O debate entre Joe Biden e seu oponente Donald Trump na quinta-feira (27) confirmou os temores dos democratas sobre o desempenho do presidente. Diversos senadores do partido já pressionam pela escolha de um novo nome para a disputa eleitoral, que acontece em novembro.
Mesmo vencendo as primárias democratas no início deste ano, Biden ainda não foi oficialmente escolhido como candidato do partido à presidência, o que abre caminho para a escolha de outro candidato. A aprovação oficial do partido acontece na Convenção Nacional Democrata de 2024 em Chicago, entre 19 e 22 de agosto. Na ocasião, os candidatos precisam conquistar a maioria dos delegados.
O processo para a escolha de um novo candidato no lugar de Biden, no entanto, não é fácil. Uma troca dessas nunca aconteceu antes no Partido Democrata, envolve questões dos delegados conquistados nas primárias e, principalmente, o presidente teria que desistir por conta própria da disputa. Nesta sexta (28), ele reiterou que “pretende vencer esta eleição”.
Em comício na Carolina do Norte, Biden deu a entender que continuará na disputa. Ele disse que vencerá as eleições, e a coordenadora de sua campanha afirmou que ele não desistirá. A campanha de Biden ainda não se pronunciou oficialmente sobre a série de editoriais na grande imprensa americana pedindo sua desistência.
Nomes cotados para substituir Biden
Kamala Harris
A atual vice-presidente de Joe Biden, Kamala Harris, não se tornaria automaticamente a candidata democrata para 2024 se Biden decidir renunciar à presidência. Mas isso não deixa de tornar a escolha de Harris como a mais óbvia. A democrata poderia ser favorecida por já estar no governo atual e na chapa democrata, o que pode ser visto como uma continuidade natural do mandato de Biden. No entanto, sua atuação durante o governo é alvo de críticas por pouco destaque e popularidade relativamente baixa.
Gavin Newsom
O governador da Califórnia, estado mais rico dos EUA, é um dos principais nomes cotados para substituir Biden na campanha democrata. No ano passado, Newsom, de 56 anos, ganhou destaque após um debate televisionado com o governador republicano da Flórida, Ron DeSantis. A demonstração de apoio do governador a democratas em eleições fora de seu estado também foi interpretada como uma campanha paralela na Casa Branca. Newsom, no entanto, rejeitou as preocupações sobre a candidatura de Biden e afirmou que “não vai trair o presidente dos EUA”.
Gretchen Whitmer
Atual governadora do estado de Michigan, Gretchen Whitmer, de 52 anos, já passou pela Câmara dos Representantes e pelo Senado de Michigan, antes de assumir a liderança do estado desde 2019. O estado é considerado um “Swing State”, ou seja, tem possibilidade de pender para o lado republicano ou democrata na votação de novembro. Whitmer também estava na lista de candidatos para ser vice-presidente de Biden na eleição em 2020 e conseguiu um bom desempenho na votação do Partido Democrata.
J. B. Pritzker
Governador de Illinois, J. B. Pritzker tem ganhado destaque durante seu mandato, o que pode chamar a atenção dos democratas na escolha de um substituto. O político de 59 anos pode usar como vantagem a regulamentação do direito ao aborto que realizou no estado. Illinois investiu mais de US$ 23 milhões na expansão do acesso ao procedimento e à saúde reprodutiva desde 2022. Pritzker já declarou que o estado é um “santuário” para as mulheres que procuram a interrupção da gravidez.
Dean Phillips
Dean Phillips, de 55 anos, é deputado pelo estado de Minnesota. Phillips foi candidato durante as primárias democratas no início do ano, mas não teve um bom desempenho na disputa. Na ocasião, Phillips afirmou que “Biden era um bom homem, mas não seria capaz de derrotar o ex-presidente Donald Trump numa disputa eleitoral geral”.
Sherrod Brown
O senador de Ohio, Sherrod Brown, tem destaque na defesa de pautas que envolvem os direitos e proteções trabalhistas, e já se posicionou em defesa da fertilização in vitro e do direito ao aborto. Com 71 anos, Brown seria o homem mais velho dentre as escolhas dos democratas, mas ainda teria 7 anos a menos que o republicano Donald Trump.
Editorias de peso em alerta
Em editoriais publicados na noite desta sexta-feira (28), os jornais “The New York Times”, “The Wall Street Journal” e “Financial Times” e a revista “The Economist” pediram que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desista de concorrer à reeleição. As publicações expressam preocupações sobre as ameaças à democracia que poderiam surgir com um eventual novo mandato de Donald Trump e alegam que Biden não conseguiria derrotar o adversário. Ambos estão concorrendo à presidência nas eleições deste ano, previstas para 5 de novembro.
Editorial do “The New York Times”
O “The New York Times” afirmou que Biden apareceu no debate “à sombra de um grande servidor público” e de “um presidente admirável que já foi”. O jornal destaca que Biden teve dificuldade para concluir frases e diz que “já não é o homem que era há quatro anos”, quando derrotou Trump. Argumenta que é preciso outro candidato democrata capaz de vencer Trump, “um perigo para a democracia dos Estados Unidos”.
“No debate de quinta-feira, o presidente precisava convencer o público americano de que estava à altura das enormes exigências do cargo que pretende ocupar por mais um mandato. No entanto, não se pode esperar que os eleitores ignorem o que era evidente: Biden não é o homem que era há quatro anos”, diz o editorial.
“The Wall Street Journal” e “The Economist”
Em editorial, o “The Wall Street Journal” afirma que o presidente “claramente não está preparado para mais quatro anos” no poder. O jornal pede ao Partido Democrata que convença Biden a desistir da candidatura: “Vocês sabem que Trump está contando com que os democratas permaneçam com Biden, mas o país merece uma escolha melhor”.
“Uma questão inevitável é por que as pessoas mais próximas de Biden deixaram que ele concorresse novamente. Nós e muitos outros os alertamos. Foi claramente um ato egoísta da parte dele buscar um segundo mandato. Mas será que eles realmente pensaram que poderiam esconder o seu declínio do público durante toda uma campanha eleitoral?”, escreve o jornal.
A revista “The Economist” publicou um texto intitulado “Joe Biden deverá agora dar lugar a um candidato alternativo”. A revista lembra que já pedia a Biden para não se candidatar à reeleição no fim de 2022 e afirma que o presidente ficou “atordoado” e foi “incoerente” durante os “agonizantes 90 minutos de debate”.
“(Um desempenho) muito instável, francamente, para lidar com outros quatro anos no emprego mais difícil do mundo”, escreve a revista.