
Ana Oliveira, para o Pragmatismo Político
Valdir de Oliveira Franco Filho, de 19 anos, alistou-se ao Exército Brasileiro no início de 2025 com o sonho de construir uma carreira e servir ao país. Menos de dois meses depois, saiu do quartel em Barueri, na Grande São Paulo, em uma cadeira de rodas, sem movimentos nas pernas e com o corpo marcado por dores físicas e psicológicas.
A família do jovem denuncia que ele foi vítima de agressões dentro da unidade militar, resultando em um quadro neurológico grave e até hoje sem tratamento efetivo.
Segundo o próprio Valdir, o episódio teria ocorrido no dia 10 de março, quando começou a se sentir mal durante as atividades de rotina. Em vez de receber atendimento médico imediato, ele alega ter sido submetido a humilhações e agressões físicas. Desde então, o jovem relata sintomas persistentes: perda total dos movimentos das pernas, dores intensas na região lombar, além de episódios de vômito com sangue.
Exames realizados no dia 14 de abril detectaram uma condição chamada “sacralização de L5” — uma fusão anormal entre a última vértebra lombar e o osso sacro. Médicos afirmam que a condição pode ser agravada por traumas físicos e comprometer severamente a mobilidade, mas que, com o devido tratamento, há chances reais de recuperação parcial dos movimentos. No entanto, até o momento, o acompanhamento especializado prometido pelo Exército ainda não se concretizou.
“O médico que prometeram nunca apareceu. Só dizem para esperar”, afirma o jovem, que segue sem fisioterapia, exames complementares ou acompanhamento psicológico. A família tem custeado o que pode, mas esbarra na limitação de recursos e na ausência de respostas claras por parte das autoridades militares.
Em nota, o Comando Militar do Sudeste afirmou que Valdir foi atendido após apresentar mal-estar em 12 de março e encaminhado para uma sequência de unidades de saúde — do posto médico do Arsenal de Guerra até o Hospital Militar de Área de São Paulo, onde ficou internado por nove dias. Ainda segundo o Exército, todas as medidas médicas cabíveis foram tomadas. No entanto, não há menção à abertura de inquérito militar para apurar possíveis agressões nem ao cumprimento do protocolo de assistência continuada.
O caso escancara uma ferida antiga das Forças Armadas: a dificuldade em lidar com denúncias internas, especialmente quando envolvem recrutas em posição vulnerável. “Não é apenas sobre um jovem que perdeu os movimentos. É sobre o peso da farda sufocando direitos humanos básicos”, afirma a advogada da família, que já prepara uma ação judicial por negligência e danos morais.
Enquanto isso, Valdir segue recluso, enfrentando as consequências físicas e emocionais de uma experiência que deveria representar orgulho e cidadania. “Eu só queria servir e ajudar a minha mãe. Saí de lá pior do que entrei”, desabafa. A luta agora é por justiça — e por um mínimo de dignidade.
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