Testemunha revela abordagem violenta por militares em 1973: ‘Eles saíram do carro da Folha e nos agarraram’

Da Redação

Dez anos após a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ter entregue o seu relatório com 29 recomendações, apenas duas foram completamente cumpridas pelo Estado brasileiro.

Em reportagem sobre o tema, a TV Cultura entrevistou o ex-deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), que presidiu a Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo, a Comissão Estadual “Rubens Paiva”.

Foi a primeira do País. Precedeu, inclusive, a Comissão Nacional.

Em entrevista à TV Cultura, Adriano Diogo denuncia mais uma vez a participação da Folha de S. Paulo em sua prisão por agentes da ditadura militar, em 17 de março de 1973.

Na época, Adriano era aluno de Geologia na USP e fazia parte do movimento estudantil.

No vídeo acima, Adriano resgata o momento da sua prisão, em 17 de março de 1973:

E no sábado, dia 17 de março, nós voltamos para casa. Voltamos de dar aula. 

— Olhamos, estava tudo em paz.  Só tinha um carro da Folha de S. Paulo, um caminhão-baú da Folha de S. Paulo no borracheiro, em frente à minha casa. Os militares saíram do carro da Folha de S. Paulo e crau. Pegaram a gente.

Eles me algemaram, me arrastaram pelas escadas, fui na garagem, eles me jogaram dentro do Opala, colocaram uma bomba na minha mão, me encapuzaram.

Eu entrei no pátio da delegacia, já comecei a apanhar, apanhar, a tomar porrada.

Aí, eles me tiraram o capuz, veio o Ustra [Carlos Alberto Brilhante Ustra] com revólver 45, muito nervoso.

–Ele tremia mais do que eu. E falava assim: ‘você sabe onde você está?’ Eu disse: ‘não tenho a mínima ideia’. Ele disse: ‘você está na antessala do inferno’.

Adriano foi levado para o DOI-Codi, o principal centro de tortura da ditadura militar em São Paulo, onde foi torturado pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ficou preso durante um ano e meio.

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