A resposta de Moraes virou meme, mas revelou o compromisso do Supremo em manter o curso diante de pressões e manobras
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) prosseguiu, na segunda-feira (9), com os interrogatórios da ação penal que investiga uma possível articulação para anular os resultados das eleições presidenciais de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre os citados no inquérito estão o tenente-coronel Mauro Cid, ex-assessor especial de Jair Bolsonaro (PL), e o deputado federal Alexandre Ramagem, ambos sob suspeita de envolvimento em um esquema de desestabilização institucional.
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Ao final do dia de depoimentos, um pedido singular feito por Matheus Milanez, advogado do general Augusto Heleno — figura central na apuração — gerou reações variadas entre os presentes. Comedido, o defensor solicitou o adiamento do início da sessão seguinte, justificando cansaço e falta de tempo para alimentação:
“Motivo da minha intervenção é bem pontual. São quase 20 horas da noite, audiência amanhã se inicia às 9 horas. Considerando que temos que chegar meia hora antes, nós viemos em um carro, eu tenho que levar o general para casa, preciso ir para minha casa. Minimamente eu quero jantar, excelência. Eu só tomei café da manhã”, declarou.
A fala provocou sorrisos no plenário, mas também ilustrou as tensões vividas durante o julgamento. O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, respondeu de forma bem-humorada, porém firme:
“Doutor, vamos ver se terminamos amanhã. Daí o senhor tem quarta-feira para tomar um belo brunch, na quinta-feira um jantar, que é dia dos namorados. E na sexta, dia de Santo Antônio, vai comemorar numa quermesse. Se a gente começa a atrasar, a gente não acaba. Dá tempo, o general Heleno vai pedir para o senhor dar uma acelerada no carro. Só não vai ser multado, doutor.”
Apesar do tom leve, a réplica de Moraes reflete a postura do STF em manter o processo em andamento, sem abrir espaço para eventuais estratégias protelatórias. O caso é tratado como um dos mais delicados enfrentados pela Corte nos últimos anos, envolvendo indícios de uma tentativa coordenada de minar a legitimidade das urnas eletrônicas e, por consequência, a ordem democrática.
Na terça-feira (10/6), será a vez do almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, prestar depoimento, em mais uma etapa crucial para o esclarecimento dos fatos. A pressa do tribunal contrasta com os esforços de algumas defesas, que buscam alongar o calendário de depoimentos.
Enquanto isso, o STF reafirma seu compromisso com a celeridade, num momento em que o país acompanha de perto o desfecho de um processo que pode punir condutas consideradas gravíssimas contra o Estado Democrático de Direito.