Os elementos químicos terras raras até agora não eram conhecidos da opinião pública, mas muito familiares para o setor produtivo de tecnologia mais recente. São vários componentes eletrônicos de uso corrente como a tela sensível ao toque do celular ou computador, tubos fluorescentes, turbinas eólicas, os componentes de um veículo elétrico e vários outros produtos que necessitam de terras raras para serem produzidos. Os minérios de terras raras são um grupo de 17 elementos químicos, incluindo lantânio, neodímio, térbio e disprósio que tem uma extração e processamento complexos e caros. Além disso, a China domina entre 60% e 90% das reservas mundiais conhecidas, o faz com que o imperialismo busque dominar as reservas de outros países, para evitar uma dependência do país que foi declarado seu principal inimigo.

Isso explica a voracidade de Donald Trump em se apossar desses minerais existentes na Ucrânia, sob a alegação de que o país tinha que pagar a dívida pelos gastos dos EUA em armas que foram entregues à Ucrânia para a guerra contra a Rússia. Uma clara espoliação em termos coloniais da Ucrânia pelo seu grande amigo, que, por outro lado, praticamente forçou a Rússia a fazer a operação militar especial que já dura mais de 3 anos. 

Reservas no Brasil e a Disputa Global

O Brasil é um dos países com maior potencial nesse setor, possuindo aproximadamente 21 milhões de toneladas de terras raras. Goiás, Minas Gerais, Amazonas e Bahia concentram as principais reservas, com projetos já em andamento. A mina Serra Verde, localizada em Goiás, destaca-se por ser a única operação fora da China a extrair terras raras pesadas de argila iônica, um tipo de depósito de processamento facilitado. No entanto, grande parte da produção brasileira já está comprometida com a China, que domina sua refinaria.

O governo brasileiro tem investido em pesquisas para ampliar a exploração e reduzir a dependência externa. Um dos projetos mais promissores é o de Poços de Caldas (MG), com previsão de operação para 2026, trazendo investimentos de R$ 1,5 bilhão e expectativa de gerar cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos. Ainda assim, há sinais de que potências estrangeiras buscam influência sobre essas reservas, visando garantir seu controle e abastecimento.

Certamente que o imperialismo está tentando se apossar de uma parte desses recursos brasileiros, principalmente aqueles possivelmente existentes em regiões ainda não pesquisadas. Além do Brasil, a Índia e a Austrália possuem as reservas mais significativas. Além da Ucrânia, há indícios que esses minerais existem também na Groelândia, motivo pelo qual Trump ameaçou se apossar da grande ilha do Ártico.

O Lítio e a América Latina

Além das terras raras, outros minerais estratégicos, como o lítio, ganham destaque na disputa global. O chamado “Triângulo do Lítio” na América Latina—Bolívia (20%), Argentina (8%) e Chile (32%) —controla grande parte das reservas mundiais desse recurso essencial para baterias. O Brasil também se destaca, com 8% das reservas globais, concentradas no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

No Brasil, a empresa Mineração Serra Verde (MSV) anunciou investimentos de 170 milhões de dólares em um projeto de terras raras da empresa em Minaçu, no estado de Goiás. A Bolívia anunciou a formação de uma empresa estatal para produzir baterias e o Brasil e o Chile exportam o mineral sem agregação de valor. 

O imperialismo ocidental demonstrou interesse crescente pelo lítio da região, influenciando eventos políticos, como o golpe de Estado na Bolívia em 2019, que impediu a posse de Evo Morales. A eleição de Luis Arce para a presidência, pelo partido de Evo Morales não resolveu a questão da exploração do Lítio, e o país está em aguda crise política com grande conflito entre Evo Morales, que busca se opor ao Imperialismo e Luis Arce, que se encaminhou para o neoliberalismo. A crise resultou na expulsão de Evo Morales do partido que fundou, Movimento ao Socialismo e a renúncia de Luis Arce de se candidatar à reeleição no próximo pleito presidencial.

A Estratégia dos EUA para Reduzir a Dependência da China

Diante da predominância chinesa na exploração e processamento de terras raras, os Estados Unidos buscam alternativas para reduzir sua vulnerabilidade. A Tesla, por exemplo, anunciou que sua próxima geração de motores elétricos utilizará ímãs sem terras raras, evidenciando esforços para encontrar substitutos. Contudo, a dependência ainda é crítica: a MP Materials, única empresa que extrai terras raras nos EUA, envia 100% de sua produção à China para refinamento, reimportando depois 80% do produto acabado.

