Taxa de juros do Copom permanece inalterada em 10,50%

O Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa básica de juros do país estável em 10,50% pela segunda reunião consecutiva, em movimento que contraria o interesse de representantes do setor produtivo, embora tenha sido esperada pelo mercado.

Segundo nota divulgada pelo Banco Central, o colegiado entende que tal decisão “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante” e “suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.

A decisão foi tomada de forma unânime pelo colegiado, destacando que “o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.

Quanto à continuidade do ciclo sem ajustes, o comitê afirmou que a política monetária deve seguir contracionista “por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta”, destacando que “eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, destacou o Copom.

Mais cedo, os presidentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) marcaram posição e pediram, publicamente, a redução da Selic.

O gesto é um endosso das instituições que defendem a linha apelada pelo presidente Lula, de que é preciso o Banco Central reduzir a Selic para não ter impactos na inflação e economia brasileira. E é contrária ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, que insiste em manter os índices altos e lidera a pressão de outros investidores que também defendem a alta.

Repercussão

A decisão do Copom ficou dentro do que o mercado financeiro esperava – contudo, na visão de Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, parece “cada vez mais difícil ou improvável” que os juros brasileiros sejam reduzidos no curto prazo.

“Isso porque a situação fiscal do Brasil vai se deteriorando, os números tendem a só piorar, já que a arrecadação está limitada e os cortes de gastos ainda nem fizeram ‘cócegas’ no que precisa ser ajustado”, justifica.

“Desta forma, por mais que os juros americanos caiam, que isso seria um limitador, eu não vejo o Brasil entrando numa situação de liquidez suficiente para partir para uma redução mais significativa de juros”.

Para Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset, o comunicado do Copom foi mais hawkish do que o comunicado da reunião anterior por destacar a desvalorização do real ou a valorização do real frente ao dólar.

Em sua nota, o Banco Central aponta como fator de risco inflacionário “uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”.

Para o economista, o comunicado foi praticamente idêntico ao da reunião de junho, com exceção da inclusão da nova metodologia de acompanhamento da meta de inflação – “e com essa inclusão, no meu entender, hawkish, na medida em que a gente está vendo uma desvalorização acentuada e uma volatilidade muito grande no câmbio, não só desde o início do ano, mas principalmente a partir de abril e com destaque para junho e julho”, explica Rogé.

Artigo Anterior

A trivialização das análises sobre a situação política de Lula nas eleições venezuelanas

Próximo Artigo

Atletas brasileiros são alvo de "combates virtuais" em novo vídeo, onde Mion critica "combateiros da rede" por disseminar notícias falsas

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!