No 7 de setembro de 2025, na Avenida Paulista, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, jogou fora a imagem de moderado e assumiu de vez a retórica mais radical do bolsonarismo. Em tom inflamado, atacou o Supremo Tribunal Federal, mirou o ministro Alexandre de Moraes e repetiu inúmeras vezes que Jair Bolsonaro é o único nome da direita.

Logo de início, deixou claro que seu discurso não era de governador, mas de cabo eleitoral: “Só existe um candidato para nós: Jair Messias Bolsonaro”. E, em tom de confronto, insistiu: “Não podemos ser mais tímidos, não sejamos tímidos, vamos defender isso com toda a força da nossa alma”. Ao falar sobre os condenados pelos atos de 8 de janeiro, Tarcísio pregou a libertação geral: “Essa anistia, assim como foi em 79, tem que ser ampla, tem que alcançar todo mundo, tem que ser irrestrita”.

Essa fala radicalizada tem efeitos políticos claros. Tarcísio se apresenta como um pau-mandado de Bolsonaro, repetindo ataques ao Judiciário e ecoando narrativas de perseguição. Com isso, dificulta qualquer tentativa de se diferenciar como “bolsonarista moderado” e, ao contrário, abre espaço para Lula.

Diante de uma radicalização tão extrema, o presidente e a esquerda ganham a chance de reconstruir uma frente ainda mais ampla do que em 2022. Uma frente política que se fortalece justamente porque Lula passa a ser visto como porto seguro. Um candidato da moderação, de respeito às instituições, ao Judiciário e à democracia.

O contraste salta ainda mais aos olhos porque Tarcísio, no próprio 7 de setembro, ignorou o sentido histórico da data. Diante da maior bandeira dos Estados Unidos já vista numa manifestação no Brasil — que ocupava quase um quarteirão inteiro da Paulista — não disse uma palavra sobre soberania, independência nacional ou resistência aos ataques externos. Ficou em silêncio sobre o tarifaço imposto por Washington, que elevou em 50% as tarifas contra produtos brasileiros. Em vez de defender o Brasil, preferiu repetir o catecismo de Bolsonaro.

O discurso, portanto, mostra um governador que não fala como estadista, mas como militante radical. Essa escolha pode até agradar à base mais fiel, mas entrega ao adversário — o presidente Lula e a esquerda — a oportunidade de reconstruir uma frente ampla e ampliar sua conexão com o centro político. Na prática, Tarcísio ajuda Lula a consolidar ainda mais o espaço de equilíbrio e moderação no cenário nacional.

Confira abaixo a íntegra do discurso de Tarcísio de Freitas.

Discurso de Tarcísio de Freitas – 7 de setembro de 2025

A gente vai justamente acompanhar a fala do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
203 anos de independência no Brasil.

Mas eu pergunto: é possível celebrar a independência sem liberdade? Dá para ter independência sem liberdade? Não existe independência sem liberdade.

Essa festa aqui não está completa, porque Jair Messias Bolsonaro não está aqui conosco.

E aí, a gente precisa se perguntar: liberdade, democracia representativa, Estado de Direito… por que às vezes a gente é tão tímido para defender esses ideais? Não podemos ser mais tímidos, não sejamos tímidos, vamos defender isso com toda a força da nossa alma.

Vamos defender a liberdade. Vamos defender o Estado de Direito. Vamos defender a nossa democracia representativa.

E é fundamental que, para isso, as pessoas possam ser avaliadas nas urnas. Para isso, é fundamental que nós tenhamos Jair Messias Bolsonaro na eleição do ano que vem. Só existe um candidato para nós: Jair Messias Bolsonaro.

Nós estamos aqui hoje para aclamar por justiça: justiça para Débora, justiça para o Cresão, justiça para o Lucas Mateus, justiça para a Juliana, justiça para os ambulantes, justiça para aqueles que estão presos injustamente, aqueles que merecem o nosso respeito.

