No dia 26 de julho, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos divulgou o Relatório Agregado das Empresas Estatais Federais 2024, com base em dados de 2023. O relatório informou que o faturamento das estatais brasileiras alcançou 1,25 trilhão de reais, com um lucro líquido de 197,9 bilhões. O Banco do Brasil registrou um crescimento de 9,1%, a Caixa, 20%, e a Petrobras, que bateu recordes de produção, apesar da queda na cotação global do petróleo. O desempenho representou 5,75% do Produto Interno Bruto em 2023.
No entanto, apesar destes números robustos, o editorial da Folha de S.Paulo exigiu a privatização das três empresas públicas. O subtítulo do texto era messiânico, mas não fez qualquer referência ao relatório do MGI, que está público há um mês.
O editorial me lembrou de argumentos do início do século XX, quando as elites brasileiras e consultores internacionais diziam que não havia petróleo explorável no Brasil. A Petrobras, porém, surgiu, avançou e hoje ocupa lugar entre as maiores petrolíferas do mundo.
Também não é um segredo que parte da mídia hegemônica brasileira abraçou o ideário neoliberal. Mas os fatos são os fatos, e ao mesmo tempo em que apontam o valor estratégico de empresas públicas como Petrobras, Caixa e BB, também mostram o que acontece quando o privatismo canibal avança sobre o bem público.
Um exemplo é a privatização da Petrobras, que gerou um novo grupo de oligarcas na Rússia pós-União Soviética, e a queda na produção na Argentina. Já na Inglaterra, a BP, privatizada entre 1979 e 1987, tornou-se um monstro que gerou desemprego e é alvo de múltiplos processos judiciais.
Thatcher, a grande ideóloga do neoliberalismo, não viveu para ver os resultados de outro grande processo de privatização no Reino Unido. Trinta e cinco anos após grupos particulares assumirem companhias públicas de água e esgoto, a população enfrenta uma infraestrutura sucateada.
Já as estatais brasileiras têm se mostrado estratégicas para o plano de reconstrução do governo Lula. São essenciais para a execução do Novo PAC, com cerca de 20% dos investimentos previstos em infraestrutura e desenvolvimento. No ano passado, os bancos públicos voltaram a oferecer crédito de forma responsável, em linha com os principais programas governamentais, reativando investimentos de longo prazo.
Ainda assim, com todas as evidências em contrário, a Folha exige a privatização geral e irrestrita das empresas públicas. O que explica desejo tão anacrônico? É hora de estarmos atentos: uma aliança semelhante entre o reacionarismo deixou nossa democracia à beira do colapso há pouco tempo e levou o País de volta ao mapa da fome.
O zumbi do neoliberalismo continua à solta, agora em simbiose com a extrema-direita, cuspindo ódio, fake news e editoriais estranhos. Cabe a nós fazer a defesa do patrimônio público brasileiro e oferecer uma alternativa à assombração neoliberal que seja vibrante, criativa e diversa.
O que nos move é a possibilidade de construção coletiva de um futuro mais justo, digno e próspero para todos, não apenas para um pequeno grupo de parasitas e oportunistas.