Nos últimos dias, veio à tona uma polêmica sobre o patrocínio dos Correios a grandes eventos. Um deles foi a turnê de despedida de Gilberto Gil e o outro o festival Lollapalooza. Para o primeiro, a estatal teria gastado 4 milhões e para o segundo, 6 milhões. Ao todo, os Correios teriam distribuído 38,4 milhões em patrocínio durante o terceiro mandato de Lula.
A direita, que não perde tempo, saiu para atacar a empresa, que em 2024 teve um rombo de 3,2 bilhões de reais. Com base nesse rombo, a empresa vem, ano após ano, mantendo o salário dos trabalhadores como o mais baixo entre as estatais. Isso sem contar o sucateamento de benefícios como o plano de saúde, o Postal Saúde, que não recebe repasses desde novembro.
Enfim, o trabalhador dos Correios come o pão que o Diabo amassou há muitos anos. Para piorar, o processo de privatização fez com que a empresa ficasse sem concurso público por mais de 10 anos, o que causou uma terceirização em larga escala, praticamente acabando com funções essenciais, como os OTTs (Operadores de Triagem e Transbordo). Para os trabalhadores, é uma verdadeira calamidade.
Diante disso, como não enxerga o trabalhador notícias como as que citamos acima. Logicamente que não estamos falando de patrocínios que trazem benefícios ao povo como patrocinar modalidades esportivas ou manifestações da cultura popular. No entanto, a direita se aproveitou dessa calamidade para atacar o governo Lula e dizer que há um favorecimento ao cantor e compositor Gilberto Gil.
Não se trata aqui de atacar Gil, mas será mesmo que uma empresa estatal, com os problemas dos Correios, deveria distribuir 4 milhões para um artista que é um figurão, como se diz? Gil realmente precisava desse patrocínio? Obviamente não. Ele conta com muitos patrocinadores, além do mais, o ingresso não é nada acessível ao povo, menos ainda a um peão dos Correios. Em Brasília, por exemplo, não sai por menos de 250 reais o mais barato, chegando a ultrapassar os 2 mil, apenas para pegar um exemplo.
A direita se aproveitou do caso Gilberto Gil porque quer relacionar o cantor ao PT. Mas escandaloso, e muito, é o caso do Lollapalooza. Aqui sequer se trata de um artista brasileiro, aqui estamos falando de um grande empreendimento capitalista internacional, com bandas que, em sua maioria, não passam também de grandes empreendimentos. Os ingressos têm preços exorbitantes.
O que os Correios ganham com tudo isso? Melhorar sua marca? Mas a marca Correios é muito conhecida e a empresa sempre foi uma das mais respeitadas do Brasil. Foi o sucateamento das políticas de privatização que tem reduzido essa boa impressão. Bastaria, no entanto, contratar mais funcionários e melhorar o serviço da empresa.
Parece-nos que uma empresa pública teria o dever de patrocinar manifestações culturais e esportivas que realmente sirvam aos interesses da população. Não é o patrocínio em si, o problema.
Sequer tenho a pretensão aqui de discutir os detalhes dos patrocínios dos shows de Gilberto Gil e de Lollapalooza. Mas a empresa ao menos deveria ter uma boa explicação. Se não tiver, não adianta depois reclamar do trabalhador, que está cada vez mais esmagado, de ficar insatisfeito com o governo.