E agora, a gente está assistindo a um julgamento. A história tenta ser reescrita. A esquerda viveu de narrativa a vida toda. O tempo todo, a esquerda procurou reescrever a história.

Vejam: eles dizem que foram responsáveis pela luta pela democracia. Justamente eles que assaltaram bancos, que praticaram atentados terroristas, que cometeram assassinatos e que se beneficiaram da anistia.

Aqueles que hoje falam “sem anistia” foram beneficiários da anistia no passado. Se o PT existe hoje é porque houve anistia em 79, senão não existiria.

Aqueles que gritam “sem anistia” foram justamente os beneficiados pela anistia.

E agora nós temos um julgamento de um crime que não existiu. Tentam criar uma narrativa: o 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe de Estado.

E para quem assistiu os embates entre a PGR e a defesa, deve ter ficado impressionado, porque alguns pontos foram comuns: todos os advogados questionaram o cerceamento de defesa. Todos os advogados disseram: “não conseguimos fazer a nossa defesa”. Será que isso nos dá um julgamento justo?

Todo mundo, e vários analistas foram para a TV comentar, disseram: não existe uma ligação entre Punho Verde e Amarelo, não existe uma ligação entre o 8 de janeiro e Jair Bolsonaro, não existe um documento, não existe uma ordem.

Do que a gente está falando então? Que história é essa? Como é que vão condenar uma pessoa sem nenhuma prova?

Porque eles têm uma única delação de um colaborador que mudou a versão seis, sete vezes em três dias, sob coação. Essa delação vale para alguma coisa? Uma delação mentirosa.

Não se pode destruir a democracia sob pretexto de resgatá-la. A gente não topa a impunidade. A impunidade deixaria uma ferida aberta, deixaria uma cicatriz, mas também a gente não pode topar uma condenação sem prova.

A condenação sem prova abre uma ferida que nunca vai fechar.

E se a gente está aqui hoje defendendo uma anistia, é porque a gente sabe que esse processo está maculado. A gente sabe que esse processo está viciado.

E essa anistia, assim como foi em 79, tem que ser ampla, tem que alcançar todo mundo, tem que ser irrestrita.

Essa anistia tem que ser garantia da liberdade. Essa anistia tem que nos fazer reencontrar a nossa tradição de reconciliação, a nossa tradição de pacificação, para que a gente possa ter um país unido, um país que vai se livrar das garras do PT, um país que vai se reencontrar com a maior liderança de direita que é Jair Messias Bolsonaro.

Lembram que durante muito tempo a direita ficou envergonhada? A direita não falava, a direita não ia para a rua. Isso mudou. A direita veio para a rua.

Nasceu uma direita que tem como slogan a liberdade. Nasceu uma direita anti-sistema. Nasceu uma direita que não aceita o arbítrio. Nasceu uma direita que quer um Estado pró-business. Nasceu uma direita que não aceita a corrupção. Nasceu uma direita que quer transformar o Brasil.

Vocês representam essa direita. Esse movimento nasceu com Bolsonaro. Esse movimento vai crescer com Bolsonaro. Não adianta tentar calar sua voz. A voz dele está aqui representada, está aqui com todos vocês.

E é por isso que, para nós, só existe um líder.

Olha quantas vezes jornais, inclusive de fora, como o New York Times, criticaram a Justiça brasileira e mostraram os excessos.

Recentemente, uma matéria do New York Times perguntou: “para defender a democracia, a Suprema Corte não está indo longe demais?”. E eles citaram as determinações de Moraes para pegar empresários de um grupo de WhatsApp que falavam contra o Lula, que manifestavam seu desapreço e sofreram medidas judiciais dentro daquele inquérito interminável das fake news.

Será que isso faz sentido? Faz sentido para algum de vocês? Será que a gente está vivendo num Estado livre? Será que a gente está vendo realmente um Estado democrático? Certamente não.

É esse cenário que a gente tem que mudar.

E é por isso que a gente está aqui para defender a anistia. É por isso que a gente está aqui para dizer: Arthur Lira, paute! Paute a anistia!

