No último domingo (25), por ocasião do Dia da Resistência e da Libertação, o secretário-geral do Hesbolá, xeique Naeem Qassem, reafirmou o papel central da resistência na luta contra a ocupação sionista e ressaltou que a vitória de 2000 continua a iluminar o caminho das lutas atuais no Líbano, na Palestina e em todo o mundo árabe.
Qassem iniciou seu pronunciamento afirmando que a resistência libanesa nasceu da rejeição à humilhação e à ocupação, como uma resposta natural de um povo orgulhoso que se recusa a se submeter ao inimigo sionista. Segundo ele, o movimento começou a tomar forma ainda nas décadas de 1960 e 1970, sob a liderança do imã Musa al-Sadr, fundador do Movimento dos Desfavorecidos, que deu à luta libanesa uma expressão política e popular.
Ao recordar a ocupação sionista de 1978, Qassem destacou que, enquanto a ONU aprovava resoluções como a 425 — que exigia a retirada de ‘Israel’ do território libanês —, o regime sionista avançava em sua política de anexação, criando o chamado “Estado do Líbano Livre”, sob comando do colaborador major Saad Haddad. Esse projeto, conforme explicou, visava consolidar a presença sionista no sul do país e abrir caminho para a colonização da região.
A invasão de 1982 e a imposição do Acordo de 17 de Maio de 1983, considerado por Qassem como “humilhante”, representaram uma nova tentativa de domínio, que foi derrotada pela ação conjunta de setores populares, religiosos e políticos, com apoio da Síria. O avanço da resistência forçou a retirada parcial do exército sionista em 1985, que recuou para uma faixa de fronteira equivalente a 11% do território libanês. Durante os 15 anos seguintes, o sul do país permaneceu sob ocupação, mas a resistência se consolidou como núcleo da luta nacional.
Qassem enfatizou que os primeiros-ministros de ‘Israel’ passaram, a partir de 1999, a competir entre si sobre quem retiraria as tropas do Líbano, após sucessivas derrotas. Tentaram negociar com o governo libanês e com a Síria, mas fracassaram.
A retirada acabou ocorrendo de forma abrupta, na madrugada de 24 de maio de 2000, sem aviso sequer a seus próprios colaboradores. “Foi a resistência que os forçou a sair”, declarou.
A libertação do sul do Líbano, celebrada em 25 de maio, é, segundo Qassem, um marco estratégico: “foi a primeira derrota imposta ao regime sionista por uma força popular armada, sem qualquer concessão”. O dirigente destacou que não houve revanchismo ou conflito sectário nas áreas libertadas. Os colaboradores foram entregues ao Estado e os moradores locais acolhidos com tranquilidade. “Esse povo generoso e digno educa seus filhos para enfrentar o inimigo com coragem”, afirmou.
O xeique saudou as lideranças da resistência, dando especial destaque ao papel de Sayyed Hassan Nasrallah, que conduziu o Hesbolá à vitória, bem como dos mártires xeique Ragheb Harb e Sayyed Abbas al-Mousawi. “A resistência mudou o Líbano de frágil para forte, e encerrou as ambições expansionistas do inimigo”, afirmou, ressaltando que a vitória de 2000 foi o alicerce para todas as conquistas posteriores, inclusive na luta palestina.
Qassem insistiu que a resistência não é apenas militar, mas uma escolha de vida: “é uma expressão da vontade popular. Está nos mártires, nos prisioneiros, nos feridos e nas crianças que sonham estar na linha de frente”. Ele defendeu que a resistência se manifesta em diversas formas: na luta armada, na dissuasão, na prontidão e na capacidade de suportar. “As armas são apenas ferramentas. O essencial é a vontade de resistir”, declarou.
Denunciando mais de 3.300 violações sionistas desde o cessar-fogo indireto, Qassem responsabilizou os Estados Unidos pelo apoio contínuo à agressão. “O mesmo imperialismo que atua aqui atua também em Gaza e em outras partes. O Líbano deve ser forte e altivo”, afirmou. Ele cobrou ação do governo libanês tanto no Conselho de Segurança da ONU quanto internamente. “Se o Estado falhar, existem outras opções. A resistência não permanece em silêncio diante da opressão. Ela sabe esperar, mas exige ação”, advertiu.
Sobre a guerra em curso, afirmou que o Hesbolá continua mobilizado: “A guerra ainda está em curso. Todas as saudações aos que se sacrificam”. Destacou o exemplo do povo do Iêmen, que enfrentou os EUA em defesa de Gaza, da Palestina e dos valores humanos. “Temos apenas duas opções: vitória ou martírio. A ameaça e a rendição estão descartadas”.
Qassem rejeitou qualquer tentativa de dissociar o Líbano da resistência: “ninguém pode remover a resistência do solo libanês. Ela está fundida com o sangue dos seus mártires, com a própria identidade nacional”.
Por fim, saudou o apoio do Irã, do Iraque e da Síria à luta e à reconstrução do Líbano, e reafirmou a força da aliança estratégica entre o Hesbolá e o movimento Amal. “Com a ajuda de Deus, reconstruiremos nosso país ao mesmo tempo em que seguimos a luta pela libertação”, concluiu.