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A rivalidade entre influenciadores do meio evangélico ficou evidente na última semana, quando o teólogo Yago Martins acusou o pregador Deive Leonardo de ser um “enviado do diabo” para os cristãos brasileiros.
O embate expôs uma tensão crescente dentro das igrejas, refletindo o racha entre diferentes correntes do evangelismo e o bolsonarismo gospel, conforme informações do colunista Juliano Spyer, da Folha de S.Paulo.
Deive Leonardo, conhecido por seu discurso motivacional e espiritualidade acessível, conquistou milhões de seguidores e atraiu a atenção de celebridades. Nos últimos cinco anos, acumulou 26 milhões de seguidores apenas no YouTube e no Instagram.
Já Yago Martins construiu sua audiência de quase 1,4 milhão de seguidores com um estilo mais acadêmico e crítico. Sua abordagem consiste em demonstrar erudição teológica e apontar o que considera heresias.
O conflito entre os dois gira em torno da chamada “teologia coaching”.
Em uma pregação recente, Deive declarou: “Se Deus deixou você ver, tocar, sentir, abraçar, experimentar (alguma coisa), é porque Ele tem o poder de dar nas tuas mãos muito além daquilo que você pode pensar ou imaginar”.
Yago reagiu com dureza, chamando o pregador de “satanista” e afirmando que seus seguidores são “descrentes”. Ele ainda provocou: “É a galera que troca ‘nude’ e pregação ao mesmo tempo no WhatsApp”.
O teólogo continuou com as críticas, alertando para o perigo de ignorar alguém com um “alcance gigantesco” que “convence pessoas a viver um cristianismo externo, água com açúcar, mentiroso” e as ensina a continuar “vivendo a vida que quiserem”.
Racha na direita religiosa
A polêmica reflete uma divisão interna no campo evangélico, que, visto de fora, pode parecer homogêneo. Na realidade, cristãos de igrejas históricas frequentemente desdenham a falta de erudição teológica dos pentecostais, enquanto ambos os grupos mantêm reservas sobre as igrejas neopentecostais, conhecidas por pregarem a teologia da prosperidade. Apesar das diferenças, essas denominações costumam ser toleradas pelo entendimento de que cumprem um papel evangelizador.
No entanto, o confronto entre Yago e Deive indica que essa relação pode estar “rachando”, como se viu nas eleições municipais de São Paulo. Durante a campanha, o então candidato Pablo Marçal (PRTB), que não pertence a uma igreja e rejeita o rótulo de evangélico, acusou pastores de receberem vantagens para apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB)
A disputa também se reflete na escolha do próximo presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso. O deputado e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ) critica a ligação entre igrejas e partidos de direita, argumentando que esse “monopólio” desvia votos religiosos para candidatos conservadores que nem sempre representam os interesses dos evangélicos.
Pregadores como Deive Leonardo e figuras como Pablo Marçal incomodam setores mais tradicionais porque representam um evangelicalismo que se aproxima do catolicismo popular brasileiro: sincrético, moralmente flexível e, acima de tudo, não subordinado à autoridade das igrejas.
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