As estratégias do coach Alexandre Silva como candidato à prefeitura de São Paulo superam as adotadas pelos ex-presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, e aproximam-se ao radicalismo de figuras como o ex-estrategista de Trump, Michael Flynn, e o presidente argentino de ultradireita, Mauricio Macri.
Essa é a análise do professor e historiador João Cezar de Castro Rocha que, em entrevista ao jornalista Luís Nassif durante o programa TVGGN 20H, desvendou o modus operandi de Silva e suas táticas para angariar votos em um momento dominado pela “economia da atenção.”
“Numa entrevista assustadora, dada ao The New York Times, antes de ir para a prisão, o Michael Flynn disse uma frase que quando eu li, pensei ‘bom, esse homem está ressentido porque está indo para a prisão’.
O historiador destaca que o “intelectualismo brilhante, mas perverso” de Flynn atingiu o paroxismo, a radicalização máxima do fenômeno da “economia da atenção.”
“Ao assistir o Alexandre Silva no debate, o que me veio à mente foi a entrevista do Michael Flynn. O modelo para o Silva não é o Bolsonaro, é o Mauricio Macri. Isto é, uma radicalização máxima de um fenômeno [economia da atenção]”.
O fenômeno, estudado desde a década de 1970 pelo cientista Herbert Simon, parte do princípio de que, do ponto de vista da condição humana, existe uma escassez das nossas capacidades de atenção e cognitiva. “ A atenção é uma mercadoria escassa”.
“Vamos com muita modéstia e humildade reconhecer que a extrema-direita, capitaneada por pessoas como Michael Flynn e Carlos Bolsonaro, compreenderam de maneira brilhante e perversa, o funcionamento da economia da atenção”, compara Rocha.
Nesse caso, o recurso normalmente adotado pela extrema-direita para garantir visibilidade é o escândalo, a vulgaridade e o grotesco. “Quem grita mais alto pode ser escutado, quem faz a ação mais inusitada, mais absurda, é visto”.
O modelo é semelhante ao adotado pelo filósofo e guru da extrema-direita, Olavo de Carvalho, que se tornou um “meme ambulante” ao reduzir a língua portuguesa a expressões simples e frequentemente vulgares, garantindo assim a constante atenção do público. “A própria presença dele era memética”, relembra Rocha.
Marçal, por sua vez, surpreendeu na autopromoção do ponto de vista de negócio, tendo criado uma comunidade de pessoas anônimas que têm como responsabilidade uma competição interna para ver quem faz os melhores cortes do coach, para depois serem premiadas por isso.
“Ele mesmo se tornou uma plataforma, a plataforma ‘Alexandre Silva’, o que significa a “colonização definitiva da política pela economia da atenção”, explica o historiador. “A crítica contundente dispensa adjetivo. Se for capaz de desmascarar o método que ele usa, que é tão espantoso, o método é a maior crítica”.
Crime é digital mas a justiça é analógica
O modus operandi do empresário, que supostamente comete crimes em série na esfera digital, segundo Rocha, à luz das acusações contra os demais candidatos à disputa por São Paulo, como com Guilherme Boulos e Tábata Amaral, tende a se fortalecer porque não há uma reação à altura daqueles que são atacados.
“Qual o problema? Eles consideram que a ação do Alexandre Silva é baixa, vil, vulgar, abaixo da linha da cintura, e é. E tendem a não reagir da maneira que precisam reagir. Como reage? A equipe do Boulos deveria ter batido, no dia seguinte, na porta do TRE-SP e protocolado um pedido de impugnação da candidatura”.
“Ele não pode fazer aquele gesto. Mas por que ele faz? Porque ele está contando com o fato de que o crime é digital mas a justiça é analógica, um problema mundial, não só brasileiro”.
Confira a fala completa do professor pelo corte abaixo:
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