
Quatro meses após anunciar novas tarifas de importação, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, consolidou sua estratégia comercial com uma série de acordos rápidos e decretos unilaterais. Mesmo sem o caos financeiro gerado inicialmente, a política tarifária elevou os impostos médios sobre importações para cerca de 17%, contra 2% no início do ano, e afetou dezenas de países, entre eles Reino Unido, União Europeia, Japão, Coreia do Sul e Brasil.
Trump celebrou os resultados como vitórias que vão gerar receita, investimentos e empregos para os Estados Unidos. A arrecadação com tarifas já ultrapassa US$ 100 bilhões em 2025, representando 5% da receita federal americana. No entanto, economistas apontam riscos: os preços ao consumidor devem subir, o crescimento pode desacelerar, e o impacto global tende a ser negativo se os EUA reduzirem a demanda por importações.
O plano inicial de Trump previa “90 acordos em 90 dias”, mas o resultado ficou aquém da meta. Apenas uma dúzia de pactos foi anunciada, muitos com termos vagos e acordos verbais. Países que aceitaram comprar mais produtos americanos ou investir nos EUA conseguiram escapar de tarifas mais altas, mas outros, como Alemanha e Índia, sofreram sobretaxas de até 25%, especialmente em setores como automóveis e eletrônicos.

A estratégia vem gerando alívio momentâneo nos mercados financeiros, ao trazer previsibilidade sobre as tarifas em vigor. No entanto, empresas já preveem repasses de custo aos consumidores. Gigantes como Adidas e Unilever sinalizam aumentos de preços nos EUA, o que pode prejudicar a popularidade de Trump, especialmente entre eleitores de baixa renda, base do Partido Republicano.
Internacionalmente, os efeitos colaterais se acumulam. Países como Reino Unido e Índia buscam novas alianças, enquanto China e México continuam em negociações incertas com Washington. A imposição de tarifas também levou aliados tradicionais a questionarem a confiabilidade dos EUA como parceiro comercial. Especialistas alertam que a ordem global de comércio pode entrar em realinhamento profundo, com consequências duradouras.
Mesmo com ganhos imediatos em arrecadação, o cenário a médio e longo prazo permanece incerto. Trump aposta na centralidade dos EUA na economia global, mas o risco de isolamento e a reação de parceiros comerciais podem comprometer os objetivos industriais e geopolíticos da política tarifária. Enquanto isso, os consumidores americanos já começam a sentir os efeitos no bolso.