O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, conclamou os líderes europeus a aproveitarem um “momento único em uma geração” para fortalecer a segurança do continente e reafirmar o apoio à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia. Durante uma cúpula realizada em Londres neste domingo (2), Starmer defendeu maior cooperação militar e a criação de uma “coalizão dos dispostos” para elaborar um plano de paz a ser apresentado ao presidente dos EUA, Donald Trump.

“Estamos em uma encruzilhada na história hoje”, afirmou Starmer. “Este não é um momento para mais conversa. É hora de agir, liderar e nos unirmos em torno de um novo plano para uma paz justa e duradoura.”

Starmer anunciou um acordo que permitirá à Ucrânia utilizar 1,6 bilhão de libras (US$ 2 bilhões) em financiamento britânico para a compra de mais de 5.000 mísseis de defesa aérea. Segundo ele, a Europa precisa assumir um papel de liderança na busca por uma solução para o conflito.

Preocupações com Trump e financiamento da defesa europeia

A cúpula aconteceu apenas dois dias após um embate entre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, e Trump, durante uma visita tensa do líder ucraniano a Washington. Os líderes europeus enfatizaram a necessidade de aumentar os gastos com defesa para demonstrar a Trump que a Europa pode proteger a si mesma.

Com várias nações enfrentando dificuldades financeiras, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sugeriu a flexibilização das regras de dívida do bloco para permitir maior investimento em defesa. “Após um longo período de subinvestimento, agora é de extrema importância aumentar os investimentos por um período prolongado”, declarou.

Starmer destacou três elementos essenciais para um acordo de paz bem-sucedido: armar os ucranianos para fortalecer sua posição, incluir garantias de segurança europeias e garantir apoio dos EUA para impedir que o presidente russo, Vladimir Putin, quebre seus compromissos.

Apesar do apelo para maior autonomia europeia, Starmer negou que os EUA estejam se tornando um aliado menos confiável. “Não há dois países tão alinhados quanto o Reino Unido e os EUA”, afirmou.

Propostas alternativas e plano B para a Ucrânia

Enquanto diplomatas europeus tentam assegurar o apoio dos EUA, discussões sobre um “plano B” ganharam força. A Itália propôs uma cúpula entre União Europeia e EUA para tratar da segurança europeia, proposta apoiada pelo primeiro-ministro polonês, Donald Tusk. Já a Turquia sugeriu liderar negociações de paz diretas entre Rússia e Ucrânia sob sua mediação.

Peter Zalmayev, diretor da Iniciativa para a Democracia da Eurásia, enfatizou a urgência de mais garantias de segurança para a Ucrânia. “Se a Europa não acordou desta vez, nunca mais acordará”, afirmou, de Kiev.

Cúpula em Bruxelas e desafios futuros

A reunião em Londres antecede uma cúpula em Bruxelas, programada para quinta-feira (7), na qual a Comissão Europeia anunciará um novo pacote de defesa para a Europa e a Ucrânia. O pacote visa reforçar as defesas de Kiev e garantir a estabilidade regional diante da incerteza sobre o apoio norte-americano.

A visita de Zelenskyy a Londres seguiu-se a um encontro tenso na Casa Branca, onde Trump e o vice-presidente JD Vance o criticaram por rejeitar termos de trégua propostos e o acusaram de ingratidão. Trump alertou que a postura do líder ucraniano poderia escalar o conflito para uma guerra global.

Apesar das tensões, Zelenskyy insistiu na importância da parceria estratégica entre Kiev e Washington. “Apesar das discussões difíceis, continuamos parceiros estratégicos”, escreveu no X. “Mas honestidade e franqueza são essenciais para entender nossos objetivos compartilhados.”

A resposta de Trump às novas movimentações europeias ainda é incerta, mas a cúpula em Londres deixou claro que os aliados da Ucrânia estão dispostos a agir independentemente do posicionamento norte-americano.

Sem poderio militar para enfrentar a Rússia

Resta saber se a Europa pode defender a si mesma e à Ucrânia, sem os EUA. Altos oficiais militares dos EUA costumam criticar muito os cortes recentes no orçamento das forças armadas britânicas, especialmente no Exército Britânico, que agora tem pouco mais de 70 mil soldados regulares.

De acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, os gastos militares da Rússia agora são maiores do que os gastos totais com defesa de toda a Europa, em termos de poder de paridade de compra. Os gastos russos aumentaram 41% e agora são equivalentes a 6,7% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Em contraste, o Reino Unido gastará apenas 2,5% do PIB com defesa até 2027.

É por isso que Keir Starmer, o primeiro-ministro do Reino Unido, tem pressionado por garantias adicionais de segurança dos EUA, que detêm as forças armadas mais poderosas do mundo.

A Grã-Bretanha não está sozinha no movimento de cortar o investimento nas forças armadas após o fim da Guerra Fria. Mas essa tendência começa a ser lentamente revertida na Europa, com cada vez mais nações ampliando os gastos com defesa.

Mas a Europa, por si só, não seria capaz de fornecer uma força de 100 mil a 200 mil soldados internacionais, que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky sugere que seriam necessárias para impedir um novo ataque da Rússia. Em vez disso, autoridades do continente dizem pensar em uma força de até 30 mil soldados. Jatos e navios de guerra europeus também ajudariam a monitorar o espaço aéreo e as rotas de navegação da Ucrânia.

A Europa não pode igualar as capacidades de vigilância ou coleta de inteligência dos EUA. Mas ela poderia concordar em continuar a fornecer armas à Ucrânia. Embora a Europa tenha ultrapassado recentemente os EUA em termos da proporção de armas fornecidas à Ucrânia, uma fonte garante que os EUA forneceram “o melhor” equipamento — como mísseis de longo alcance e sistemas de defesa aérea.

A França é a única outra grande potência europeia que até agora parece estar disposta a se envolver em operações militares na Ucrânia. Espanha, Itália e Alemanha por enquanto fazem oposição a uma ação dessas. A cada envolvimento europeu no conflito na Ucrânia também aumenta o risco de uma escalada que amplie os riscos para outros países europeus.

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Last Update: 02/03/2025