Senhores ministros do STF, e quando os sindicatos não representam os servidores???

por Eduardo Ramos

A situação de um “grupo” de servidores públicos e seus familiares parece um assunto menor para um blog plural e que trata de assuntos relevantes como esse GGN. Mas… mas… algumas reflexões são importantes se quem tem o poder de representar mais de meio milhão de brasileiros não o faz com toda a honestidade intelectual e competência esperados, gerando DISTORÇÕES PERVERSAS!

Explico: primeiro, o número que parece exagerado, de “mais de meio milhão de pessoas”. É que somos mais de 150.000 servidores entre ativos e inativos no PJU, e segundo estatísticas, as famílias brasileiras têm em média 4 pessoas, sem falar naqueles que ajudam parcialmente no sustento de pais idosos. Segundo, e o ponto central desse artigo, o que quero dizer com sindicatos e/ou federações que “falam em nome da categoria” (sic…), quando na verdade outros interesses podem estar por trás de suas falas e ações. Discute-se nesse momento não só um reajuste salarial, mas toda uma reestruturação nas carreiras do Poder Judiciário da União. Duas brigas feias consomem os servidores nesse momento, e infelizmente alguns dos nossos representantes têm lado e não representam os interesses dos grupos mais fragilizados nessa disputa, em seus encontros com diretores-gerais dos Tribunais ou mesmo com ministros do STF – que muitas vezes não têm como saber dos bastidores dessas brigas internas. A primeira briga é entre os analistas judiciários radicais, que não admitem em hipótese alguma a redução do ABISMO SALARIAL EXISTENTE ENTRE TÉCNICOS E ANALISTAS, e a segunda briga é entre os incorporados e o resto da categoria.

Para os que não sabem, “incorporados” são os servidores que somaram ao seus vencimentos o valor do cargo de comissão que possuíam, desde que completassem cinco anos nesse cargo. No fim da década de noventa essa lei foi extinta, mas não antes de alguns milhares de servidores acrescentarem aos seus salários de mil a dez mil reais.

Qual o motivo da briga? Explico de modo direto e objetivo: estudos econômicos demonstram de modo INEQUÍVOCO que a remuneração por SUBSÍDIO e o aumento do número de padrões de 13 para 20, permitiriam ao STF, DENTRO DO ORÇAMENTO EXISTENTE, conceder aos servidores um reajuste melhor e começar a derrubar o FOSSO SALARIAL INJUSTO E PERVERSO existente, há décadas, entre os salários dos técnicos (mais ou menos 70% da categoria) e os analistas.

Porque os incorporados são contrários ao subsídio??? Porque o subsídio, aos poucos, absorve as incorporações dos incorporados. E um doce para quem adivinhar quem tem voz muito forte nos sindicatos dos servidores… ANALISTAS E INCORPORADOS! As duas categorias que sentem, os radicais entre eles, urtiga e estômago embrulhado só em ouvir falar em DISTRIBUIÇÃO MAIS JUSTA E HONESTA DA VERBA DO JUDICIÁRIO DESTINADA AOS NOSSOS VENCIMENTOS!

Os atuais ministros do STF, aparentemente acordaram para essa realidade e têm agido de modo firme contra as injustiças da estrutura de nossa carreira, reconhecemos isso e agradecemos! Recentemente um Adicional de Qualidade proposto por alguns sindicatos, foi levemente modificado pelo STF e venceu na plenária por 11 X 0 a favor do Adicional, ele tem base única de cálculo, ou seja, não aumentará o FOSSO SALARIAL entre técnicos e analistas. 11 X 0 é definitivo, nos traz esperanças de que, duas décadas depois, as coisas começam a mudar.

Que fiquem atentos os senhores ministros: há sindicatos radicais que não aceitam subsídio, não aceitam aumento do número de padrões, e ainda “exigem” que a proporção salarial de analistas para técnicos caia de 100/60 (a atual, ou seja, para dez mil de um analista, um técnico ganha 6.000,00) para 100/85.  Demagogia, porque os senhores ministros, por boa vontade que tenham, não podem estourar o orçamento e não podem dar “quase nada para os analistas” para atender esse pleito desses sindicatos.

Por outro lado, grupos de analistas e incorporados têm procurado insistentemente os ministros afirmando e exigindo “aumento linear, segundo esses radicais, “o fosso salarial é um choro antigo dos técnicos, eles que façam concurso e mereçam o que ganhamos…” – como falaram nos comentários do meu último artigo aqui no GGN sobre esse tema.

Ambos os lados são radicais E NÃO REPRESENTAM EM ABSOLUTO O QUE DESEJA A GRANDE MAIORIA DOS SERVIDORES.

Permanecer 100/60 a proporção atual, é perverso e injusto, POR UM MOTIVO ESSENCIAL: TODOS FAZEMOS AS MESMAS TAREFAS NO PODER JUDICIÁRIO! O que justificaria um analista ganhar 120.000,00 a mais todos os anos???

Mas erram os defensores de técnicos radicais ao gritarem por “100/85 ou nada”, como erram os ananisltas/incorporados ao desejarem “que tudo fique como está, é correto assim, merecemos mesmo ganhar quase o dobro dos técnicos…”

A sabedoria e a justiça certamente estão, num primeiro momento, no meio termo, algo que modifique a estrutura das carreiras no PJU, concedendo aos técnicos um reajuste um pouco maior do que o dos analistas, permitindo uma proporção em torno de 100/75, só para citar um exemplo.

Acreditem, senhores ministros, há sindicalistas e associações sérios, MAS NEM TODOS!!! Alguns desses grupos/pessoas, DE FATO, não nos representam, apenas querem que o atual status permaneça, por pura conveniência. Outros, sonham utopias inalcançáveis nesse momento! Mais uma vez, NO EQUILÍBRIO ENCONTRAMOS O CAMINHO FACTÍVEL E JUSTO.

Minha gratidão pelos novos ventos que parecem soprar no atual STF.

(eduardo ramos)

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Last Update: 23/06/2025