólares” (R$ 300 bilhões).
Enquanto isso, na plataforma, diversos criadores de conteúdo americanos publicaram vídeos relembrando seus momentos favoritos dos últimos anos e compartilhando mensagens de despedida. Muitos incentivaram seus seguidores a acompanhá-los em outras plataformas, incluindo algumas chinesas, como a RedNote.