O “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é ineficaz até para os próprios norte-americanos, segundo o economista Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard e referência mundial em comércio internacional.
“Há uma boa chance de que, no final das contas, isso seja autodestrutivo”, afirmou Rodrik durante o seminário Globalização, Desenvolvimento e Democracia, realizado pelo BNDES e pela Open Society Foundations no Rio de Janeiro, no último dia 20.
Rodrik destacou que as tarifas de importação — principal arma da política externa de Trump — não garantem a reconstrução da indústria americana nem a geração de empregos melhores para a classe média.
A análise de Dani Rodrik desmonta o discurso central de Trump, que vende as tarifas como solução para fortalecer a economia doméstica. Para o economista, sem uma estratégia ampla de política industrial e social, o protecionismo tende a ser apenas um atalho populista, que prejudica parceiros comerciais e não entrega ganhos duradouros nem para os americanos.
“O problema com a América de Trump não é o nacionalismo econômico, é que Trump não está adotando políticas que sejam nacionalistas o suficiente. Não está servindo sequer ao interesse econômico americano”, concluiu.
Impacto limitado e contradições internas
Segundo o economista, sobretaxar produtos pode até elevar a arrecadação ou aumentar a margem de lucro de segmentos industriais, mas não há vínculo direto entre ganhos empresariais e inovação, investimento ou geração de empregos de qualidade.
“As tarifas apenas aumentam a lucratividade de certos segmentos da manufatura. Mas não está claro se isso se traduz em inovação, em investimento nos trabalhadores ou em maior competitividade. Muitas vezes, os lucros maiores acabam direcionados apenas para gestores e acionistas”, disse.
Rodrik defendeu que tarifas só fazem sentido se forem temporárias e associadas a uma estratégia doméstica consistente, algo ausente na política de Trump. “As tarifas são um escudo temporário, mas não são o principal instrumento pelo qual você atinge objetivos de fortalecimento industrial ou geração de bons empregos”, completou.
Brasil entre os alvos do tarifaço
O Brasil está diretamente afetado pela ofensiva protecionista americana. No último dia 6, entrou em vigor a tarifa de 50% sobre parte das exportações brasileiras — medida que atinge 35,9% das mercadorias enviadas aos EUA, equivalentes a 4% do total das exportações nacionais.
Embora cerca de 700 itens tenham ficado de fora, o impacto sobre setores como carnes, café e máquinas levou o governo a lançar o Plano Brasil Soberano, com medidas emergenciais de crédito, adiamento de impostos e busca de novos mercados.
Modelo chinês em contraste
Ao analisar experiências internacionais, Rodrik citou a China como contraponto ao modelo de Trump. Segundo ele, o país asiático adotou políticas industriais e tecnológicas de longo prazo voltadas para os próprios interesses nacionais, o que resultou em crescimento econômico robusto.
“A China tem seguido políticas que promovem seus próprios interesses econômicos acima de tudo. Mas, como resultado, essas políticas foram, em sua maioria, bem planejadas em termos de crescimento”, avaliou.
Repercussões no seminário
As críticas ao protecionismo de Trump também foram reforçadas por Alex Soros, presidente do Conselho da Open Society, que lamentou o fechamento da Usaid, agência de ajuda externa dos EUA. Segundo Soros, cortes em programas humanitários já custaram vidas em países pobres.
“Falando como um americano, isso não é um interesse americano”, disse.
Na ocasião, a Open Society anunciou um plano de investimentos de oito anos para América Latina, com foco em povos indígenas, comunidades afrodescendentes e mulheres, tendo Brasil, Colômbia e México como prioridades.
Com Agência Brasil