
Uma das atrações mais enigmáticas e impactantes do turismo no Japão está no norte do país: são as múmias conhecidas como sokushinbutsu, corpos de monges budistas que passaram por um processo de automumificação enquanto ainda estavam vivos. Atualmente, 16 dessas múmias podem ser visitadas em templos da região de Tohoku, despertando a curiosidade de visitantes do mundo todo. Com informações do jornal Extra.
O que é sokushinbutsu?
Sokushinbutsu é uma prática ancestral ligada ao budismo esotérico japonês, especialmente à escola fundada pelo monge Kūkai. A técnica consistia em preparar o corpo ainda em vida para se tornar uma múmia sagrada, com o objetivo de alcançar um estado de meditação eterna e iluminação espiritual.
O processo de automumificação durava cerca de 10 anos e era dividido em etapas rigorosas. Inicialmente, o monge seguia uma dieta composta apenas por sementes e nozes, acompanhada de atividades físicas intensas, o que eliminava toda a gordura corporal.
Em seguida, por mais três anos, ele consumia apenas cascas e raízes, além de ingerir um chá tóxico feito com a seiva da árvore urushi. A bebida ajudava a eliminar vermes e micro-organismos que poderiam provocar a decomposição do corpo.
A última fase antes da morte
Nos cem dias finais, o monge deixava de se alimentar e passava a beber apenas pequenas quantidades de água com sal. Ele permanecia em meditação constante, focado na salvação da humanidade, à espera da morte. Quando o momento se aproximava, era colocado por seus discípulos em uma caixa de madeira de pinho, no fundo de um poço com cerca de três metros de profundidade.
A caixa era selada com carvão, deixando apenas um tubo de bambu para entrada de ar e um sino, que ele tocava diariamente para sinalizar que ainda estava vivo.
Quando o sino parava de tocar, o tubo era retirado e o poço selado, encerrando o processo. Meses ou anos depois, o túmulo era aberto para verificar se o monge havia conseguido completar a automumificação. Caso o corpo estivesse preservado, ele era venerado como um Buda vivo. Se houvesse sinais de decomposição, o túmulo era fechado novamente, e o monge era respeitado, mas não canonizado.

Onde ver as múmias sokushinbutsu no Japão?
Dos cerca de 28 monges que tentaram o processo de automumificação no Japão, apenas 16 podem ser vistos pelo público. Um dos mais conhecidos é Shinnyokai Shonin, exposto no Templo Dainichi-Boo, no Monte Yudono, uma das montanhas sagradas da região de Dewa Sanzan. Acredita-se que a água local, rica em arsênico, tenha ajudado na conservação dos corpos.
Outros locais que abrigam sokushinbutsu incluem o Templo Nangakuji, nos arredores de Tsuruoka, e o Templo Kaikokuji, em Sakata. Esses locais se tornaram destinos importantes para quem busca experiências espirituais profundas ou deseja conhecer aspectos pouco conhecidos da história do budismo no Japão.
Proibição da automumificação e legado espiritual
A prática do sokushinbutsu foi proibida oficialmente pelo governo japonês no final do século XIX, por ser considerada bárbara e antiquada. No entanto, há registros de que monges continuaram o ritual de forma discreta até o início do século XX. Um dos últimos casos documentados é o do monge Bukkai, que morreu tentando se automumificar em 1903.
Apesar da proibição, o legado dos sokushinbutsu continua vivo nos templos do Japão e atrai estudiosos, devotos e turistas fascinados por essa prática única. Muitos acreditam que os monges buscavam seguir os passos de Kūkai, cuja lenda diz que ele não morreu, mas entrou em um estado de animação suspensa e retornará em milhões de anos para guiar as almas ao nirvana.
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