
Por Washington Araújo, jornalista, escritor e professor
A série Teerã, lançada pela Apple TV+ em 2020, transcende o gênero de espionagem, emergindo como um espelho perturbador do conflito entre Israel e Irã. Em 12 de junho de 2025, a Operação Rising Lion desencadeou uma guerra que, em seu sétimo dia, já matou 224 iranianos e 24 israelenses, segundo o Ministério da Saúde iraniano e a NPR.
Com duas temporadas disponíveis no Brasil e uma terceira exibida em Israel pela Kan 11, mas ainda inédita globalmente, a criação de Moshe Zonder antecipa a realidade com precisão quase profética. Israel eliminou 22 líderes iranianos, incluindo Mohammad Bagheri e Hossein Salami, em ataques cirúrgicos.
Agentes do Mossad, infiltrados em Teerã, devastaram infraestrutura militar, combinando inteligência com tecnologia. Este artigo explora a trama, a qualidade técnica e o elenco estelar, conectando 12 falas dos protagonistas a declarações reais de Benjamin Netanyahu, Ayatollah Ali Khamenei, Israel Katz e Mohammad Reza Ashtiani, revelando a linha tênue entre ficção e realidade.
A trama sob pressão
Teerã segue Tamar Rabinyan (Niv Sultan), uma agente do Mossad nascida no Irã, enviada na primeira temporada para desativar defesas aéreas iranianas. Sua missão, que visa facilitar um ataque a um reator nuclear, desmorona, lançando-a em uma fuga desesperada.
“Eu não sou uma traidora, mas também não sou cega. Vejo o que essa guerra faz com as pessoas,” diz Tamar, refletindo o dilema de operar em sua terra natal. A fala ecoa Ali Khamenei, que em 18 de junho de 2025 declarou: “Israel é o inimigo, mas os EUA são o verdadeiro manipulador.” Ambos questionam os verdadeiros adversários do conflito.
Tamar é caçada por Faraz Kamali (Shaun Toub), da Guarda Revolucionária, cuja determinação é temperada por dúvidas morais. “Proteger meu país é meu dever, mas às vezes me pergunto quem é o verdadeiro inimigo,” diz Faraz, uma frase que ressoa com Mohammad Reza Ashtiani.
Em 15 de junho, o ministro iraniano acusou “traidores internos” de facilitar os ataques israelenses, revelando uma paranoia semelhante. A primeira temporada captura a tensão de uma operação secreta em um ambiente hostil. A narrativa reflete as infiltrações reais do Mossad, que em 2025 desestabilizaram o comando iraniano.

Na segunda temporada, Tamar retorna a Teerã para desestabilizar o regime via tráfico de drogas, enfrentando intrigas com Marjan Montazeri (Glenn Close). “Você acha que escolhemos isso? Somos peões em um jogo que não controlamos,” reflete Tamar, espelhando Netanyahu, que em 19 de junho afirmou: “Estamos lutando por nossa sobrevivência, mas o Irã força essa guerra.”
A terceira temporada, adiada globalmente, mostra Tamar combatendo mísseis balísticos, um enredo que ecoa a destruição de 12 lançadores iranianos em 17 de junho. O adiamento, segundo o MacMagazine, reflete o receio de que a ficção seja confundida com o conflito real.
Excelência técnica
A qualidade técnica de Teerã é um dos seus maiores trunfos. Filmada em Atenas, a série recria Teerã com cenários autênticos, usando uma paleta de cores quentes para intensificar a tensão.
A trilha sonora pulsante e a edição ágil mantêm o ritmo eletrizante. Diálogos em farsi, hebraico e inglês reforçam a imersão cultural, enquanto figurinos detalhados ancoram a verossimilhança. No Rotten Tomatoes, a primeira temporada alcança 94% de aprovação, com o The Guardian elogiando sua “narrativa que humaniza ambos os lados.”
Um jornal brasileiro chegou a destacar a reconstrução de Teerã como “um feito impressionante”. “
Cada missão é um risco, mas parar não é uma opção,” diz Tamar, uma determinação que ecoa Israel Katz, que em 19 de junho declarou: “Não descansaremos até neutralizar a ameaça iraniana.”
A fotografia captura a claustrofobia de uma cidade sob vigilância, refletindo o clima de paranoia da guerra real. A série provoca reflexões sobre os custos de um conflito sem heróis claros.

Um elenco de tirar o fôlego
O elenco de Teerã eleva a série a outro patamar. Niv Sultan entrega uma Tamar multifacetada, combinando coragem com vulnerabilidade. Shaun Toub humaniza Faraz, um antagonista preso ao dever. “Você acha que me engana, mas eu vejo a dúvida nos seus olhos,” diz Faraz, ressoando com Ashtiani, que em 13 de junho acusou Israel de “enganar o mundo com sua narrativa de vítima”. Glenn Close, como Marjan, adiciona uma presença magnética. A preparação de Sultan, que estudou farsi e Krav Maga, reflete dedicação.
