O burburinho em relação a uma suposta declaração da primeira-dama, Janja da Silva, em uma reunião com o presidente Lula (PT) e o presidente da China, Xi Jinping, expõe um ministro em particular: Rui Costa

Entre auxiliares do presidente, o chefe da Casa Civil é apontado como o mais provável responsável pelo vazamento da conversa – classificada por Lula como “muito confidencial e pessoal” – à imprensa. Aliados de Costa, por outro lado, enxergam uma tentativa de rotulá-lo como bode expiatório de um incômodo mais amplo com a atuação de Janja. Para eles, sua posição de destaque na estrutura palaciana o torna alvo recorrente de fogo amigo.

É fato, contudo, que o ministro protagoniza episódios de atrito com a primeira-dama – sobretudo quando as opiniões dela prevalecem em decisões do governo. Foi Janja, por exemplo, quem indicou a petista Márcia Lopes para o Ministério das Mulheres, contrariando a preferência de Rui por outro nome.

No início do governo, teria partido de Costa a decisão de barrar a compra de móveis escolhidos por Janja para o Palácio da Alvorada – medida que acabou prevalecendo. Também foi atribuída ao ministro a negativa a um cargo oficial para a primeira-dama. Ainda assim, Janja amealhou uma sala no Palácio do Planalto e mantém um robusto ‘gabinete informal’ – ao menos 12 pessoas, segundo um levantamento recente do Estadão.

Entenda o caso

As quase 25 horas de voo entre China e Brasil serão dedicadas a tentar conter a crise. Colunistas do g1, Andréia Sadi e Valdo Cruz, revelaram que Janja roubou a cena durante o jantar com Xi Jinping ao pedir a palavra para falar sobre o TikTok. Ela teria destacado que a plataforma ‘favorece a extrema-direita’ no Brasil, conforme relato publicado pelo portal.

A atitude teria sido considerada desrespeitosa pelo presidente chinês, e até mesmo a primeira-dama da China, Peng Liyuan, teria se incomodado com a intervenção brasileira.

Nesta seguinte, Lula comentou o episódio e criticou, sem citar nomes, os responsáveis pelo vazamento. “A primeira coisa que eu acho estranha é: como é que essa pergunta chegou à imprensa?”, questionou. “Alguém teve a pachorra de ligar e contar uma conversa que teve no jantar. Uma coisa muito, mas muito confidencial. E muito pessoal.”

O presidente também afirmou que foi ele, e não Janja, quem fez a pergunta sobre o TikTok. “Eu perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar alguém de confiança para discutirmos a questão digital, sobretudo o TikTok. E aí, a Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, especialmente contra mulheres e crianças”, disse.

À CNN Brasil, Janja afirmou ser alvo de machismo e misoginia por parte de quem presenciou e distorceu o relato da reunião. “Vejo machismo e misoginia da parte de quem presenciou a reunião e repassou, de maneira distorcida, o que aconteceu. E vejo a amplificação da misoginia por parte da imprensa, o que me entristece ainda mais por envolver o engajamento de mulheres”, declarou.

Lula se fecha

Diante dos vazamentos, Lula tem restringido cada vez mais seu círculo de confiança no Planalto. Reuniões com dezenas de aliados, comuns nos dois primeiros mandatos, tornaram-se raras.

Para discutir temas estratégicos, o presidente tem consultado apenas alguns ministros, como Fernando Haddad (Fazenda), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Secom) e o próprio Rui Costa. O senador Jaques Wagner (PT-BA) também está entre os interlocutores mais frequentes.

Desde o início do governo, o receio de vazamentos já vinha preocupando o presidente, que costuma repreender assessores – especialmente em relação a informações sobre o desempenho do governo em pesquisas de aprovação.

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Last Update: 14/05/2025