A promotoria acusou na quinta-feira 22 de assassinato o suspeito de matar a tiros dois funcionários da embaixada de Israel em frente a um museu judaico em Washington antes de gritar “Palestina livre”, um crime que desencadeou tensões internacionais sobre antissemitismo.
Elias Rodriguez, de 31 anos, gritou “Palestina livre” enquanto a polícia o levava após os disparos efetuados na noite de quarta-feira na área externa do Capital Jewish Museum (Museu Judaico da Capital), afirmou a promotoria em um documento judicial.
“Fiz isso pela Palestina, fiz isso por Gaza”, disse Rodriguez aos agentes.
O homem, oriundo de Chicago, compareceu ao tribunal nesta quinta-feira, após receber duas acusações de assassinato em primeiro grau e assassinato de funcionários estrangeiros.
Se for declarado culpado, pode ser condenado à pena de morte.
As autoridades investigam o incidente “como um ato de terrorismo e como um crime de ódio”, afirmou aos jornalistas Jeanine Pirro, promotora federal interina para o Distrito de Colúmbia.
“Suspeito que, na medida em que avancemos, serão adicionadas mais acusações”, acrescentou. Uma audiência preliminar foi marcada para 18 de junho.
Os crimes aconteceram em frente ao museu judaico, a 1,6 quilômetro da Casa Branca, quando era realizado um ato para jovens profissionais e pessoal diplomático.
Israel identificou as vítimas como Yaron Lischinsky, um cidadão israelense, e Sarah Lynn Milgrim, uma funcionária americana da embaixada, e disse que ambos planejavam se casar.
O ataque provocou indignação internacional.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, culpou pelo incidente as críticas europeias a seu país pela intensificação da ofensiva israelense em Gaza.
Segundo ele, existe “uma linha direta que conecta a incitação antissemita e anti-israelense com este assassinato”.
“Esta incitação também é feita por líderes e funcionários de muitos países e organizações internacionais, especialmente da Europa”, acusou.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês, Christophe Lemoine, classificou as palavras de Saar de “escandalosas” e “injustificadas”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, citou “o terrível preço do antissemitismo” e condenou a “incitação selvagem contra o Estado de Israel”.
Pouco depois do ataque a tiros, o presidente americano Donald Trump escreveu nas redes sociais que este foi um ataque claramente antissemita.
‘Assassinos em massa’
O ataque acontece dias depois de o museu receber uma subvenção para reforçar a segurança.
Tudo isso em um contexto de antissemitismo crescente após a devastadora campanha militar israelense de Gaza, provocada por um ataque do grupo islamista palestino Hamas em outubro de 2023 no sul de Israel, onde mataram a 1.218 pessoas e sequestraram outras 251, segundo dados israelenses.
As tensões têm aumentado nos Estados Unidos e em muitos outros países pela campanha de represália israelense contra o Hamas, que causou pelo menos 53.762 mortos em Gaza, segundo os últimos dados publicados pelo Ministério da Saúde do governo do movimento palestino, que a ONU considera confiáveis.
Reino Unido e França, que aumentaram suas críticas às operações de Israel ultimamente, condenaram o assassinato, bem como a Alemanha e os Emirados Árabes Unidos.
Mas, nesta quinta, Netanyahu acusou França, Reino Unido e Canadá de encorajarem os milicianos, ao afirmar que “querem que Israel se retire e aceite que o exército de assassinos em massa do Hamas sobreviva, se reconstrua e repita o massacre de 7 de outubro”.
‘O antissemitismo’
Rodriguez foi visto caminhando do lado de fora do museu antes do ataque. Ele se aproximou de suas vítimas, que estavam de costas para ele, e atirou 21 vezes, conforme consta nos documentos judiciais.
Ele disparou várias vezes contra o casal quando os dois já estavam no chão, e abriu fogo novamente contra Milgrim quando ela tentou se afastar.
Testemunhas contaram que o pessoal de segurança, em princípio, confundiu o homem com uma vítima do ataque e permitiu que ele entrasse no museu, onde inicialmente foi consolado por outras pessoas.
“O fizeram se sentar. ‘Você está bem? Atiraram em você? O que aconteceu?’ E ele respondeu: ‘Que alguém chame a polícia!’”, declarou Yoni Kalin, que estava no museu, à imprensa americana.
Lischinsky era pesquisador na embaixada israelense, enquanto Milgrim trabalhava para o departamento de diplomacia pública, de acordo com seus perfis na rede LinkedIn.
Nesta quinta, um grupo de pessoas se reuniu no museu para cantar e orar.
“Obviamente, a guerra é horrível”, declarou à AFP Gil Livni. “[Mas] o antissemitismo, eu o sinto todos os dias. Pessoas que pensei que eram minhas amigas mostram que são antissemitas. Tornou-se a norma.”
Hadar Susskind, presidente e diretor-executivo do grupo New Jewish Narrative, descreveu o momento como “incrivelmente doloroso… esta não pode ser a resposta”.