Qual é o recado que vocês querem dar ao Arthur Lira hoje? Qual é o recado que a gente vai dar ao presidente da Câmara hoje? Presidente nenhum pode conter a vontade da maioria do plenário. Pode se opor à vontade de mais de 350 parlamentares?

Então, Arthur, paute a anistia, deixa a Casa decidir. E eu tenho certeza que ele vai fazer isso, porque trazer a anistia para a pauta é trazer a justiça, é resgatar o país.

Não podemos nos afastar do império da lei.

Eu vou citar aqui uma fala de um magistrado do Supremo Tribunal Federal, uma fala recente, que faz todo sentido. Ele diz:

“Na Constituição se fala em independência e harmonia entre os poderes, o que demanda um equilíbrio institucional e instituições justas, responsáveis com a sociedade e com o bem comum. No Estado devemos ter o império das leis. A lei e a racionalidade devem funcionar como fator de estabilidade. O Estado de Direito fortalecido demanda a autocontenção do Judiciário. O bom juiz deve ser reconhecido pelo respeito e não pelo medo.”

Quem disse isso foi o ministro André Mendonça.

O bom juiz deve ser reconhecido pelo respeito, não pelo medo. Deve ser reconhecido pela aplicação correta das leis.

Se toda trama, todo enredo, toda narrativa foi construída em cima de uma delação mentirosa, se não tem uma ordem, se não tem um texto, se não tem um áudio vinculando o Bolsonaro ao 8 de janeiro, não tem nada que o ligue. É tudo muito frágil, muito tênue.

Como que nós vamos admitir uma condenação?

E aí, só há uma forma de resolver isso: é a anistia. A anistia já, a anistia ampla.

Nós temos que viver num país onde as lideranças sejam respeitadas. Nós temos que viver num país onde as divergências sejam resolvidas na urna.

Deixa o Bolsonaro ir para a urna, qual o problema? Ele é o nosso candidato e eu tenho certeza que, indo para a urna, ele vai vencer a eleição e vai continuar o trabalho que começou. Vai continuar fazendo a diferença.

Nós não vamos aceitar a ditadura de um poder sobre o outro. E é isso que nós precisamos fazer, é isso que nós precisamos defender.

Chega! Chega do abuso! Chega!

Eu tenho certeza que novos tempos virão. Eu tenho certeza que nós vamos celebrar de novo aqui com um líder que vai estar solto, que a justiça vai se restabelecer.

Eu tenho certeza que a gente vai ver a Débora solta. Eu tenho certeza que a gente vai fazer justiça para o Bolsonaro. Eu tenho certeza que a gente vai ver o Bolsonaro disputando a eleição. Eu tenho certeza que os presos políticos vão ser libertos.

Porque o bem vai vencer o mal.

Nós não vamos mais aceitar que nenhum ditador diga o que a gente tem que fazer. Não há mal que dure para sempre. E o bem sempre vence o mal. O bem sempre vai vencer o mal.

Esse movimento aqui é imparável: o movimento do verde e amarelo, o movimento do patriotismo, o movimento da liberdade.

E nós não vamos aceitar mais a imposição de um poder sobre o outro. Nós vamos lutar para que a arbitrariedade tenha fim.

E eu tenho certeza que, em pouco tempo, a gente vai restabelecer a ordem nesse país.

E para encerrar, eu vou encerrar com o bordão do nosso presidente, que falaria aqui com vocês se estivesse conosco.

[…]

Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo nesse país.

E eu vou fazer um apelo: devolvam o passaporte do pastor Silas Malafaia. Devolvam o caderno de sermões do pastor Silas Malafaia. Não é justo tomar o caderno de sermões de um sacerdote.

Tem coisas que não fazem sentido. Mas o que faz sentido é que Deus é justo, que nós vamos vencer.

Que Deus abençoe vocês. Vamos pra vitória. Vamos pra anistia. E eu tenho certeza que nós vamos chegar na anistia.

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Last Update: 07/09/2025