Palestinos carregam caixas de ajuda humanitária em Rafah, na Faixa de Gaza – Foto: AFP

Militares de Israel admitiram ter recebido ordens diretas para atirar contra civis palestinos que esperavam por comida na Faixa de Gaza. Segundo relatos publicados pelo jornal Haaretz, comandos autorizaram o uso de munição letal contra pessoas famintas que buscavam alimentos em centros de distribuição, mesmo sem apresentarem qualquer risco.

Um dos soldados descreveu os locais como “campo de extermínio” e afirmou que entre uma e cinco pessoas eram mortas por dia. “Não tem gás lacrimogêneo, nem balas de borracha. É tiro com tudo: metralhadora pesada, lança-granadas, morteiro”, relatou.

Entre março e maio, Israel bloqueou completamente a entrada de ajuda e mercadorias no território, agravando a crise alimentar dos dois milhões de habitantes do enclave. No fim de maio, começou a operar o Fundo Humanitário de Gaza (GHF), um grupo apoiado por Israel e Estados Unidos, com distribuição limitada de comida em quatro pontos, funcionando apenas uma hora por dia.

Soldados relataram que atiram antes da abertura dos centros, para impedir a aproximação, e também após o fechamento, para dispersar os que continuam no local. “Nossa forma de comunicação é o tiro”, disse um militar. Outro afirmou que, mesmo quando as pessoas se aproximam de longe e não oferecem perigo, são alvejadas. “Não tem troca de tiros. Não tem inimigo. Não tem arma.”

A operação foi apelidada de “Peixe Salgado”, nome de uma brincadeira infantil israelense. Estima-se que ao menos 550 palestinos tenham sido mortos enquanto aguardavam ajuda, e mais de 4 mil ficaram feridos. O jornal informou que a Procuradoria Militar orientou o Mecanismo de Avaliação de Incidentes do Estado-Maior a investigar possíveis crimes de guerra nessas ações.

Profissional de saúde avalia estado nutricional de bebê em Gaza – Foto: Reprodução

Especialistas da ONU acusam Israel de usar a fome como arma de guerra. O Unicef alertou que o número de crianças desnutridas está crescendo rapidamente, com mais de cinco mil casos de desnutrição aguda registrados só em maio entre crianças de até cinco anos.

Quinze organizações de direitos humanos pediram a suspensão das operações do GHF, afirmando que o grupo pode estar envolvido em crimes internacionais. As entidades criticam a falta de transparência e alertam para os riscos de um modelo de distribuição militarizado, que tem exposto civis a mais mortes e ao deslocamento forçado.

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Last Update: 27/06/2025