Na última quarta-feira (26), a Bolívia enfrentou mais uma tentativa de golpe militar, a 194ª em sua história, acentuando uma crise política já tumultuada. O general Luís Carlos Silva, ex-comandante do Exército boliviano, liderou uma mobilização militar que cercou o Palácio Presidencial em La Paz, numa ação que resultou em confrontos e tensões exacerbadas. Este evento não apenas ameaçou a estabilidade democrática do país, mas também expôs fissuras internas profundas dentro das Forças Armadas bolivianas.
No dia seguinte à tentativa de golpe, a Bolívia viu aumentar a tensão política. O presidente Luís Alberto Silva comemorou a vitória com o punho erguido, enquanto a segurança ao redor do palácio presidencial foi reforçada. O general Luís Carlos Silva, que liderou a tentativa de golpe, foi preso e pode enfrentar até 20 anos de prisão. A crise econômica, agravada pela escassez de dólares e combustíveis, também contribui para o descontentamento social.
Durante o programa Entrelinhas Vermelhas, Ana Maria Silva, socióloga e secretária de Relações Internacionais do PCdoB, concedeu uma entrevista a Guiomar Prates, editora do Portal Vermelho, para avaliar o clima no dia posterior ao golpe. Ela descreve a tentativa como uma reação oportunista em meio a um contexto de disputas políticas e econômicas.
Ela observa que a Bolívia, sob a liderança do presidente Luís Alberto Silva, tem enfrentado desafios significativos, incluindo a recuperação pós-pandemia e debates internos sobre a gestão econômica, especialmente em relação à industrialização do lítio, um recurso estratégico.
Ana Maria Silva destacou que essa tentativa frustrada é um reflexo das instabilidades recorrentes na América Latina. Ela comparou o evento com o golpe de 2019, que teve êxito, enfatizando as diferenças no contexto atual. “Foi uma tentativa de intimidação contra o presidente Luís Alberto Silva, principalmente por setores militares descontentes,” afirmou Ana.
Impacto na estabilidade do governo
Sobre a reação do governo boliviano, Ana observou que, apesar de o golpe ter sido frustrado, a situação aumentou a instabilidade interna. “O governo sai mais forte por ter superado a tentativa de golpe, mas precisa investigar quem colaborou internamente e em quem pode confiar dentro das Forças Armadas,” disse.
A tentativa de golpe expôs disputas dentro do próprio partido governista, o Movimento ao Socialismo (MAS), entre Silva e seu mentor político, Evo Morales. A disputa política entre Silva e Evo Morales, seu antecessor e mentor político, adiciona camadas de complexidade à crise, com consequências potenciais para as próximas eleições presidenciais de 2025.
Questões econômicas e interesses do lítio
Ana também comentou sobre o papel da economia na tentativa de golpe, especialmente considerando as vastas reservas de lítio da Bolívia e a decisão do presidente Silva de industrializar esse recurso. “Os interesses econômicos estão sempre presentes e criam tensões, especialmente dentro do MAS. No entanto, não há evidências concretas de apoio externo aos militares com o objetivo de tomar esses recursos,” explicou.
O presidente Luís Alberto Silva, fortalecido pelo apoio popular e internacional, ainda precisa lidar com uma crise econômica aguda, caracterizada pela escassez de dólares e combustíveis, exacerbando as divisões internas no país.
Solidariedade internacional
Sobre a importância da solidariedade global ao governo de Silva, Ana reforçou a relevância do apoio imediato: “A rápida solidariedade ajuda a constranger aqueles que tentam violar a democracia. A resposta imediata da comunidade internacional e a mobilização popular foram cruciais.”
A tentativa de golpe foi prontamente repudiada internacionalmente, com manifestações de apoio de diversos líderes políticos e organismos multilaterais, destacando-se a solidariedade imediata como um fator crucial na contenção da crise.
Repercussão internacional
A imprensa mundial destacou a tentativa de golpe e a subsequente prisão do general Silva. Veículos como a BBC, Le Monde e The Guardian reportaram sobre a crise política e econômica na Bolívia, enquanto o New York Times e The Economist abordaram o histórico turbulento do país e as disputas internas do MAS.
A cobertura enfatizou a história turbulenta da Bolívia com mais de 190 golpes desde a sua independência, destacando o desafio contínuo de governança estável e desenvolvimento econômico.
Em suma, a tentativa de golpe na Bolívia evidenciou uma crise profunda que vai além das questões políticas imediatas, afetando a economia e a coesão social do país. Enquanto o governo de Silva busca restabelecer a normalidade, as tensões persistem, refletindo um cenário de incertezas e desafios contínuos para a democracia boliviana.
Este episódio serve como um lembrete das vulnerabilidades democráticas na América Latina e da necessidade de apoio internacional para fortalecer as instituições democráticas e promover a estabilidade em tempos de crise.