Um artigo destaca pontos sobre o porquê a maior parte dos livros brasileiros não faz sucesso na China, que tem o maior mercado editorial do mundo.
Confira alguns trechos:
Você já deve ter visto um vídeo de uma americana que descobriu a versão em inglês de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e se apaixonou pela escrita de Machado de Assis. Em resenhas emocionadas, ela conta nas suas redes como o livro de 1881 serviu como porta de entrada não apenas para outras obras de Machado, mas para a literatura brasileira em geral.
Quando vi as resenhas dela viralizando, pensei: por que isso não acontece na China? Certamente não é falta de mercado para a literatura brasileira, especialmente a clássica. A China tem o maior mercado editorial do mundo, além de contar com parques gráficos colossais que servem a editoras de todo o planeta (incluindo do Brasil).
Por lá já fizeram grande sucesso obras de Paulo Coelho, cujo tradutor é tratado como celebridade, e “Meu Pé de Laranja Lima” é, por motivos que desconheço, um best seller atemporal lido por crianças em idade escolar no país afora. Mas à exceção de “Torto Arado”, não me recordo de nenhuma grande obra brasileira que fez sucesso em uma nação que se acostumou a consumir vorazmente os escritos de outros magos da literatura como o colombiano Gabriel García Marquez e o chileno Pablo Neruda.
A resposta para este enigma talvez esteja em uma conversa que tive com um amigo nos últimos dias. Leopoldo Cavalcante é editor da Aboio, uma editora paulistana que em poucos anos de existência já trouxe para o Brasil nomes como o do fantástico escritor modernista chinês Lu Xun.
Leopoldo me relatou alguns gargalos que tem enfrentado para vender autores brasileiros no gigante asiático. Faltam tradutores de português para chinês, um problema crônico no Brasil, que não só não valoriza o mercado editorial como tem apenas um único curso de graduação em letras com habilitação em chinês, oferecido pela USP.
A despeito de alguns programas pontuais oferecidos pelo governo brasileiro para editores e tradutores estrangeiros interessados nas obras nacionais, falta também um esforço consciente para ampliar o alcance de autores daqui. E, sobretudo, falta expertise do mercado privado, mais acostumado com a forma operacional de europeus e americanos, mas pouco afeitos a se aventurar na China —aposta de alto risco, mas com potenciais de alto ganho.
Esta é apenas a ponta do iceberg de um problema que é mútuo: o desconhecimento que Brasil e China têm entre si, a despeito de uma relação econômica e diplomática cada vez mais próxima.
A verdade é que, para o chinês médio, o Brasil permanece um mistério, uma sopa de estereótipos que vão da Amazônia misteriosa ao carnaval e ao futebol. A literatura brasileira, tão rica, poderia ser uma boa janela para nossa cultura e um canal de aproximação entre os países. Para a longevidade das nossas relações e para a quebra de preconceitos, seria bom que cada vez mais autores brasileiros sejam lidos lá —e chineses, aqui.
Há potencial, mas é necessária vontade política. Que para a próxima edição da feira do livro em Pequim e de outras tantas China afora, a Aboio não seja a solitária representante de um universo vasto e prolífico como são a literatura e a cultura brasileiras.