No dia 14 de agosto, o Talibã completou 3 anos da tomada do poder em Cabul. Os EUA, após destruir o país por 20 anos de guerra, começaram a impor sanções gigantescas e tentar isolar o Afeganistão do mundo. No entanto, essa operação está falhando. Recentemente, até mesmo a Nicarágua abriu uma missão diplomática no país. O Afeganistão tende a ter o seu melhor momento desde que o imperialismo começou a intervir na década de 1980.
Desde o retorno do Talibã ao poder, a ONU não mudou suas exigências para a criação de uma constituição para o país e a melhoria do histórico do movimento em relação aos direitos humanos, especialmente no que diz respeito às mulheres e minorias. No entanto, este ano houve pequenos avanços, sendo o mais notável a participação de uma delegação do governo pela primeira vez nas reuniões de Doa organizadas regularmente pelas ONU para discutir questões afegãs.
Eles participaram da terceira rodada após terem se ausentado das duas anteriores. O encontro contou com a presença de funcionários e diplomatas de 25 países, o que foi visto pela ONU como um progresso diplomático ao convencer o Talibã a se sentar à mesa de negociações e discutir as preocupações da “comunidade internacional”. Por outro lado, o partido considerou isso uma “vitória política” e um “fracasso” nas tentativas de isolá-lo internacionalmente, especialmente considerando que conseguiram impor suas condições na agenda do fórum, excluindo os opositores afegãos e removendo alguns tópicos.
A abordagem da ONU para lidar com o Talibã, que envolve o não reconhecimento diplomático e a limitação da cooperação a programas de assistência humanitária, está alinhada com a estratégia dos Estados Unidos.
Os BRICS entram em cena
As relações instáveis do Talibã com alguns antigos aliados, como Turquia e Catar, são evidentes, já que o movimento desistiu de acordos para que esses países operassem os cinco aeroportos do Afeganistão. O mesmo ocorre com o Paquistão, devido à situação tensa de segurança na fronteira entre os dois países. O Paquistão acusa o Talibã de facilitar o trabalho de grupos terroristas que operam na fronteira e realizam ataques dentro do território paquistanês. Mais provável é que o governo pró-imperialista do Paquistão esteja seguindo os ditames dos EUA.
No entanto, as relações entre o Afeganistão com a Rússia e o Irã, parecem promissoras para o partido. Ambos veem a questão afegã como uma oportunidade para frustrar os esforços imperialistas no país. China, Irã e Rússia se opuseram no final do ano passado a um projeto no Conselho de Segurança da ONU que propunha a nomeação de um enviado especial para a paz no Afeganistão, adotando a posição do Talibã de que essa nomeação seria “uma interferência nos assuntos internos do Afeganistão” e desnecessária após a nomeação de Feridun Sinirlioglu, diplomata turco, como coordenador especial da ONU para o Afeganistão.
No início deste ano, a China aceitou o embaixador do governo do Talibã, cerca de quatro meses após a nomeação de um embaixador chinês em Cabul. Embora isso não signifique um reconhecimento oficial da “Emirado Islâmico do Afeganistão” pela China. O Talibã por sua vez está tomando medidas para evitar confrontos com os Uigures na fronteira.
A Rússia, que é o oitavo maior parceiro comercial do Afeganistão, tem tentado desde a retirada norte-americana em 2021 manter boas relações com todos os lados afegãos, incluindo figuras de oposição ao Talibã, como Ahmad Shah Massoud, líder da Frente de Resistência Nacional. Mas ao mesmo tempo o Talibã enviou uma delegação para o Forum Internacional de São Petersburgo.
De acordo com a revista Foreign Affairs, o avanço das relações de Cabul com a maioria das potências regionais e internacionais vizinhas, especialmente a China, é o “maior sucesso” do Talibã na política externa, “coroando os esforços do novo regime para fortalecer suas interações com esses países”. Já o Stratfor classificou esse avanço como parte do entendimento dos países vizinhos de que a “abordagem de envolvimento diplomático com o movimento é a forma mais barata e eficaz de atender seus interesses estratégicos e resolver suas preocupações de segurança”.
O Talibã assim ganha uma oportunidade para conseguir desenvolver sua economia, a principal questão para o país mais pobre do continente que além disso foi totalmente destruído por 20 anos de guerra imperialista. Nada perto disso aconteceu durante as décadas de intervenção dos EUA.