Produtores recebem menos por café, suco de laranja e derivados de petróleo.
Queda no atacado abre espaço para preços menores nas prateleiras.
O Brasil está conseguindo absorver o impacto do tarifaço de Donald Trump sobre produtos brasileiros com relativo sucesso. A consequência mais visível até agora é a queda da inflação ao produtor, indicador que mede os preços no atacado e antecipa movimentos da inflação ao consumidor.
Em julho, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE, recuou 0,30% frente a junho, no sexto resultado negativo seguido. No acumulado de 2025, a retração já chega a -3,42%, enquanto em 12 meses a alta é de apenas 1,36%, mostrando forte desaceleração.
A pressão baixista veio principalmente dos alimentos, especialmente daqueles exportados para os Estados Unidos.
O café apresentou queda acentuada de 6,20%, reflexo do início da nova safra e da redução de custos de produção. O suco de laranja também recuou, diante da demanda internacional enfraquecida, enquanto os derivados da soja seguiram pressionados por excesso de oferta e baixa nas cotações externas. O açúcar, por sua vez, caiu 4,31%, acompanhando a trajetória internacional após aumento de produção em grandes exportadores.
O setor de refino de petróleo e biocombustíveis também contribuiu para conter os preços. Em julho houve leve alta de 0,17%, mas o acumulado no ano ainda registra queda de -5,22% e, em 12 meses, recuo de -4,28%. Os derivados mais consumidos — como diesel, gasolina e óleos combustíveis — permanecem mais baratos do que em 2024, um fator decisivo para aliviar custos em toda a economia.
A metalurgia registrou retração de 1,65%, a sétima seguida, acumulando perda de 11,01% em 2025. Já as indústrias extrativas, puxadas pelo minério de ferro, tiveram alta de 2,42% no mês, mas continuam com forte queda no ano (-12,82%) e em 12 meses (-9,85%).
O IPP, calculado pelo IBGE, acompanha os preços “na porta de fábrica”, sem impostos ou fretes, refletindo o quanto o produtor recebe ao vender para o varejo ou para outras indústrias. Quando esses valores recuam, há maior espaço para descontos ao consumidor final.
Por enquanto, os números de julho indicam que, mesmo sob pressão do tarifaço de Trump, o Brasil consegue administrar os impactos. A queda de preços em itens estratégicos como alimentos e combustíveis abre caminho para uma inflação mais baixa nas prateleiras, beneficiando diretamente o consumidor.
