Boato – Luiz Philippe de Orleáns e Bragança escreveu um texto sobre Rubens Paiva ser um falso mártir da época da Ditadura.
Análise
Voltou a circular na internet um texto que questiona a imagem de Rubens Paiva, afirmando que ele não teria sido um mártir da ditadura militar no Brasil. De acordo com o conteúdo, Paiva teria ligações com a VPR e teria financiado atividades guerrilheiras. O texto sugere que ele usava sua empresa para lavar dinheiro e que seu sítio em Juquitiba teria servido como base para Carlos Lamarca.
Além dessas alegações, o que chama a atenção é a atribuição do texto a Luiz Philippe de Orleáns e Bragança. O conteúdo tem sido compartilhado em redes sociais e grupos de mensagens como se fosse de autoria do político. Leia a seguir o que diz o texto que tem viralizado:
Rubens Paiva, o FALSO Mártir “Pouca coisa pode ser mais hedionda do que a Torrura. A tortura é a máxima expressão da Patifaria, da Vilânia, da Covardia. Costumo dizer que o torturador não tem alma. É um ser que perde sua centelha divina. O caso Rubens Paiva voltou a mídia através do laureado filme “Ainda estou aqui”. Mas quem era esse personagem, cujo o filme retrata um mártir, um Tiradentes moderno que morreu pela nossa Liberdade. Nada mais falso. O deputado Rubens Paiva, eleito pelo MDB, na verdade era um militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Paiva além de político, era engenheiro de formação, e por ter uma empresa, que possuía fluxo de caixa rotativo, foi designado como “lavador de dinheiro” do Partido Comunista.
Para quem não sabe, o PCB era na verdade um partido subsidiado, ou seja uma filial, do Partido Comunista da União Soviética (PCUSS). Essa agremiação recebia dinheiro de Moscou, via Montevideu, na época o Uruguai era um dos poucos paraísos fiscais por onde entrava dinheiro clandestino na América do Sul. A bem da verdade, a URSS nunca financiou diretamente a luta armada no continente. No final dos anos 1950, Nikita Kruschev, líder soviético e o presidente americano Eisenhower haviam feito um acordo em que a União Soviética não promoveria ações clandestinas, leia-se guerrilhas e rebeliões no Ocidente, em contrapartida os Estados Unidos fariam o mesmo nas áreas de influência dos soviéticos.
Por esse motivo o PCB fora proibido por Moscou a participar, promover ou financiar a Luta Armada no Brasil. Mas entre *1965 e 1973*, existiram no nosso país trinta e três (33) grupos guerrilheiros que foram à luta para combater o Regime Militar. Eles promoveram uma série de ataques a instalações militares, atentados terroristas, explosões em aeroportos, sequestro de diplomatas, sequestro de aviões, que foram desviados para Cuba. Eles mataram diversos trabalhadores em filas de banco, entre outras ações de guerrilha urbana. Formaram grupos de guerrilha rural, no Araguaia (FOGUERA) do PCdoB (Partido Comunista do Brasil, uma dissidência do PCB financiado pela China) e no Vale do Ribeira, a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) de Carlos Lamarca.
E foi justamente com a VPR, que Rubens Paiva se envolveu. Como lavador de dinheiro do Partido Comunista Brasileiro, Paiva passou “a financiar” as ações da VPR, uma das mais ousadas e terríveis organizações de esquerda. A Vanguarda Popular Revolucionária foi responsável por atentados, explosão no consulado americano em São Paulo, assassinatos, ataques a sedes da PMSP, assaltos com morte a bancos entre outros atos. A VPR tinha como base, um sítio de Paiva na região de Juquitiba, uma área de floresta fechada, no sul do Estado de São Paulo. Juquitiba é um lugar isolado. Um resto de Mata Atlântica que ainda existe no Brasil. Região de lagoas, de pequenas propriedades, onde a vida selvagem coabita.
Nessas matas é possível encontrar sucuris, cervos e onças. Um paraíso ecológico muito perto da BR-116, um local perfeito para se montar um grupo guerrilheiro. As ações de Lamarca chamaram a atenção das autoridades e logo o Exército e a Polícia Militar começaram a fazer buscas na região. Apavorado com a chegada dos militares, Rubens Paiva pediu que Lamarca deixasse o sítio, o que enfureceu o guerrilheiro. Na discussão o terrorista ameaçou Rubens Paiva de morte. O que Paiva argumentou; “… se Moscou descobrir que eu desvio dinheiro, para financiar tuas ações, nós dois seremos homens mortos, se não pelas autoridades brasileiras, pela justiça soviética.”