“Se eu não lutar, quem vai mudar isso?” pergunta Tamar, ecoando jovens iranianos como “Donya”, entrevistada pela BBC, que rejeitam o regime e a intervenção israelense. Atores como Shila Ommi e Shervin Alenabi reforçam a autenticidade.
A química entre os personagens sustenta a narrativa, humanizando um conflito polarizado. “Eles podem nos prender, mas não nossa vontade,” declara Tamar, uma fala que encontra eco em Khamenei, que em 13 de junho afirmou: “Nosso povo resiste, não se rende.”
Raízes da criação
Teerã foi criada para desmistificar o conflito Israel-Irã, indo além da propaganda. Moshe Zonder, em entrevista à Reuters, quis “mostrar iranianos e israelenses como pessoas”. A série reflete a resistência iraniana ao regime, apoiada por pesquisas do GAMAAN que indicam secularização no Irã.
“Às vezes, o maior perigo está dentro de nós,” reflete Tamar, ressoando com Ashtiani, que em 15 de junho alertou sobre “traidores internos”. A narrativa herda a expertise israelense em thrillers de espionagem. Seu apelo global vem da habilidade de equilibrar suspense com questões éticas.
A série mostra jovens iranianos desafiando o regime, ecoando protestos reais de 2022. “O que eu faço aqui vai mudar tudo, ou nada,” diz Tamar, refletindo a ambiguidade de Netanyahu, que em 19 de junho afirmou: “Estamos mudando o Oriente Médio, mas a que custo?” Teerã questiona a moralidade das operações secretas, um tema que ressoa na guerra de 2025. Sua abordagem humaniza ambos os lados, desafiando narrativas simplistas.
Sombras de Teerã na guerra de 2025
A Operação Rising Lion, iniciada em 12 de junho, devastou instalações nucleares em Natanz, Fordow e Arak, segundo a BBC. Bases de mísseis em Kermanshah e Tabriz foram aniquiladas.
Em 13 de junho, Mohammad Bagheri e Hossein Salami foram mortos, conforme a CNN. No dia 15, Ali Shadmani foi eliminado, segundo a OnManorama. Seis cientistas nucleares morreram em 14 de junho. O Mossad, com agentes infiltrados, usou drones para desativar radares e sistemas S-200.
Até 16 de junho, 120 sistemas antiaéreos foram destruídos. “Nesta guerra, ninguém sai limpo. Nem você, nem eu,” diz Faraz, refletindo os 224 mortos no Irã, 90% civis. Netanyahu, em 13 de junho, justificou os ataques: “Fizemos o que era necessário para impedir um Irã nuclear.” A precisão dos ataques lembra as missões de Tamar. A série antecipa a guerra híbrida de 2025.
A guerra de 2025 amplifica as semelhanças com Teerã. Tamar enfrenta as consequências de suas ações, como mortes civis. “Eu não queria isso, mas a guerra não pergunta,” lamenta ela, ecoando os 60 civis mortos em Teerã em 15 de junho. Khamenei, em 18 de junho, condenou Israel: “Eles atacam civis sem remorso.” A segunda temporada reflete a destruição da refinaria de Sharan. A terceira temporada antecipa os 400 mísseis iranianos.
“Quantos mais precisam morrer para provar quem está certo?” pergunta Faraz, ressoando com Katz, que em 19 de junho disse: “Queremos paz, mas o Irã escolhe a guerra.” “Vale a pena sacrificar tudo por uma causa?” reflete Faraz, ecoando Ashtiani, que em 17 de junho admitiu: “Estamos lutando, mas o custo é alto.” Teerã mostra a resistência iraniana, como jovens que desafiam o regime sob bombardeios.
Teerã humaniza um conflito polarizado, mostrando vítimas de um ciclo de violência. A decisão de adiar a terceira temporada reflete o receio de que a ficção seja vista como propaganda. Netanyahu chama o Irã de “inimigo comum”.
“No final, somos todos humanos, mas a guerra nos faz esquecer,” diz Tamar, ressoando com o luto de civis. A série provoca reflexões sobre a guerra.
Teerã é um marco que prevê a guerra de 2025. Sua trama, elenco e qualidade técnica a tornam essencial. A capacidade de espelhar o Mossad e as retaliações iranianas eleva sua relevância. Como Faraz diz, “Nesta guerra, ninguém sai limpo.” Teerã nos lembra que o custo da guerra é humano.