Foi concluído, no último domingo (21), a segunda e última parte do Módulo II do curso Brasil: uma interpretação marxista de 500 anos de história, realizado no Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP), em São Paulo. A etapa final foi dedicada ao aprofundamento de um estudo crítico da história do Brasil, não a partir das interpretações divulgadas nas escolas e universidades, mas com base em fatos concretos e análises que levam em conta a realidade nacional, do ponto de vista materialista.
Durante quatro dias, os participantes se debruçaram sobre aspectos fundamentais da formação do País durante o período monárquico, compreendendo desde o Primeiro Reinado até a Guerra do Paraguai. O curso permitiu um mergulho profundo nos acontecimentos que moldaram o Brasil, esclarecendo como a atuação do povo e da política interna foram determinantes para o desenvolvimento nacional. Abaixo, reproduzimos declarações de alguns dos participantes, que sintetizam a importância da formação recebida.
Alexandre Kranen, que veio de Curitiba especialmente para o curso, destacou ao Diário Causa Operária:
“Vim de Curitiba. É a primeira vez que venho a São Paulo, ao CCBP. Adorei, muito obrigado pela recepção. Os companheiros estão de parabéns pela organização e pelo evento em si. Uma pena que perdi o primeiro dia, mas o curso foi muito bom.
Ele não é um curso com uma visão comum da história, diferente do que a gente vê na escola ou mesmo em alguns livros. Ele tem um viés extremamente factual, mostrando a realidade do povo e da política em geral, o que acabou motivando os acontecimentos. Esse é um viés extremamente interessante.
Por exemplo, na Guerra do Paraguai, a gente esperava ouvir sobre as ações militares, mas o professor Rui surpreendeu e falou do quê? Da mobilização popular, da campanha que foi feita. ‘Solano López nos invade, e agora? O que fazemos?’. Rui deu uma perspectiva que eu não tinha. Essa visão foi muito boa mesmo. Professor Rui, parabéns por isso.”
Questionado sobre a importância do curso para sua atuação política, Kranen ressaltou:
“Vou dar um exemplo: as entradas e bandeiras. Eu tinha uma visão moralista sobre isso, achava que ‘foram lá e massacraram os índios’. Mas era a realidade daquele momento. Esse é um aprendizado muito grande: não podemos pegar a nossa realidade atual e transportá-la para outros períodos históricos. É preciso analisar a realidade com base nas condições da época. Esse é um aprendizado fantástico, assim como a valorização da obra dos bandeirantes, que realmente, fizeram do Brasil uma nação muito singular, que ao contrário de todas as outras nações do mundo, já nasceu continental.”
Já Marcos Martins, vindo de Guararema (SP), comparou a experiência com a alienação imposta pelo ensino formal:
“A impressão que eu tive é que o povo brasileiro ainda precisa conhecer muito sobre a própria história. Comparando este curso com o que é ensinado nas escolas, dá para dizer que o povo vive numa bolha — sinceramente, uma bolha muito perversa — de desconhecimento, ilusão e alienação. Acho que a burguesia conseguiu impedir que o brasileiro tivesse acesso à realidade da história do País.
A conclusão deste segundo módulo teve uma grande importância para mim, como militante, porque foi um complemento. Apesar de eu não ter assistido ao começo deste módulo, percebi que ele traz um reforço muito positivo — como o próprio Rui Costa Pimenta disse.
Está servindo também para ampliar a participação dos militantes, para incentivá-los a comparecer presencialmente, abordando vários assuntos, abrindo espaço para o debate. Isso eu achei muito legal. Diferente de assistir em casa, onde a pessoa apenas assiste. Presencialmente, ela pode debater.
E percebi que cada vez mais militantes estão vindo participar pessoalmente. Acho que por isso o curso foi ampliado, para dar esse espaço não apenas para assistir, mas também para participar.”
Militante de Osasco, Gloria Brito reforçou o caráter transformador do curso:
“A diferença entre o que a gente aprende na escola e o que aprende num curso de formação política como esse é absurda. Na escola, o que é ensinado é uma repetição de falsificações históricas produzidas dentro do meio acadêmico, que se dizem ‘críticas’, mas que, na verdade, não têm nada de críticas. É só a visão conveniente para o imperialismo — a interpretação da história que interessa que o povo tenha: uma história que desmoraliza o Brasil, que nega a importância do nosso povo e que nos impede de enxergar a nossa própria força.
Esse curso é voltado para militantes, para quem quer transformar a realidade. Para isso, é fundamental entender qual é essa realidade de verdade, e não a história inventada para nos manter passivos. O que se aprende aqui é libertador.
A aula sobre a Guerra do Paraguai foi um dos momentos mais impactantes para mim. Porque ela desmonta completamente essa ideia de que o Brasil é um país que oprime ou rouba outros povos. Se o Brasil tivesse esse caráter, teria anexado o Paraguai no fim da guerra — e não foi isso que aconteceu. Isso mostra que nunca foi do interesse do Brasil se comportar como fazem os impérios, ocupando e dominando territórios vizinhos. A verdade é que essa visão que pintam de nós serve só para tirar do povo brasileiro a confiança em si mesmo.
O Brasil é uma terra de gigantes — como já foi chamado um dia — e esse tipo de curso é essencial para recuperar essa consciência. Só com a compreensão correta da nossa história é que a gente pode lutar de verdade por um País soberano e transformar a sociedade.”
O encerramento do módulo foi marcado por um ambiente festivo, com uma apresentação da banda Malagueta, que animou os participantes após dias intensos de estudo e discussão. Com a promessa de continuidade, os militantes já aguardam ansiosamente a abertura do Módulo III, dando prosseguimento a uma compreensão mais concreta da história nacional, fundamental para que os revolucionários, trabalhadores e a juventude, consigam intervir de maneira consciente na transformação radical dessa imensa nação que é o Brasil.