Tarifa de Trump contra o Brasil expõe tensão diplomática e revela setores intocáveis dos EUA

A decisão do ex-presidente Donald Trump — reeleito e já em segundo mandato — de aumentar de 10% para até 50% as tarifas sobre produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto de 2025, gerou reações duras no campo diplomático e acendeu alertas no setor produtivo. A medida afeta itens essenciais da agroindústria nacional, como carnes, grãos e café, e escancara o uso da política comercial como instrumento de pressão internacional.

Para Elias Tavares, cientista político e especialista em relações institucionais, o tarifaço tem endereço certo e motivação estratégica.

“Trata-se de um gesto político travestido de ação econômica. A lista de produtos atinge diretamente áreas em que o Brasil é competitivo e, ao mesmo tempo, preserva setores nos quais os EUA não podem abrir mão da parceria.”

Agronegócio na mira, mas com exceções simbólicas

Na lista de produtos atingidos estão carne bovina e suína, milho, arroz, soja, frango, peixes e hortaliças — todos com forte peso nas exportações. Mas um detalhe chamou a atenção de analistas: o suco de laranja foi poupado.

A escolha, segundo Tavares, não é casual. A indústria de suco é altamente integrada entre os dois países, com cadeias produtivas interdependentes e forte peso na Flórida, estado-chave para o capital político de Trump.

“A laranja não ficou de fora por acaso. Ela ficou de fora porque é estratégica demais para ser sacrificada. Isso demonstra que a ação não é contra o agro como um todo, mas contra o que o Brasil representa em termos de autonomia e projeção internacional.”

Embraer também fora da linha de tiro

Outro setor que escapou ileso foi o da aviação civil. Aeronaves, motores e turbinas — setores diretamente conectados à Embraer — não sofreram novas tarifas. A leitura é clara: os EUA evitaram qualquer risco a contratos sensíveis, parcerias tecnológicas e dependências industriais com o Brasil.

“O que foi taxado revela o que eles querem pressionar. O que foi poupado revela o que eles não podem perder”, sintetiza o analista.

Governo aciona OMC, mas EUA ignoram canais formais

A resposta do governo Lula foi institucional: o Brasil acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC), enviou uma carta oficial à Casa Branca e iniciou tratativas internas para medidas de retaliação. Até o momento, o governo norte-americano limitou-se a manifestações genéricas nas redes sociais.

Para Tavares, o episódio representa mais do que um atrito comercial.

“Ignorar os caminhos institucionais da diplomacia e agir de forma unilateral enfraquece os protocolos da convivência internacional. É um recado perigoso, não apenas para o Brasil, mas para o sistema multilateral como um todo.”

Reação é esperada, mas reposicionamento é necessário

Internamente, o tarifaço fortaleceu o discurso de soberania e rendeu apoio político ao governo. No entanto, Tavares alerta que o momento exige mais do que resposta reativa: trata-se de uma chance para o Brasil se reposicionar globalmente.

“O suco de laranja ficou de fora, mas o Brasil continua na prensa. É hora de transformar retaliação em estratégia. Soberania não se defende só com indignação — se conquista com protagonismo.”

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Last Update: 05/08/2025