Indignado Lamarca deixou o refúgio, se embretou na selva, deu combate à tropa da Polícia Militar, justiçou (matou) o tenente PM Alberto MENDES Junior. O Diógenes do Jogo do Bicho (militante petista) também participou do crime. Mas além da luta no campo, outro braço da VPR sequestrava aviões, eles desviavam aeronaves que faziam voos de longa distância, geralmente do nordeste para São Paulo. Logo depois de decolar, os terroristas anunciavam o sequestro e desviavam o voo para Cuba, a fim de exigir do governo a troca dos passageiros por prisioneiros políticos. Dezenas de aviões foram alvos da VPR. E foi por esse motivo que o *CISA* (Centro de Inteligência e Segurança da Aeronáutica) prendeu Rubens Paiva.
Sim ele foi detido em casa. Sim ele foi preso e torturado. Provavelmente morreu na prisão. Seu corpo jamais foi encontrado. Uma vilania, um sofrimento sem fim para a família. Mas longe do mártir que o filme tenta criar. Rubens Paiva foi um agente comunista que financiou o terror. O pior do Comunismo não é o Estado Totalitário, o cerceamento de direitos, o fim das individualidades, o controle estatal do modo de vida. O pior do Comunismo é ser um Regime Antropófago que para se manter precisa “matar, matar, matar e matar” por diversas gerações até que ele se sobreponha aos direitos individuais, se transformando no espírito coletivo. Era o que teria acontecido ao Brasil, se a turma do Rubens Paiva tivesse vencido a guerra. Tão hedionda quanto a Tortura é a Mentira Coletiva que tenta mudar a História construindo falsos heróis. Criando mártires para promover uma narrativa falsa e perigosa.” por Luiz Philippe de Orleáns e Bragança.
Checagem
O texto atribuído a Luiz Philippe de Orleáns e Bragança levantou dúvidas sobre sua veracidade. Para esclarecer a questão, analisamos três perguntas principais: 1) Luiz Philippe de Orleáns e Bragança escreveu o texto Rubens Paiva, o falso mártir? 2) Além de Luiz Philippe de Orleáns e Bragança, a quem o texto foi falsamente atribuído? 3) O texto Rubens Paiva, o falso mártir tem informações corretas?
Luiz Philippe de Orleáns e Bragança escreveu o texto “Rubens Paiva, o falso mártir”?
Não há qualquer registro confiável de que Luiz Philippe de Orleáns e Bragança tenha escrito o texto. Pesquisamos em suas redes sociais e canais oficiais, e não encontramos nenhuma publicação semelhante. Além disso, o político nunca reivindicou a autoria do material.
Além de Luiz Philippe de Orleáns e Bragança, a quem o texto foi falsamente atribuído?
O mesmo texto já circulou no passado atribuído a Bráulio Flores, um comandante do Corpo de Bombeiros de Goiás. A história viralizou nas redes sociais, e Flores veio a público desmentir a autoria. Em sua conta no Twitter, ele declarou que nunca escreveu um texto sobre Rubens Paiva.
O texto “Rubens Paiva, o falso mártir” tem informações corretas?
Não. O texto contém diversas alegações infundadas e imprecisas. Primeiramente, não há nenhuma evidência concreta de que Rubens Paiva tenha financiado a luta armada ou tenha tido qualquer envolvimento com a VPR.
Além disso, documentos oficiais e investigações históricas confirmam que Rubens Paiva foi preso ilegalmente em 1971, torturado e morto sob custódia do regime militar. Seu desaparecimento foi um dos casos mais emblemáticos da repressão da época, e o Estado brasileiro já reconheceu sua responsabilidade no crime. Alegar que Paiva foi um “agente comunista que financiava o terror” vai contra os fatos históricos amplamente documentados.
Conclusão
O texto que circula na internet atribuindo a Luiz Philippe de Orleáns e Bragança a autoria de um artigo sobre Rubens Paiva é falso. O conteúdo já havia sido disseminado com outra autoria no passado e contém diversas informações falsas sobre a vida de Paiva. Não há qualquer evidência de que ele tenha financiado a luta armada, e sua morte foi reconhecida como um crime da ditadura. Dessa forma, classificamos a história como fake news.
Fake news ❌
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