A necessidade dessas matérias-primas impacta diretamente o setor militar: um único caça F-35 precisa de 420 quilos de terras raras para operar, enquanto um submarino pode exigir até 4.600 quilos. Para contornar essa dependência, os EUA pretendem expandir sua extração e processamento internamente, embora ainda não possuam a tecnologia necessária para isso.

Mineração e Conflitos Geopolíticos

A busca por recursos naturais intensifica conflitos em diversas regiões do mundo. A tendência do imperialismo será se tornar ainda mais voraz para obter esses recursos. O exemplo do modus operandi da União Europeia na África Central mostra uma total falta de escrúpulos e método violento de extração mineral. O modelo de exploração adotado pela União Europeia na África Central ilustra bem essa dinâmica: minerais como estanho, tungstênio e tântalo são extraídos de maneira violenta pelo grupo rebelde M23, apoiado por Ruanda, que controla as rotas de extração na República Democrática do Congo. Posteriormente, esses recursos são misturados à produção de Ruanda e exportados legalmente para a Europa.

A corrida por terras raras e minerais estratégicos remodela alianças, intensifica tensões e pode levar a novos conflitos militares. As potências globais já recorrem a sanções, pressão diplomática e manipulação das cadeias de suprimentos como estratégias de controle. No futuro, essa disputa pode evoluir para desestabilizações políticas e intervenções diretas, especialmente em países da América Latina e África.

Alternativas e Perspectivas para a Mineração

Na América Latina, a mineração historicamente representa um dilema: não é a extração mineral em si que gera problemas, mas sim o modelo capitalista de exploração, que impõe condições precárias à força de trabalho e agrava impactos ambientais. Não há nada que obrigue que a exploração mineral implique em exploração da força de trabalho nos níveis aberrantes em que existe na América Latina. A fórmula que pode evitar a superexploração é a estatização completa do setor, controlada pelos trabalhadores. Somente no socialismo a extração mineral, que é violenta, brutal e provocadora de todos os males que advém do capitalismo, como a exploração da força do trabalho, a destruição da natureza e os problemas ambientais, poderá se dar de forma racional e justa.

Enquanto a disputa por recursos críticos avança, movimentos populares resistem contra a exploração predatória, defendendo o direito dos países de proteger suas riquezas naturais. A luta pela posse dos minerais estratégicos ainda está longe de terminar, e seu desdobramento definirá os rumos da economia e da geopolítica global nas próximas décadas.

Há inúmeros exemplos de como acontece a luta popular contra a exploração mineral capitalista nos países da América Latina. Isso não quer dizer que ela não ocorra também de forma importante em outros países na África, Ásia e Oceania. Ou mesmo nos países ditos desenvolvidos, porque a mineração é um empreendimento capitalista.

O caso da República do Congo e as catástrofes causadas pela exploração mineira de coltam e outros minerais estratégicos vão além da dominação entre países. A Comissão Europeia acaba de atribuir carácter estratégico a 47 projetos extrativos em diferentes territórios europeus. Esses minerais, como as terras raras, são considerados estratégicos para a transição energética e digital e também para a indústria de armas, que agora, novamente, eles querem promover.

As terras raras são essenciais para a nova indústria tecnológica, mas também para a suposta transição energética que envolve, entre outros, a substituição de carros a combustão por carros elétricos, moinhos por painéis solares etc. No entanto, é certo que, embora não exijam combustível fóssil, requerem muitos minerais que devem ser extraídos e processados. É, portanto, uma falsa transição energética, que permanece na superfície, e que, novamente, a única coisa que faz é mudar fatores superficiais para continuar com os mesmos parâmetros capitalistas: extrativismo – consumismo – enriquecimento de uma minoria abastada.

Certamente, o neoliberalismo prevalece, mas agora, com esses magnatas no poder (Trump, Musk, Milei, etc.) o Estado trabalha em função e sob o controle das grandes empresas, e com menos escrúpulos quando se trata de destruir, poluir, matar, reprimir.

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Last Update: 20/05/2025