Como Washington e Ancara mudaram o regime em Damasco
A República Árabe Síria, que resistiu bravamente desde 2011 aos ataques dos jihadistas apoiados pela maior coalizão da história, foi derrubada em 11 dias. O que aconteceu, então?
Desde 15 de outubro de 2017, os Estados Unidos organizaram um cerco à Síria, proibindo tanto o comércio com ela quanto a participação das Nações Unidas na sua reconstrução. A maioria dos sírios estava mal alimentada. A libra havia desabado: o que valia 1 libra antes da guerra, em 2011, passou a valer 50.000 quando Damasco caiu.
Além disso, forças jihadistas, apoiadas pela Turquia e armadas pelo Catar, realizaram uma ofensiva coordenada, utilizando drones controlados por conselheiros ucranianos. A retirada das forças iranianas e a limitação da atuação russa completaram o cenário de devastação.
Meyssan aponta como a combinação entre sanções econômicas e intervenções militares orquestradas pelas potências imperialistas resultou na queda da Síria, evidenciando mais uma etapa da política de saque e destruição do imperialismo no Oriente Médio.
Em 2 de dezembro, o general Jasper Jeffers III, comandante-em-chefe das Forças Especiais dos Estados Unidos, chegou a Beirute. Oficialmente, ele estava lá para monitorar a aplicação do cessar-fogo oral israelo-libanês. Dado o seu cargo, é claro que isso seria apenas uma parte de sua missão. Ele supervisionaria a tomada de Damasco pela Turquia, por trás do HTC.
Em 5 de dezembro, os Estados Unidos reataram no Conselho de Segurança das Nações Unidas as acusações contra o presidente Bashar al-Assad de usar armas químicas para reprimir seu próprio povo. Eles não levaram em conta as numerosas objeções, depoimentos e investigações que demonstraram que essas acusações eram apenas propaganda de guerra.
Em 7 de dezembro, o HTC e a Turquia tomaram a prisão de Saïdnaya. Esse é um ponto importante para a propaganda de guerra, que a apelidou de “o matadouro humano”. Afirma-se que milhares de pessoas foram torturadas, executadas e que seus corpos foram queimados em um crematório.
Em 8 de dezembro, o presidente Bashar al-Assad deu a ordem para que seus homens depusessem as armas. Damasco caiu sem resistência. Os jihadistas imediatamente desdobraram faixas impressas de antemão e colocaram o símbolo do novo regime em seus uniformes.
Em 9 de dezembro, o general Michael Kurilla, comandante das forças dos EUA no Oriente Médio ampliado (CentCom), foi a Amã para se reunir com o general Yousef Al-H’naity, presidente do Estado-Maior da Jordânia. Ele reafirmou o compromisso dos EUA de apoiar a Jordânia caso surjam ameaças da Síria durante o período de transição atual.
Em 10 de dezembro, o general Michael Kurilla visitou suas tropas e as das Forças Democráticas Sírias (mercenários curdos) em várias bases na Síria. Ele elaborou um plano para que o Daesh não saísse da zona que lhe foi designada pelo Pentágono e não interferisse na mudança de regime em Damasco.
Em 11 de dezembro, as principais facções palestinas presentes na Síria se reuniram em Yarmouk (Damasco) com delegados do HTC (Departamento de Operações Militares). Fatah e Hamas não participaram da reunião. Foi-lhes pedido que fizessem as paces com o aliado israelense.
Em 12 de dezembro, Ibrahim Kalin, diretor da Organização Nacional de Inteligência Turca (Millî İstihbarat Teşkilatı – MIT), foi o primeiro alto funcionário estrangeiro a visitar o novo poder em Damasco.
Para validar as acusações de tortura atribuídas ao regime anterior, Clarissa Ward, decididamente em alta, encenou para a CNN cadáveres encontrados no necrotério de um hospital de Damasco.