Três em cada quatro brasileiros não têm dúvidas: o tarifaço de Donald Trump contra os produtos nacionais é política pura. A pesquisa Ipsos-Ipec, divulgada nesta terça-feira (12), mostra que 75% veem essa motivação na taxa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos. Apenas 12% acreditam que se trata exclusivamente de uma questão comercial, enquanto 5% enxergam as duas razões combinadas. O recado é claro: para a grande maioria, o Brasil está sob um ataque direto à sua soberania econômica e diplomática.

O levantamento, realizado entre 1º e 5 de agosto, um dia antes de a medida entrar em vigor, entrevistou 2 mil pessoas em 132 cidades e tem margem de erro de dois pontos percentuais. A percepção de que se trata de retaliação política é majoritária em todas as regiões, faixas etárias e níveis de renda, alcançando 80% entre pessoas de 45 a 59 anos e 77% no Nordeste e no Sudeste. Entre católicos, 76% compartilham dessa visão; entre evangélicos, o índice é de 74%. 

Leia mais: Governo Lula rebate novas agressões dos EUA à soberania do Brasil

Maioria defende retaliações

Ao mesmo tempo, quase metade da população deseja que o país responda na mesma moeda: 49% são favoráveis à aplicação de tarifas elevadas sobre produtos norte-americanos, enquanto 43% discordam e 7% não têm opinião formada. Entre os que apoiam a retaliação, o grupo mais expressivo é formado por eleitores do presidente Lula (61%), jovens de 16 a 24 anos (55%), moradores do Norte e Centro-Oeste (58%), pessoas com ensino superior (53%) e mulheres (51%). Para esse grupo, reagir é questão de respeito: o Brasil não pode aceitar um papel de coadjuvante no comércio internacional.

Como resposta, Lula conversou por telefone nesta última segunda-feira (11), com Xi Jinping. O presidente chinês afirmou que a China “está pronta para trabalhar com o Brasil para dar o exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do sul global”. Já Lula declarou que os dois países vão ampliar a cooperação em áreas como saúde, energia, economia digital e tecnologia espacial.

Leia mais: Lula: “O governo vai garantir que nossos exportadores não tenham prejuízo”

Tio Sam em baixa

O desgaste na imagem dos Estados Unidos também ficou evidente. Antes da crise, 48% avaliavam positivamente o país; 15% tinham percepção negativa. Depois do tarifaço, 38% dizem que a imagem piorou, 6% consideram que melhorou e 51% afirmam que permaneceu a mesma. No grupo que apoiou Lula nas eleições, mais da metade (52%) passou a ter visão mais negativa; já entre os que votaram em Bolsonaro, a maioria manteve a avaliação anterior

A pesquisa revelou ainda que, para 68% da população, o Brasil deve priorizar acordos com outros parceiros, como China e União Europeia. Esse índice sobe para 75% entre os que votaram em Lula. Mesmo no segmento que preferiu Bolsonaro, a maioria (59%) concorda com a diversificação. Reduzir a dependência de um único mercado é questão de segurança econômica e política.

Leia mais: Tarifaço de Trump entra em vigor; governo Lula vai socorrer setor produtivo

Medidas negociáveis. Soberania, não!

Entretanto, parte do empresariado teme os efeitos de uma retaliação ampla, especialmente em setores que dependem de insumos norte-americanos, como o farmacêutico e o de óleo e gás. Por isso, a orientação do presidente Lula é evitar medidas generalizadas e concentrar esforços em ações pontuais e estratégicas. Entre as propostas discutidas, está a suspensão de direitos de propriedade intelectual em áreas sensíveis, como medicamentos e defensivos agrícolas, medida ainda em análise.

Mesmo com divergências sobre a forma e a intensidade da resposta, a leitura da pesquisa é de que, para a maioria dos brasileiros, o tarifaço não é fruto de disputa comercial, mas de uma ação política hostil. Nesse tabuleiro global, preservar a soberania exige firmeza, inteligência e capacidade de construir novos caminhos para o país. 

Da Redação

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 12/08/2025