Demissões, suspensão de programas e sucateamento. Esta tem sido a rotina em que convivem funcionários da TV Cultura, administrada pela Fundação Padre Anchieta (FPA). No centro desta crise está o governo de São Paulo, que tem escanteado a emissora quinquagenária com a finalidade de privatizá-la, como denuncia o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo (SJSP).
No mês de setembro, após a demissão de 116 funcionários, foram feitos protestos na porta da TV para denunciar o desmantelo desse patrimônio paulista promovido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Como aponta o sindicato, vários programas foram suspensos: Balaio, Entrelinhas, Estação Livre, Giro Econômico, Legião Estrangeira, Na Cadência do Samba e Negros em Foco.
Desses programas, somente cinco seguem na grade da TV, mas apenas como reprises, o que “enfraquece a TV pública e reforçam o caminho do sucateamento pretendido pelo governo do Estado”, denuncia a entidade de jornalistas
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Como aponta o sindicato, o governador tem sido enfático em dizer que “não há dinheiro para a Cultura.”
Além das demissões e abandono de importantes programas, os funcionários que permanecem tiveram, em algumas oportunidades desde o mês de agosto, atraso de salários.
Isto acontece pois os valores tem sido liberados aos poucos pelo governo, o que atrapalha a condução das atividades.
A TV Cultura hoje conta com 749 funcionários celetistas e quase mil colaboradores em regime PJ (Pessoa Jurídica).
De acordo com o Sindicato, as condições para a continuidade da TV seguem precárias uma vez que o valor da previsão orçamentária passou de R$104,3 milhões, neste ano, para R$109 milhões em 2025.
“O aumento de R$5 milhões cobre os 3% de reposição que o Governo concedeu aos celetistas. Não cobre nem a inflação deste ano e o crescimento orgânico da folha. Para o ano que vem, o Governo do Estado previu zero para o orçamento de custeio, que terá que ser bancado com recursos próprios. Como isso poderá ser feito com queda nas receitas publicitárias? Se o contingenciamento deste ano já resultou em tantas demissões e cancelamentos, sem a previsão de ter dinheiro para o básico, como vamos sobreviver?”, disse Luiza Moraes, representante dos trabalhadores no Conselho Curador e diretora do SJSP.
Em nota em seu site, o Sindicato ainda lembra que o orçamento de 2024 “é menor nominalmente do que o de dez anos atrás, quando foram empenhados R$ 107,8 milhões de repasse à FPA. Com a correção da inflação no período, o valor repassado no ano de 2024 é 45,4% menor do que o de 2014.”
Ao jornal Hora do Povo, o presidente do SJSP, Thiago Tanji, afirmou que acredita em um plano do governo para privatizar a TV Cultura, assim como aconteceu com a Sabesp, ou mesmo, extinguir a FPA.
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“Acho que fica muito claro que a proposta do governo estadual é sucatear a Fundação, tentando piorar suas condições para, como fez com a Sabesp, buscar sua privatização ou mesmo a extinção das fundações”, diz Tanji.
O sindicalista também lembra da privatização da gestão das escolas promovida por Tarcísio como indício do que pode estar por vir.
“A gente viu o que aconteceu essa semana, com as escolas. Você privatizar escolas, colocar a concessão de escolas para uma empresa que gere cemitérios [administrar], revela não só o projeto de extrema-direita, mas obscurantista do Governo Tarcísio” completou o dirigente ao HP.