
Em editorial publicado nesta terça-feira (22), o Estadão detonou Tarcísio de Freitas (Republicanos), acusando-o de ecoar a retórica da “delinquência bolsonarista” ao colocar em dúvida a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro. O jornal também condenou a postura do governador paulista por continuar apoiando Jair Bolsonaro (PL) e sugerir que eleições sem o ex-presidente seriam ilegítimas:
(…) Hoje são os bolsonaristas que se queixam de que a inelegibilidade de Jair Bolsonaro e sua provável prisão privarão os eleitores de escolhê-lo como presidente em 2026. Numa das mais recentes manifestações a respeito, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que “não haverá paz social sem paz política, sem visão de longo prazo, sem eleições livres, justas e competitivas”. A sugestão é óbvia: eleições sem Bolsonaro, insinua Tarcísio, não serão nem “livres” nem “justas” nem “competitivas”. (…)
Aparentemente, contudo, o sr. Tarcísio considera que a esperada impugnação da candidatura de Bolsonaro em 2026 se dará por razões políticas, e não jurídicas, e isso tornará injustas as eleições. Ora, não há notícia de que o sr. Tarcísio tenha considerado injusta a eleição que ele mesmo venceu em 2022. Ou que tenha considerado injusta a eleição de seu padrinho, Jair Bolsonaro, em 2018, a despeito da exclusão de Lula da Silva do páreo.
Não é bom para a democracia que se levantem dúvidas sobre a lisura do Judiciário e das eleições. Discordar de veredictos é totalmente legítimo, mas suspeitar de más intenções, lançando aleivosias, em nada colabora para a “paz social” ou para a “paz política” a que aludiu o governador de São Paulo.
Se está realmente interessado na paz, o sr. Tarcísio, justamente pela responsabilidade institucional que tem, deve colaborar para dissipar as desconfianças lançadas por gente que não tem o menor compromisso com a democracia. Compreende-se que o sr. Tarcísio tem uma dívida com Bolsonaro, pois foi este quem inventou sua candidatura ao governo paulista e o impulsionou para a vitória. No entanto, a gratidão do governador não pode impedi-lo de enxergar o óbvio: Bolsonaro fez e faz muito mal ao País.
Seja movido por fidelidade genuína ou cálculo eleitoral, é deplorável que o governador de São Paulo prefira ignorar a gravidade dos fatos, relativizando, na prática, os crimes de que Bolsonaro é acusado e a independência do Supremo Tribunal Federal (STF) para julgá-lo.
Tarcísio sabe que precisa do eleitorado bolsonarista para viabilizar uma eventual candidatura competitiva à Presidência, mas os valores democráticos e os princípios republicanos não podem ser sacrificados no altar da ambição pessoal. Havia diversas formas politicamente hábeis para Tarcísio demonstrar seu apoio a Bolsonaro, por mais problemático que isso seja, sem que significasse uma afronta ao Judiciário e sem insinuar que a legitimidade da próxima eleição será tisnada caso seu padrinho político não possa disputá-la.
Até o fim da semana passada, Tarcísio vinha navegando relativamente bem no turbulento mar das ambiguidades, de modo a parecer afastado do que há de pior no bolsonarismo sem que isso significasse um rompimento inequívoco com Bolsonaro. Porém, desde quando o clã Bolsonaro passou a atacar o País por meio da incitação do governo dos EUA, o espaço para a tibieza se fechou definitivamente. A escolha era clara: ou bem se está ao lado do Brasil ou de Bolsonaro. Tarcísio, como se viu, não titubeou. (…)
